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Críticas

Cineplayers

Mesmo que extrapole na premissa, drama romântico encanta por poucos, mas cruciais motivos.

6,0

“O amor, o amor irá nos separar novamente...”

É um trecho da depressiva Love Will Tear Us Apart, do grupo britânico Joy Division, que embala a primeira dança de Henry e Clare, casal que está ciente das adversidades que pontuarão suas vidas, mas que mesmo assim se casam por um sentimento maior. Justamente o amor. Mas o amor não irá os separar novamente - pelo contrário, é o que mantém o casal unido. O que separa Henry e Clare é um problema genético do primeiro, que o faz viajar no tempo contra a sua vontade.

É com uma premissa um tanto absurda que se inicia Te Amarei Para Sempre, filme adaptado do romance The Time Traveler’s Wife, ou A Mulher do Viajante do Tempo, escrito por Audrey Niffenegger. Na ficção, Henry, com uns 40 anos, volta ao passado e tem seu primeiro contato com Clare ainda criança, quando a mesma fica encantada por ele e por seus “poderes”. Conforme vai crescendo, Clare desenvolve uma grande paixão por Henry e a recíproca acontece, embora os constantes saltos no tempo façam com que ela fique perdida e o veja apenas esporadicamente – até que encontre o Henry que vive em seu tempo presente.

Qualquer sinopse mais detalhada parece confusa e o filme também se torna, conforme passa a explicar, sem necessidade, a fantasia que envolve os deslocamentos temporais de Henry pelo ponto de vista científico. Tudo, claro, pode ser facilmente superado já que o interesse do espectador se foca na complicada relação entre os protagonistas, o que acontece facilmente já que ambos são bons personagens beneficiados pelo universo para o qual foram desenvolvidos – e não o contrário. Mas quando se tenta compreender as explicações para as viagens no tempo de Henry se descobre uma série de lacunas que sequer foram problematizadas, sendo que o romance de Niffenegger e também o filme poderiam deixar de lado as justificativas científicas – e muito furadas! – para terem apenas o relacionamento do tal casal bastante singular como tema.

Tais problemas poderiam ser corrigidos no roteiro de Bruce Joel Rubin, que possui o correto Ghost – Do Outro Lado da Vida no currículo. Rubin peca em pontos essenciais da história que adapta, como nas já mencionadas explicações quanto à doença de Henry, mas também no intrincado vai-e-vem temporal, que torna a experiência de Te Amarei Para Sempre um pouco mais cansativa.

Mas nem só de erros o roteiro de Rubin é composto, e o mesmo deve ser elogiado por utilizar com inteligência a dinâmica do envolvimento de Henry e Clare, que remete ao recente O Curioso Caso de Benjamin Button pelos encontros da pequena garota com o homem mais velho e, posteriormente, da mulher madura com o mesmo homem, agora jovem. Rubin também acerta quando insiste em demonstrar que, quando Henry viaja ao futuro e fica ciente de alguma informação que não tinha anteriormente e a traz de volta ao passado, a mesma perderá seu crédito. Para explicar melhor: ele descobre o nome de sua filha no futuro e o conta para a esposa, fazendo com que nunca saibam quem foi que escolheu o nome da garota, o que acontece também quando ambos procuram pela casa onde irão morar.

Ainda sobre Rubin, um erro terrível por sua parte que poderia ser evitado, acontece quando o mesmo passa a explorar a personagem Alba. A entrada desta na história, já no terceiro ato do filme, faz com que Henry e Clare tenham menos tempo juntos em evidência, o que tira parte da força tão grande que o relacionamento do casal tivera até tal momento. Outro problema de Te Amarei Para Sempre está na previsibilidade de alguns acontecimentos, inclusive no final da trama, que é denunciado pelo filme muito cedo, em tempo suficiente para se perder parte do interesse na resolução do mesmo.

Mas ainda que conte com tais imperfeições – e essas não são poucas ou passíveis de relevância – Te Amarei Para Sempre é um filme com qualidades inegáveis, que encanta e comove sem muitos artifícios pretensiosos. A fotografia do alemão Florian Balhaus é um dos pontos altos do filme, que imprime um visual triste e nostálgico ao mesmo, assim como o trabalho competente de Robert Schwentke, diretor da produção, que foge das fórmulas dos filmes do gênero e acerta com suas gruas e travellings interessantes e funcionais.

Ainda em Te Amarei Para Sempre se deve ressaltar a escolha muito correta dos intérpretes de Henry e Clare – ponto crucial para filmes românticos que tem foco tão grande em um número reduzido de atores. Eric Bana aparece bastante estável e dá o tom certo a Henry, mas ainda melhor está Rachel McAdams, que consegue maior destaque no filme – fazendo jus ao título original do mesmo: A Mulher do Viajante do Tempo – através de uma atuação cativante e bastante contida, como demonstra durante todo o filme. É necessário esperar para ver se a atriz canadense continuará conseguindo papeis que aproveitem seu potencial e sua grande versatilidade.

Alternando momentos ora desnecessários, ora interessantes (como quando apresenta oportunamente um pequeno trecho de Vitória Amarga, com Bette Davis), Te Amarei Para Sempre fica acima da média dos romances dramáticos por procurar fugir da fórmula muito utilizada em tais filmes, deixando o açúcar de lado para apostar num tom mais sério e em seus personagens.

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