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Críticas

Cineplayers

Um desnecessário emaranhado patriota de histórias contra os ilegais que moram nos Estados Unidos.

4,0

Crossing Over foi, originalmente, um curta-metragem dirigido pelo próprio Wayne Kramer em 1996, focando a história de um agente federal de imigração, Max Brogan, que trabalha na deportação de ilegais dos Estados Unidos e acaba se contagiando com Mireya Sanchez, uma mexicana que, durante sua deportação, pede para que ele ache seu pequeno filho. Refilmado treze anos depois com o mesmo título, lançado como Território Restrito no Brasil, o filme expande a história original, porém de forma desastrosa e incompetente, ao inserir várias outras etnias e suas lutas para conseguir o green card do país – o famoso sonho americano.

Tentando ser um novo Traffic ou Crash - No Limite, ao abordar o problema da ilegalidade nos EUA, este ramificado de histórias é tão embolado que fica óbvia a linha principal, que é a história de Max, quando ela deveria ser apenas mais uma perto da estrutura que o filme desejava alcançar. Há a australiana que tenta o sucesso em filmes, a africana sem pais aguardando adoção, o coreano que se mete com as gangues, muçulmanos, mexicanos, enfim, uma salada de frutas tão confusa que sua óbvia metáfora das emboladas vias de estradas de Los Angeles que o cineasta insiste tanto em mostrar representa bem, de maneira negativa, a estrutura que o filme desejava alcançar. Aquelas vias são realmente impressionantes, mas ele as mostra tanto, mas tanto, que vai chegar um momento em que você estará pensando e com vontade de dizer a Kramer: “ok, já entendi a metáfora”.

E ao dar atenção demais ao personagem de Harrison Ford, Max, é que o diretor comete seu erro mais grave: ele tem uma significância muito grande dentro da proposta, diminuindo demais as participações dos outros personagens na trama e tornando sua história por demais desinteressante. Quem consegue ganhar um pouco mais de destaque dentro de tanta soberania são os personagens de Cliff Curtis, Hamid, muçulmano que trabalha com Max, e Ray Liotta interpretando Cole Frankel, o funcionário que trabalha diretamente com green cards nos EUA e que acaba se envolvendo com Claire Sheepard (a estupidamente bonita Alice Eve; loira, olhos claros, parecida com as citadas no longa Nicole Kidman e Naomi Watts, em ofensa-referência “vocês são todas iguais, ou querem ser”).

Todas as outras histórias – todas mesmo – são mal aproveitadas e encheção de lingüiça. Mesmo Ashley Judd, uma atriz também de renome e talento, fica em segundo plano como Denise Frankel, esposa do personagem de Liotta, que aparece vez ou outra apenas para dizer o quanto é boazinha e se preocupa com os outros, sempre com um sorriso angelical em face. Até a participação de Alice Braga é pequena demais, apesar de sua personagem ter um importante papel emotivo dentro do longa-metragem como um todo, interpretando a mexicana que some logo nos primeiros cinco minutos.

Na tentativa de causar impacto, o diretor insere algumas cenas polêmicas, como a menina muçulmana que simpatiza com as causas suicidas de 11 de Setembro. Mais um ato falho. A menina é irritantemente inocente, causando um mal tão grande a sua família que fica difícil simpatizar e sentir pena por ela. E chegamos, mais uma vez, a outra falha grave do filme: ao contar várias histórias, simplesmente não nos cativamos com os personagens secundários (que, pela proposta, não deveriam ser chamados assim), o que torna praticamente impossível de engolir tudo o que eles têm a mostrar. Espere por tentativas de emoções baratas , música melosa, lágrimas e violência. Há muito disso por aqui, mesmo que de forma forçada e gratuita, só para encerrar (mal) o que havia iniciado nos longos minutos anteriores.

A impressão que fica é que, na tentativa de fazer um longa sério, informativo e engajado, Kramer perdeu o fio da meada e entregou algo chato, centralizado demais, desnecessariamente longo. Faltou talento. Ou experiência. E o resultado final só não foi pior por causa da intervenção dos produtores, que reduziram meia hora de filme (contra a vontade do diretor, sob ameaça de mandá-lo direto para DVD, mesmo que o corte final fosse de Kramer) para tentarem deixá-lo mais assistível. Não deu, Território Restrito é ruim e deve funcionar muito, mas muito melhor no seu curta do que em sua versão longa e mal realizada. O roteiro deveria ter sido mais polido, passado por diversos tratamentos, antes de ser filmado e exibido como produto finalizado.

É um grito americano de “vejam como somos bons, desejados, todos querem ser como nós, viver entre nós; nós damos mais oportunidades, melhores condições de vida para esses povos terceirizados.” Sim, a palavra usada é ‘terceirizados’. As pessoas felizes, batendo palmas, das mais diversas, ao som do hino nacional americano e uma imensa bandeira azul, branca e vermelha ao fundo provam bem, de forma caricata e previsível.

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