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Críticas

Cineplayers

Apesar de alguns problemas, é o melhor filme baseado em um game lançado até hoje.

6,0

A primeira idéia que vem à cabeça quando o assunto é adaptação de um videogame para a tela de cinema é a de rejeição. Os inúmeros projetos transpostos, quase em sua totalidade ambiciosos, revelaram-se fiascos absolutos, mesmo que alguns tenham obtido bons resultados em bilheteria, como os dois Tomb Raider (que só valem mesmo por causa de Angelina Jolie, perfeita no papel da heroína Lara Croft) e as duas animações baseadas em Final Fantasy.

O fato é que a indústria de jogos eletrônicos, que hoje tem arrecadação bem maior que a indústria de filmes, vem pegando emprestado do cinema características como apuro visual e roteiros bem trabalhados, mostrando que seu futuro é ilimitado e imprevisível. Já o cinema encontra dificuldades em transpor para a telona os jogos, geralmente desagradando a aficcionados e a leigos (classificação na qual me incluo).

É nesse cenário que apareceu Christophe Gans, cineasta francês de excelente domínio técnico (demonstrado em seus filmes anteriores, Combate – Lágrimas do Guerreiro e O Pacto dos Lobos), fascinado pelo jogo Silent Hill e que não mediu esforços por durante cinco anos para conseguir ser aprovado no comando criativo da produção. Com tanta dedicação e vontade de acertar, Gans entregou o que considero ser a melhor transposição game-cinema até o momento.

O filme começa apresentando a família Da Silva, que sofre com um problema perturbador: a filha Sharon (Jodelle Ferland) sofre inexplicáveis ataques de sonambulismo, que vez por outra colocam sua vida em risco. Durante esses ataques, um fato chama ainda mais a atenção: a menina sempre balbuciona as palavras "silent hill" (colina silenciosa, na tradução literal). Contrariando recomendações médicas, os Da Silva não fazem uso da internação psiquiátrica e buscam uma pista para solucionar o caso, que acaba sendo encontrada na internet: uma cidade fantasma, homônima às enigmáticas palavras da menina, existe no interior dos Estados Unidos – você, espectador, tente abstrair a [falta de] lógica disso tudo. É para lá que a mãe Rose (Radha Mitchell, de Melinda e Melinda) vai, carregando a filha a tiracolo, para desespero do pai, Christopher (Sean Bean), que é contrário à decisão.

O que Rose não contava é que, próxima das imediações da tal cidade abandonada, sofresse um acidente causado por uma estranha figura. Ao recuperar os sentidos, descobre que Sharon está desaparecida, e parte então em uma busca desesperada para reencontrar a filha perdida, auxiliada por Cybil (Laurie Holden), policial de uma cidade vizinha. 

É uma legítima viagem ao inferno, conduzida com destreza por Gans, que se utiliza de todo o aparato tecnológico disponível, que auxiliado por uma direção de arte inspirada e fotografia claustrofóbica, cria o clima mais adequado possível para um filme que assusta, e muito. Detalhe para a trilha sonora, quase que totalmente retirada do próprio game (a única exceção é a canção Ring of Fire, de Johnny Cash).

Uma pena que todo esse cuidado estético sustente um roteiro de diálogos ruins, que segue uma estrutura esquemática, quase que como um desafio de videogame: a heroína vai atrás de uma pista; ao consegui-la, vai atrás de outra, e assim sucessivamente. Intencional? Claro, mas não funciona, até porque acaba tornando o filme confuso e atravancado. Outro problema grave é que alguns dos mostros mostrados não são realistas, perdendo impacto (outros, porém, são assustadoramente críveis). A despeito desses problemas, é um filme acima da média e que cumpre o objetivo. E o final, absolutamente em aberto, deixa brecha para uma continuação.

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