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Críticas

Cineplayers

Drama romântico acumula erros que quase atrapalham seus acertos: Dustin Hoffman e Emma Thompson.

5,0

Quando Mais Estranho Que a Ficção foi lançado, um de seus principais problemas, além de Queen Latifah, era o de não colocar em uma mesma cena por tempo suficiente os atores Dustin Hoffman e Emma Thompson. Pois é com essa espécie de correção que surgiu Tinha Que Ser Você, drama romântico que pode não propor uma premissa fascinante e inventiva, mas que já agradaria por contar com dois excelentes intérpretes, que em muitos outros projetos recentes foram mal aproveitados.

Elevados à posição de protagonistas em um filme aparentemente feito sob medida para ambos, os atores são, infelizmente, um dos poucos acertos deste drama de Joel Hopkins. É uma pena perceber que um filme com notável potencial tenha sido mal desenvolvido, uma vez que seu diretor, se tivesse se limitado à simplicidade e compreendido os atores que tinha em mãos, assim como o texto, que ele próprio escreveu.

A tal última chance de Harvey, indicada no título original da produção, na realidade diz respeito a duas coisas. A primeira última chance, se assim se pode dizer, faz menção ao seu trabalho como compositor de jingles para comerciais, e a necessidade de conseguir fechar negócio com uma grande empresa. A segunda última chance acontece quando o mesmo vai até Londres para o casamento de sua filha e, se sentindo cada vez pior por ser aparentemente ignorado por todos, conhece a encantadora Kate Walker - que divide o sobrenome com o Johnnie que Harvey pede ao garçom no momento em que os dois passam a se conhecer melhor em um restaurante.

O que se desenvolve no filme até este ponto é a realidade latente de seus protagonistas: ambos possuem problemas em relacionamentos, dos mais variados tipos. Kate, que tem uma estranha relação com sua mãe, se mostra sem graça e se esquiva até mesmo quando é cantada por um vizinho. Harvey, por sua vez, não é mais bem sucedido em suas investidas, no momento em que acaba ignorado quando tenta puxar conversa com uma estranha no seu vôo para Londres. Não é gratuitamente que, quando Kate e Harvey se cruzam pela primeira vez, o mesmo se desvencilha dela, que apenas gostaria de fazer algumas perguntas a ele, parte de sua profissão. Os dois sofrem por se perceberem constantemente sozinhos, mesmo quando estão cercado por várias pessoas, e isso se constata no encontro às escuras de Kate, ou no jantar que acontece antecedendo o casamento da filha de Harvey.

Quando ambos se cruzam novamente, tudo o que têm em comum é a insatisfação total com aquilo que os cercam: Kate não se deu bem em seu encontro e sua mãe continua a incomodar, enquanto Harvey foi despedido e acabou de descobrir que sua filha prefere que seu padrasto à leve até o altar no lugar do próprio pai. O que se segue a essa troca de lamentações é uma espécie de Antes do Amanhecer trinta anos depois, com dois personagens trocando suas experiências, desilusões e, obviamente, os flertes que os unem como casal enquanto o roteiro se desenvolve.

Mas o supracitado filme de Richard Linklater acerta no que Hopkins ousa ignorar, que é aceitar que a força para seu filme está no desenrolar da conexão e relação dos personagens e, obviamente, na interpretação de seus atores. Enquanto Linklater conseguiu sucesso até mesmo em terreno pouco confiável, ou seja, com uma sequência tão apreciável quanto o filme que a originou, Hopkins merece apenas ser culpado por não ter capacidade suficiente de desenvolver um drama sem o mergulhar em uma série de convencionalismos baratos do gênero, passando pelas subtramas descartáveis, caminhando por coadjuvantes inverossímeis e, por fim, cedendo a reviravoltas desnecessárias, que em nada acrescentam em seu filme, a não ser à metragem do mesmo.

Tinha Que Ser Você, título oportunista e nada justificável recebido no Brasil pelo filme, é agraciado apenas pela capacidade incrível de Dustin Hoffman e Emma Thompson em desenvolver seus personagens de forma única e, quase que em totalidade, se sobreporem aos já mencionados erros de condução evidentes na produção. De qualquer forma, o filme têm seus méritos por dar espaço aos dois excelentes atores que, preenchendo a tela em quase toda a duração do longa, fazem com que o mesmo se torne, antes de tudo, tolerável.

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