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Críticas

Cineplayers

Resgata um pouco o humor do primeiro filme, com algumas boas sacadas e um trailer que quase estragou tudo.

6,0

Depois do desastre que foi Todo Mundo em Pânico 2, já estava desacreditado na franquia. Isso porque o primeiro é ótimo, ressuscitou muito bem um gênero que fez muito sucesso nos anos 80 e 90, mas que andava meio sumido: a comédia pastelão. Só que tudo o que o primeiro tinha, uma linha de piadas que criticavam bem seus filmes escolhidos além de manter o clima de terror que as obras originais haviam criado, o segundo pôs a perder. Tudo ficou mais escrachado, as piadas não tinham quase referência nenhuma com às obras satirizadas, o que deixou o filme chato e sem identidade. Foi quando tive uma bela surpresa ao assistir ao terceiro filme da série, onde essa mesma identidade do primeiro foi resgatada, mas com menos impacto.

Claro que para esse tipo de filme ser bem aproveitado, é necessário que você tenha visto as obras originais em que ele está se baseando, senão muitas das piadas – e críticas – não serão captadas. E os filmes escolhidos para essa versão não tiveram o mesmo impacto que Pânico teve na época, mas são obras atuais e que fizeram bastante sucesso recentemente: Sinais, O Chamado, Matrix e 8 Mile são os principais alvos (há referências menores a O Senhor dos Anéis e a Os Outros em certos momentos). É bem fácil perceber quando estão falando de um filme ou de outro. A história criada para a terceira versão foi uma emenda de todos os filmes citados, então já dá para se ter uma idéia da bagunça que deve ter ficado, certo?

Bom, é claro que a ligação entre as histórias ficou bem forçada. Praticamente recriando tudo o que os originais eram, temos apenas alguns pontos de junção entre os filmes. Inclusive alguns sustos foram reaproveitados aqui, e a fotografia está idêntica (realçando muito essa parte) aos filmes de origem. Nas partes de O Chamado, temos uma fotografia escura, com as partes da fita em preto e branco exatamente como no filme sério. Em Sinais, a luz, os enquadramentos, tudo é idêntico ao filme do Shyamalan. O mesmo inclusive não escapa da zoação, sua participação em Sinais é completamente satirizada aqui, e possivelmente não poderá ser vista mais de maneira séria no futuro. Os cenários são idênticos, e algumas lógicas são criticadas, como por exemplo em O Chamado, quando uma das personagens diz em uma cena recriada do filme: “uma casa deste tamanho e só tem um telefone?”. Enfim, os fãs mais árduos dos filmes podem ficar até ofendidos, mas foram situações bem colocadas e inteligentes.

As piadas que menos gostei foram as que levavam pro lado do exagero físico algumas ações dos personagens, como pancadas, tropeções, essas coisas. Já estou de saco cheio de filmes de comédias que não cansam de inserir esses exageros para crianças de cinco anos rirem, sendo que elas nem tem faixa etária para verem esse tipo de filme. As partes do 8 Mile são muito ruins também, tirando a referência – que muita gente no cinema não entendeu – ao grupo racista KKK, essa sim hilária. O maior problema das piadas aqui, sem dúvida, é o que vem acontecendo recentemente com todos os filmes de comédia: a maioria dos bons momentos são mostrados no trailer. A parte do Michael Jackson, que deu toda aquela confusão com o processo, foi estragada pelo trailer. Mesmo a cena não sendo só aquilo que foi mostrada (sacaneando Os Outros), ela perdeu o impacto e a maioria das partes engraçadas por causa disso. É um defeito fácil de ser sanado, não é possível que ninguém perceba que mostrar tanto no trailer é ruim.

Quem comanda toda essa bagunça é David Zucker, o mesmo por trás dos excelentes Corra que a Polícia vem Aí 1 e 2 e Top Secret, ou seja, já tem experiência no gênero. Vai ver foi por isso que o filme resgatou muito do que havia se perdido e já é nome certo para dirigir o quarto episódio da série, que sairá ainda esse ano. Tudo bem que, tirando as horas realmente engraçadas, o filme fica um pouco arrastado e soa claramente de forma estranha. Pensei um pouco e cheguei a uma opinião sobre o porquê de sentir isso: no primeiro longa, os filmes criticados eram muito parecidos, então o choque das ligações nas histórias ficava bem mais camuflado, mas misturar os títulos como este terceiro filme, da forma como foi feito, é normal que soe nesse sentido, afinal, são temas muito diferentes, o que deixa certas partes meio deslocadas. Porém, por causa de uma cena ou outra, salva-se completamente da tragédia que se era esperada. Aliás, esse é um dos motivos para ter curtido bem o filme: simplesmente não esperava nada dele.

Os atores escolhidos para representar os papéis também são velhos conhecidos das paródias: Leslie Nielsen, que protagonizou diversos títulos do gênero – inclusive os já citados Corra que a Polícia Vem Aí -, Charlie Sheen, de Top Gang 1 e 2 (eu amo esses filmes!), e Anna Faris, bem diferente dos dois primeiros filmes, loira, parecendo mais com Naomi Watts. Há diversas pontinhas, mas a mais marcante é a petulância de Pamela Anderson na abertura do filme (impossível não fazer o trocadilho). O pequenino Drew Mikusha realmente lembra o menino de O Chamado, inclusive no modo de falar, e passa o tempo inteiro tomando porrada. Justamente um desses momentos, que o trailer fez o favor de não estragar, é um dos melhores do filme inteiro, quando um rapaz o tenta salvá-lo com um machado. Obviamente não irei contar a cena, mas que ela é muito engraçada, isso é.

Todo Mundo em Pânico 3 não é um filme muito bom, mas também não é a tragédia que todos esperavam. Com um diretor competente, elenco afinado e experiente, um roteiro absurdo (mas que consegue arrancar algumas sinceras risadas) e momentos que valem a pena o ingresso, é uma boa distração para um final de semana sem grandes opções novas. Se estiver afim de umas risadas bem descompromissadas com a galera, essa é a opção certa, mas não esqueçam da pequena fórmula: sem grandes preceitos ao se dirigir ao cinema.

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