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Críticas

Cineplayers

Apesar do excesso de zelo técnico e falta de desenvolvimento de personagens, o novo trabalho de Kaige é muito bom.

7,5

O cineasta chinês Chen Kaige consagrou-se internacionalmente ao vencer o Festival de Cannes com Adeus, Minha Concubina (1993), o épico de três horas que conta a história de amor entre dois atores homens, um deles, o gay, especializado em papéis femininos, em plena época da repressão de Mao e sua Revolução Cultural. Era então um dos primeiros filmes a criticar abertamente o regime chinês e o principal líder comunista, até há pouco considerado um gênio por uma parte da inteligentsia européia – Jean-Luc Godard, por exemplo.

Kaige nunca mais fez um filme que impressionasse tanto. Seu Temptress Moon (1996) foi considerado maneirista e sua incursão em Hollywood (Mata-me de Prazer, 2002) foi um fracasso. Voltou para a China e fez uma obra enigmática, A Promessa, destruída pelos críticos e desprezada pelo público. É de se perguntar o que aconteceu. Como um cineasta tão promissor pode ter dado em nada? Teria sido Concubina super valorizado?

A resposta talvez esteja nesse seu pequeno O Virtuose (Together é o título em inglês, Virtuose é a tradução do título em francês), disponível no circuito de festivais e mostras que rodam o mundo esse ano, mas com pequenas chances de ganhar distribuição comercial. Trata-se de uma tocante e singela obra, narrada aos tropeções, sobre um menino de 13 anos, virtuose no violino, cujo pai, analfabeto e simplório, de tudo faz para que ele estude com os melhores professores de Pequim.

Kaige está em tudo fora de seu ambiente. Primeiro fala da China contemporânea; segundo, o registro da primeira parte do filme é a comédia. Foca a classe média chinesa, endinheirada, cosmopolita e sofisticada, com seus mais de 200 mil alunos de música clássica espalhados pelo imenso país e suas inúmeras salas de concerto, a maioria brilhando de novas.

O menino, para se tornar um grande artista, vai morar com o professor e se afasta do pai, que, ignorante e caipira, precisa ser afastado, ou seja, voltar para o interior do país. Como isso, aos poucos, o pequeno violinista vai se tornando infeliz e perde a atração que tinha pela música e pelo instrumento, a única coisa que lhe restou da mãe (ela o abandonou recém-nascido).

Kaige exagera nas luzes e nos movimentos de câmera, todos maravilhosos. Pintor amador, o diretor filma tudo com um zelo excessivo, uma beleza descomunal que entrava a narrativa. O espectador pede para que aquela perfeição toda termine e dê logo vazão tanto à história quanto ao desenvolvimento das personagens, em vez de ficar acendendo e apagando luzes ou perfazendo enormes travellings pelas feiras do centro da capital chinesa.

Enfim, demora demais a começar, os coadjuvantes, como o pai, estão caricatos e estereotipados, mas é uma visão no mínimo original e elegante (como o próprio diretor) da capital chinesa. E a cena final, com o rapazinho correndo na estação de trem para tocar para o pai é uma dessas que justificam a existência do cinema de tão emocionalmente linda: sim, Kaige é bom cineasta, podemos ficar tranqüilos. Talvez ele seja vítima de sua própria delicadeza que, aliada a péssimas escolhas profissionais, jogou o cineasta num limbo que decididamente, como comprova esse O Virtuose, ele não merece.

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