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Críticas

Cineplayers

Totalmente comercial, pelo menos é um produto bem feito e divertido.

7,5

Em época de franquias em que os terceiros episódios têm em comum o fato de serem o pior filme das séries, Treze Homens e um Novo Segredo, como não poderia deixar de ser, é diferente (claro, é um filme de Steven Soderbergh): é melhor que o segundo e está no mesmo nível do primeiro, que, convenhamos, não é lá dos mais altos. Qualquer filme de Soderbergh, mesmo os mais obscuros do início da carreira, quando ainda era inexperiente e independente, é melhor do que essa trilogia bobinha. Bobinha, com certeza, mas caindo de charme.

Um filme assim, leve, divertido e despretensioso, precisa de mão firme, e Steven Soderbergh tem a pegada necessária. É dos grandes, mesmo em trabalhos menores. Poucos diretores captam a cor tão bem como ele, e este Ocean’s Thirteen é visualmente tão sofisticado quanto Traffic. Além do mais, Soderbergh guarda sua força criativa para filmes pessoais e menores, como Bubble. Em suas empreitadas comerciais, ele prefere homenagear a Hollywood clássica, narrando histórias com uma segurança e criatividades raras entre os seus colegas de ramo. O resultado é eficiente. Esquecível, mas competente.

Dessa vez a turma de trambiqueiros liderada por Danny Ocean (George Clooney) quer se vingar de um dono de hotel (Al Pacino) que passou a perna em um deles e quase o matou de infarto. O plano é o seguinte: fazê-lo quebrar, viciando dados, roletas e cartas do cassino no dia da inauguração, além de fazer com que ele não consiga obter a tão sonhada categoria Cinco Diamantes, dada aos melhores hotéis do mundo, para seu novo empreendimento, o grotescamente kitsch Bank Hotel.

A trama é, mais uma vez, intrincadíssima. A premissa básica é nunca subestimar o espectador e oferecer uma raridade no cinema hoje, quase uma iguaria: inteligência. Daí que a trama segue rápida, com cortes precisos, e em vários planos, alguns sobrepostos, outros com lapsos de tempo. Assim, enquanto os larápios fazem os avaliadores do hotel sofrer com cheiros desagradáveis, pulgas, baratas e comida estragada, na tentativa de melar a qualificação de cinco diamantes, outra parte da turma se encarrega de burlar os esquemas de segurança para conseguir dar um rombo de US$ 500 milhões no proprietários. Isso, claro, seguidos de perto da megera Abigail Sponder, deliciosa criação da atriz Ellen Barkin, que é o braço direito do grosseiro dono do hotel.

Como para conseguir a façanha é preciso de dinheiro, muito dinheiro, pedem ajuda a Terry Benedict (Andy Garcia), que foi vítima deles nos filmes anteriores. Ele concorda, pois o novo hotel criou sombra num dos seus e ele quer vingança. Só que exige o roubo de quatro diamantes, no valor de US$ 250 milhões, concomitante ao plano já bastante audacioso, o que vai complicar ainda mais as coisas para a fraternidade de ladrões.

O que impressiona em Treze Homens e um Novo Segredo é como um elenco tão requisitado (além dos já citados, há Brad Pitt, Matt Damon, Don Cheadle) conseguiu se manter unido por seis anos e três filmes. Afora isso, há o jazz esperto da trilha, comandada David Holmes, a extraordinária direção de arte, que ressalta o cafona de Los Angeles de maneira divertida, e os figurinos certeiros de Louise Frogley: quanto mais gastam em objetos de luxo, mais cafonas as personagens se tornam (Pacino uso Hermès e um celular Sansung foleado a ouro de US$ 10 mil), tornando a discrição, encarnada por Clooney e Pitt, com cores sóbrias e linhas retas, no supra-sumo da elegância masculina.

Afinal, tudo foi construído em estúdio para agilizar a produção (um detalhe: o lustre do cassino foi especialmente desenhado pelo artista conceitual Jacob Hashimoto, que saiu de seu estúdio na Itália especialmente para instalar as milhares de peças no teto dos cenários). Foi criada uma espécie de parque temático asiático, pois o cassino se destinava aos novos milionários da Ásia, em especial da China, que, deslumbrados com o universo novo-rico da “América dos sonhos” que Las Vegas representa, vão à capital do jogo torrar milhões, fazer sexo com brancas e consumir o que puder. 

É essa crítica disfarçada e enviesada ao neoliberalismo que faz o filme crescer e se tornar cada vez mais interessante. Ao mostrar o que os cassinos de Las Vegas têm de mais luxuoso, a câmera de Soderbergh capta seus freqüentadores, os vencedores do capitalismo, que no entanto parecem não saber gastar o dinheiro: são presas fáceis para os americanos, que conseguem vender a eles uma certa ideologia do hedonismo pelo consumo que, se faz sentido ou não, está fora de questão, mas é grotescamente de mau gosto.

Ou seja, Ocean’s Thirteen tem mais fôlego que os demais terceiros filmes da temporada: Homem-Aranha 3, Piratas do Caribe 3 e Shrek Terceiro. O cinismo diletante, as piadas inteligentes e o deslumbrantemente cafona retrato de Las Vegas continuam afiados – mas não escapa de ser raso e superficial como os demais. Pelo menos as demais franquias tiveram pontos altos, como Homem-Aranha 2 e Shrek 2. Na série Ocean’s, não há pontos baixos, porém também não há ponto alto algum. Sua força está mais na qualidade do produto entregue, que evitou qualquer tipo de facilitação e chama o espectador para compartilhar desse universo mais exigente. Não é pouca coisa.

Comentários (1)

Matheus Rodrigues Barbosa | terça-feira, 31 de Março de 2015 - 01:38

Demetrius foi perfeito em sua crítica,sua crítica vai de encontro com o que penso do filme,ótima crítica.

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