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Críticas

Cineplayers

Sofia retorna – até demais – ao estilo de Encontros e Desencontros.

7,5

Com Um Lugar Qualquer (Somewhere, 2010), Sofia Coppola retorna ao estilo que a consagrou em Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003). Talvez por isso Veneza tenha se rendido a seu novo trabalho, uma espécie de aprovação pelo seu cinema. Mas o Leão de Ouro ganho no respeitável festival italiano é exagerado. Sofia não só retorna ao estilo do longa estrelado por Bill Murray como também faz uma história quase idêntica, mas que, em seus bons momentos, consegue ter alma própria.

Assim como o personagem de Murray se sentia descolado do mundo em Encontros e Desencontros, aqui Johnny Marco, interpretado por Stephen Dorff, passa pela mesma problemática. A diferença é que enquanto o primeiro se sentia fora de seu mundo literalmente, o segundo não consegue se sentir parte de seu próprio universo, Hollywood. Ator famoso e renomado, Johnny Marco parece achar a cidade do cinema entediante, assim como as obrigações profissionais relacionadas aos filmes que atua.

Sua vida nitidamente não o satisfaz e a jornada pessoal retratada aqui é a busca dele por algo/alguém que o complete enquanto pessoa. O dinheiro que permite a ele viver no conforto de luxuosos hotéis e se exibir pelas ruas de Hollywood na sua Ferrari não é suficiente para lhe trazer alegria – ele nunca aparece sorrindo neste contexto, prova de que a felicidade está realmente distante do material. O primeiro indicativo de que a satisfação plena pode estar nas relações humanas aparece quando as garotas de programa que se exibem na pole dancing conseguem, na segunda vez em que visitam Johnny no quarto de hotel, arrancar risadas dele. Na primeira vez em que aparecem apenas conseguem levá-lo ao sono.

Ao mesmo tempo, é esclarecedor o fato de as apresentações das garotas não gerarem nele expressão de prazer – ou reações de quem está excitado -, mas sim apenas leves sorrisos. A facilidade que encontra para ter tudo o que uma pessoa comum deseja leva Johnny ao mais verdadeiro desespero interior, já que nada parece pertencer realmente a ele. As mulheres são de aluguel, assim como os quartos de hotéis, e o que não é conquistado diretamente pelo dinheiro parece ser resultado de sua fama.

E essa angustia interior é aliviada, a principio, dentro de sua Ferrari, por meio de arrancadas velozes. E dessa forma Sofia estabelece simbolismos interessantes. A cena de abertura já mostra Johnny correndo em círculos com sua Ferrari, ou seja, o personagem está em uma espécie de beco sem saída, no qual é difícil encontrar novos caminhos. Essa sequência, por sinal, dialoga muito bem com a cena final, que aponta a saída encontrada pelo personagem para seu tormento interior.

Se nestes aspectos o filme traça seus próprios caminhos, Sofia aproxima-o ainda mais de Encontros e Desencontros ao introduzir na história Cleo, a filha de Johnny interpretada por Elle Fanning, irmã de Dakota. Na obra antecessora, Bill Murray firmava uma relação quase paternal com a personagem de Scarlett Johansson, que dividia os mesmos sentimentos do protagonista. Em Um Lugar Qualquer, essa relação pai-filha deixa o simbolismo e passa a existir de fato. Sofia avança, mas pouco, na questão abordada anteriormente, e a história narrada de forma lenta e com poucos diálogos, e que permite ao público compartilhar do vazio sentido por Johnny, não é uma experiência tão verdadeira quanto antes. Fica a sensação de frustração pela simplicidade não na narrativa, mas no conteúdo. O público não mergulha no universo de Johnny a ponto de se sentir satisfeito ao término da jornada.  

E a jornada percorrida por Johnny o leva a viver o sentimento da paternidade e descobrir a mulher que realmente o completa - e aqui não há revelação alguma, já que o importante para Sofia é que o espectador compartilhe essa descoberta, assim como a dor, a angústia e o prazer de seus personagens durante esse processo. É interessante notar ainda, e dessa forma o filme ganha novos significados, o toque autobiográfico que Sofia imprime à história do pai mundialmente famoso pelo seu trabalho no cinema, mas que, para sustentar sua posição, não consegue dar o mínimo de atenção a sua família. Em Um Lugar Qualquer, a filha do cineasta Francis Ford Coppola aproveita para compartilhar a sua dor e, ao mesmo tempo, perdoar o pai pela ausência.

Sofia é talentosa. Acerta em suas opções de enquadramentos, principalmente quando negligencia os acontecimentos de seus planos, abrindo a câmera no vazio ou fechando-a em seus personagens. Mas, o roteiro parece menos sofisticado do que em seus trabalhos anteriores, inclusive pela semelhança com Encontros e Desencontros. Da mesma forma, apesar de não ser irretocável, é mais uma boa obra de Sofia.

Comentários (1)

Robson Dantas | terça-feira, 12 de Junho de 2012 - 10:56

Adoro os filmes da Coppola. Simples, mas profundos...

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