Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Um filme que parte de um absurdo tão grande que se torna extremamente divertido e inteligente.

8,0

Parte integrante daquela minha famosa lista de clássicos dos anos 80 não reconhecidos, Um Morto Muito Louco é um filme que parte de um absurdo, é lotado de humor negro absurdo e tem uma conclusão ainda mais absurda – e, justamente por isso, é tão bom! É um perfeito exemplo de filme que as pessoas assistem mais de vinte vezes e passam a menosprezá-lo por isso, mas se ele não é tão bom quanto dizem, por que assistir tantas vezes? É simples: porque ele contagia, diverte e tem um humor afinadíssimo, e por passar tantas vezes na televisão, acabou ficando um pouco desgastado.

Pense no absurdo: dois jovens funcionários de uma corretora de seguros, Larry Wilson (Andrew McCarthy) e Richard Parker (Jonathan Silverman), procurando subir na carreira, decidem passar um final de semana trabalhando e descobrem uma fraude milionária na empresa. Certos de serem recompensados pela descoberta, levam a informação até o seu chefe (Bernie Lomax, interpretado por Terry Kiser), sem saber que este é o responsável por tal irregularidade. Os jovens são convidados então para passar um fim de semana em sua casa, onde seriam mortos, mas, por causa de problemas com a máfia, é o próprio Bernie que acaba morrendo. Decididos a não perder a oportunidade com aborrecimentos policiais, os dois acabam curtindo o local enquanto tentam fazer com que todos não notem que Bernie está morto.

A partir desta longa e absurda (sim, é importante frisar isso) sinopse, o diretor Ted Kotcheff destrincha o roteiro de Robert Klane da maneira mais simples, clara e divertida possível. O número de situações hilariantemente inverossímeis criadas a partir dessa premissa é fantástico, uma vez que diversos complicados momentos são criados para divertir o público na medida certa. É o tipo de comédia inteligente, que foge totalmente dos clichês (piadas de tombos e sexo), onde o que importa é o roteiro, aproveitar o material que lhe foi concedido no início da projeção. Citar exemplos fica praticamente impossível, uma vez que posso estragar a surpresa daqueles que ainda não viram o longa, mas a capacidade das pessoas em não perceber que o homem está morto é incrível, isso indo desde uma festa em sua casa até a hilariante cena em seu quarto, quando a mulher achava que ele a estava traindo (gerando também um dos diálogos mais engraçados do longa).

O curioso é que o filme é tecnicamente impressionante, uma vez que o trabalho de arte e alguns planos são minuciosamente trabalhados para tudo ficar na mais perfeita sintonia. Quanto à arte, posso citar como exemplo a casa onde grande parte do filme acontece: construída em um parque ambiental nos EUA sob autorização do governo, teve-se de ter o cuidado de desmontá-la ao final da produção para que a paisagem natural não fosse prejudicada pelo filme. Tudo é lindo e muito bem fotografado, com o luxo desfrutado pelos personagens saltando à vista graças ao competente trabalho de ambientação feito pela arte. Quanto aos planos, cito o momento em que Richard Parker está com sua namorada na praia e Bernie aparece ao fundo, atrapalhando o momento, ou então quando este mesmo é jogado da varanda por Larry e o menino o enterra (muitos, muitos e muitos risos).

O trabalho dos atores é impressionante. Andrew McCarthy e Jonathan Silverman quase que refletem aquilo que o público pensa: “Meu Deus, será que eles não percebem que ele está morto?”. Suas piadas são mais divertidas por suas reações a tudo o que acontece do que por sua formação propriamente dita. Mas o destaque no elenco fica mesmo para Terry Kiser, que faz o papel do morto Bernie Lomax. O homem dá um show e se dispõe a tudo: desde ser arrastado por escadas (fraturou várias costelas nesses tombos) até agüentar um aspirador de pó passando pelo seu rosto. Se em alguns raríssimos momentos percebemos uma ação de Terry, o fato de ele ficar completamente a mercê de tudo o que acontece é fantástico, pois o cara parece realmente estar morto e que não está fazendo tudo aquilo no filme (parece um boneco real muitas vezes, porque ele se dispõe, acreditem em mim, a muitas coisas).

Lógico que o filme possui alguns defeitos, como o seu ritmo por demais acelerado em alguns momentos, uma conclusão simples demais para tudo o que havia acontecido e ter uma personagem mal trabalhada e praticamente inútil à história (Gwen, o interesse romântico de Richard, interpretada pela linda Catherine Mary Stewart), mas são erros causados mais pela ingenuidade não tão ingênua assim na confecção do longa por parte de seus realizadores (não vejo uma pretensão como um todo; e quando me refiro à ingenuidade, digo sobre o fato de acontecer tudo sem se preocupar sobre o que o público vai pensar daquele absurdo todo, e completo com não tão ingênuo assim pelo fato de que tudo é intencional, pensado por seus realizadores, que sabiam o que faziam, mas sem a pretensão de deixá-lo tão grande quanto é hoje).

O resultado final é que Um Morto Muito Louco é um filme inteligente, que vai direto ao ponto e diverte muito, mas muito mesmo. As comédias dos anos 80 (e são muitas) se preocupavam em escolher um tema e trabalhá-lo da melhor forma possível, ao contrário de hoje, que tudo parece ser resumir apenas no sexo, apenas trocando a gostosa do cartaz. Se são sinais dos tempos, hoje somos mais burros do que éramos antes, mas como não acredito nessa hipótese, prefiro não engolir as porcarias feitas por Hollywood hoje em dia e continuar rindo com os meus bons e velhos companheiros de sessão da tarde.

Comentários (2)

Rique Mias | domingo, 11 de Setembro de 2011 - 02:17

Uma das críticas mais legais do site!

Não sei por que quando li, já faz um tempo, me surpreendi em ter crítica aqui. hehe

Faça login para comentar.