Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Apesar de filme não ser tão brilhante como o plano que apresenta em seu roteiro, diverte e prende a atenção.

7,5

Pode-se dividir o cinema, especialmente o norte-americano, em gêneros e subgêneros. Em relação aos primeiros, temos as clássicas rotulações de “drama”, “comédia”, “ação” e por aí vai. Já os segundos encontram incontáveis classificações, dentre as quais uma das mais recorrentes diz respeito aos “filmes de assalto”. Desde os primeiros filmes de Stanley Kubrick até as recentes superproduções de George Clooney e seu grupo de amigos, o filão foi abordado diversas vezes, tornando novas incursões no tema, no mínimo, arriscadas pela quantidade do que já foi visto. Um Plano Brilhante é a mais recente exploração deste subgênero e, ainda que não traga nada de novo ou original, mostra-se eficiente dentro de sua proposta.

O filme tem início na atualidade, quando uma senhora de idade conta a uma jornalista sua história em uma das maiores empresas de diamante do mundo. Laura Quinn é uma executiva bem posicionada dentro da organização, ainda que seja constantemente deixada para trás em termos de promoção pelo simples fato de ser mulher. Após mais uma decepção, o faxineiro Hobbs aborda-a com a proposta de executarem o roubo de alguns diamantes, idéia vista por Laura como uma oportunidade de conquistar aquilo que realmente merece.

Praticamente até a execução do assalto propriamente dito, Um Plano Brilhante não passa de uma obra comum sobre o tema. Ainda que as motivações de ambos os personagens fiquem bastante claras, não há muita tensão, cenas elaboradas e até mesmo o plano e a execução do roubo deixam a desejar em termos de engenhosidade. Esta, no entanto, é apenas a preparação para uma trama que surpreende o espectador mais de uma vez e cujas reviravoltas soam orgânicas à trama, não apenas como artifício narrativo.

O grande mérito da direção de Michael Radford e do roteiro e Edward Anderson mora exatamente aí. Quando o espectador acredita compreender algo relacionado ao plano, surge um novo fato que não somente não estraga o que havia sido apresentado até então, mas oferece uma nova dimensão àquilo que já se sabia. Até mesmo informações oferecidas logo no início do filme assumem novo sentido quando se conhece a trama completa, em uma inteligente e bem sucedida construção da história e da estrutura.

A condução da obra é igualmente hábil. Radford dirige com segurança, tendo o cuidado de revelar exatamente aquilo que a platéia precisa saber. É difícil adivinhar as surpresas que o filme reserva. Da mesma forma, o cineasta acerta também ao imprimir um clima crescente de tensão: no início, ela é quase nula, mas cresce à medida que os mistérios surgem e as dúvidas brotam, tanto na mente dos espectadores quanto dos próprios personagens.

Neste momento, Um Plano Brilhante tem uma leve mudança de foco, deixando de ser um filme sobre o planejamento e a execução de um roubo para se tornar uma obra a respeito da investigação deste assalto. Novamente, o roteiro demonstra inteligência, criando um jogo de gato-e-rato entre investigadores e culpados no qual o menor deslize pode ser fatal, fato que Radford captura bem em momentos como a mão de Laura Quinn tremendo ao acender um cigarro.

O sucesso (artístico, que fique bem claro) do filme deve-se também ao cuidado na construção dos personagens. Roteiro e atores têm oportunidade de desenvolver Laura e Hobbs a ponto de o espectador realmente compreender o que leva duas pessoas honestas a realizarem um crime de tal magnitude. Mais do que isso, uma vez que se descobre a verdadeira natureza do motivo, é possível simpatizar e, inclusive, apoiar a atitude deles. Michael Caine está fabuloso no papel de Hobbs, transmitindo pureza e inteligência na pele do faxineiro. Por outro lado, Demi Moore continua inexpressiva; sua sorte é que o papel de uma ambiciosa executiva combina com uma atuação fria e sem grandes emoções.

Mas este é Um Plano Brilhante, não um filme brilhante. Mesmo com todas as já citadas qualidades, a obra peca em alguns exageros para fazer o plano dar certo (como apostar em coincidências) e possui alguns furos de roteiro que impedem uma maior qualificação. Ainda assim, é bem executado, surpreendente e prende a atenção do espectador em suas quase duas horas. Não vai revolucionar, mas é um acréscimo digno a este prolífico subgênero.

Comentários (0)

Faça login para comentar.