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Críticas

Cineplayers

Um filme grandioso, com mais visual do que substância. Ainda assim, tecnicamente bem atual.

8,0

Uma coisa chama a atenção de primeira em Uma Ponte Longe Demais: este é possivelmente o maior elenco de estrelas que Hollywood já colocou junto em um só filme: Anthony Hopkins,  Elliott Gould, Gene Hackman, James Caan, Laurence Olivier, Liv Ullmann, Michael Caine, Robert Redford, Sean Connery... e outros ainda! Todos estão lá reunidos para tentar cumprir um propósito nada modesto: recriar um importante acontecimento da Segunda Guerra Mundial, em grande escala. O diretor Richard Attenborough, grandiloqüente que é, fez a lição de casa direitinho.

A grandiosidade do filme é justamente o seu ponto fraco; o motivo pelo qual ele fica muito perto de falhar. Perdido em gigantescos cenários, dezenas de personagens e muita, mas muita pólvora mesmo, está um roteiro apenas ordinário. Mas fica difícil ceder ao “star-power” existente no filme – ele, sem dúvida nenhuma, é o seu grande charme. O filme tem tantos astros que acaba, por exemplo, dando apenas um papel terciário a um Robert Redford já famoso, que fica poucos minutos em cena. A história é pouco conhecida por contar um grande fracasso dos Aliados na Segunda Guerra: uma tentativa que acabou sendo fracassada de descer com um ataque maciço atrás das linhas inimigas alemãs, na Holanda, para tentar acabar com o evento antes do Natal de 1944. Obviamente fracassos são menos documentados nos livros de história.

O filme não tem o sentimentalismo do cinemão americano da atualidade. Não espere, por exemplo, ver cenas tão piegas quanto em O Resgate do Soldado Ryan. Há, claro, cenas mais sentimentais, mas o número delas é deveras pequeno. Assim, em muitos momentos, o filme adere a um tom documental, apenas responsabilizando-se por narrar fatos de forma rude e seca, sem grande envolvimento humano. Isso aborrece bastante, até que o carisma dos atores citados anteriormente envolva a tela novamente. Sean Connery, Gene Hackman... não há exatamente uma atuação brilhante, mas todas elas são boas quando em conjunto.

Agora, além do elenco magistral destaca-se também o apuro técnico da obra. Não, Uma Ponte Longe Demais NÃO DEVE NADA a O Resgate do Soldado Ryan, por exemplo, ainda que ele tenha sido lançado 21 anos antes. Alguns planos são simplesmente PERFEITOS e, mesmo ajudados pelo fato de as paisagens naturais serem lindíssimas por si só, o diretor teve mão de ouro (que foi premiada no Oscar cinco anos depois, por Gandhi). Os números da produção são assombrosos, obviamente não vou enumerá-los aqui pois não é o objetivo de uma crítica, mas a produção deve ter batido alguns recordes no ano de seu lançamento. E ainda hoje poucos filmes se sobrepõem a ela.

Claro que em seus longos 176 minutos de duração, mesmo o enorme número de explosões, litros de sangue, aviões e tropas não esconde o fato do roteiro ser – como já foi comentado lá perto do início desta crítica – ordinário. Enfadonho seria outra palavra válida. Attenborough não é nada modesto, e às vezes ele prefere ficar minutos mostrando milhares de pára-quedistas saltando de milhares de aviões a desenvolver melhor seus personagens. E como o número deles também não é pequeno, a sensação final que podemos vir a ter é que o filme acaba e pouco ficamos conhecendo de cada um. Simplesmente não há tempo para isso. Por este motivo entende-se que muitos vieram a não gostar do filme, tanto que ele sempre consta apenas em listas secundárias quando o assunto são “os grandes filmes sobre a Segunda Guerra”. Tamanho, todos sabem, não é documento, mas que fica bonito na tela, isso fica.

Uma Ponte Longe Demais é um dos raros casos que me fez ceder à importância de um roteiro bem montado e personagens bem desenvolvidos em favor de uma estética pretensiosa (mas que funcione, como aqui). Um filme com algumas boas cenas humanas e muitas boas cenas esteticamente eficientes. Mesmo quando os mocinhos perdem, fica difícil se envolver por isso, então aproveitemos pelo menos as fabulosas paisagens e a grande pirotecnia. Por isso, ele é mais do que recomendado.

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