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Críticas

Cineplayers

Embora clichê, Uma Vida em Sete Dias é um bom drama existencialista, interpretado por Angelina Jolie.

6,0

Uma Vida em Sete Dias, novo filme de Angelina Jolie, é um exemplo do que está acontecendo com a distribuição de filmes no Brasil nos últimos dois ou três anos. Vários títulos acabam chegando com meses, muitos meses de atraso, e outros vários, geralmente os que não conseguiram sucesso comercial nos seus países de origem (principalmente Estados Unidos) – boa parte deles bons filmes que simplesmente não servem às necessidades do freqüentador habitual de cinema, por ser muito inteligente, muito difícil de ser digerido, entre outras razões – acabam simplesmente saindo direto em vídeo. Uma Vida em Sete Dias é um desses filmes. Com sucesso comercial insatisfatório, o filme está chegando aos nossos cinemas 11 meses atrasado. Isso mesmo: ele foi lançado nos Estados Unidos em abril de 2002, e só agora, em março de 2003, é que está saindo no Brasil.

É algo curioso, visto que Angelina Jolie tem um bom número de fãs aqui no Brasil e o filme não é de má qualidade. É um drama interessante, não muito pretensioso, de boas situações e interpretações regulares. Talvez o tema seja um pouco obscuro demais. Uma Vida em Sete Dias fala sobre o medo da morte, mas de forma bastante superficial. Jolie interpreta Lanie, uma repórter de televisão totalmente inescrupulosa, que não teima em passar por cima de nada nem de ninguém para conseguir se promover. Seu sonho é ser uma grande entrevistadora de televisão, em nível nacional.

Certo dia, ela e Pete, seu câmera (Edward Burns, do thriller policial 15 Minutos), realizando uma reportagem sobre um sem-teto em Nova York que diz possuir dons para prever o futuro, acabam tendo uma revelação bastante curiosa: desgostoso com o comportamento mesquinho da repórter, o profeta Jack, como é conhecido (interpretado pelo ator Tony Shalhoub, atualmente mais conhecido pela série televisiva Monk, que passa no canal por assinatura USA), diz que Lanie tem apenas mais sete dias de vida, e sugere à moça reavaliar sua vida até lá.

Cética de início, a tal entrevista não sai da cabeça de Lanie, que resolve testar mais profundamente os poderes de Jack, e vê que ele realmente não se engana (após adivinhar o horário exato, incluindo o minuto, de um terremoto do outro lado do país). A partir daí, Lanie entra em desespero, e resolve seguir os conselhos do profeta: reavalia sua vida e descobre que seus valores são totalmente incorretos. O problema é que nessa altura ela já tem vários desafetos (como a sua irmã, por exemplo), e talvez não haja mais tempo de colocar sua vida nos eixos antes de sua provável morte.

Jolie faz mais uma personagem tipo perua, com bastante auto-confiança, abusando de sua beleza. O filme tem um clima bastante “pra baixo”, com uma fotografia que retrata o clima nublado de Nova York e arredores. Uma Vida em Sete Dias lembra também a comédia romântica Íntimo e Pessoal, com Robert Redford e Michelle Pfeiffer, que também retrata os bastidores do telejornalismo e a busca de uma pessoa para chegar ao topo na profissão, porém aqui a abordagem é bastante dramática, com um clima menor de romance entre Jolie e seu câmera.

Mesmo Jolie sendo a protagonista, o personagem mais interessante do filme é o sem-teto e profeta Jack. Interpretado com bastante autoridade por Shalhoub, é ao mesmo tempo o personagem mais trágico do filme, por ser extremamente pobre (vive em becos e todo sujo), e o mais engraçado. Uma cena em que Lanie vai atrás dele para se certificar de suas habilidades adivinhatórias nos becos é bastante divertida. Mesmo com o desespero da moça, Jack parece pouco se importar com seu destino. De certa forma, ele não está sendo injusto, já que Lanie, pela sua visão (e estou certo que muitas pessoas concordarão) pouco fez para merecer ser salva, se alguém o pudesse fazer, neste momento.

O filme, a partir de sua metade final, toma um rumo diferente, quando Lanie vê que talvez Jack estava errado, afinal (ele fez outra previsão para a moça: que ela não conseguiria um emprego que tanto estava querendo – e ela consegue) e, esquecendo tudo o que havia feito para se tornar uma pessoa melhor, volta a ser a mesma mulher de sempre. O filme consegue prender o espectador, porque durante todo o tempo, a partir da previsão de Jack, há suspense para ver se Lanie vai morrer mesmo ou não. É claro que eu não vou revelar isso aqui, mas posso dizer que fiquei extremamente irritado com a solução encontrada pelo roteiro para o desfecho do filme.

Tal desfecho acaba não correspondendo com a temática do filme, e faz com que Uma Vida em Sete Dias torne-se apenas mais um drama bobo, com uma premissa interessante, mas extremamente mal administrada. Ainda assim, o filme serve como boa fonte de entretenimento, e dificilmente alguém poderá considerar ele mais do que isso. Jack é a grande figura do filme, enquanto Jolie tem mais presença com sua beleza (como em muitos de seus papéis passados) do que pelas suas qualidades artísticas. O filme demorou para chegar aos cinemas brasileiros, mas nesse caso, ninguém teria sentido muita falta se nunca o tivesse feito.

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