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Críticas

Cineplayers

Um ótimo filme de vampiros, reinventando muita coisa nesse sub-gênero.

7,0

Vampiros e lobisomens. Uma temática que por muitos anos e anos vem trazendo aos cinemas de todo o mundo muitas produções de altíssimo e baixíssimo nível. Entre as grandes produções de alto nível, citamos algumas como ‘Drácula’ (de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Coppola), ‘Entrevista com o Vampiro’ e, mais recentemente, a boa surpresa ‘Underworld’, o primeiro filme de ação a realmente explorar de um bom ângulo e com uma boa história a eterna luta entre vampiros, humanos e lobisomens. Os fãs de “John Carpenter” que me desculpem, mas filmes de ação envolvendo vampiros e afins não se resumem apenas ao básico feijão com arroz de sempre, a caça e o caçado, e esta nova produção do diretor Wiseman está aí justamente para provar que o tema ainda pode ser muito bem explorado mesmo em uma produção que não tenha como ponto principal seu ritmo e o nível exibido de selvageria.

Porém, nem só de coisas boas vive nosso respectivo tema. Temos produções extremamente ruins e outras bem fracas como ‘Drácula 2000’, uma lástima, e ‘Rainha dos Condenados’, que exagera por demais em seu estilo gótico e ‘Werewolf’ (de 1996, um dos piores trabalhos da carreira de Jack Nicholson). O fato é que ‘Underworld’ fica num lugar intermediário entre o que consideraríamos um bom filme de ação com uma boa história às grandes produções citadas no primeiro parágrafo.

Underworld “re-inventa” (os grandes jogadores de R.P.G.’s me odiarão por utilizar essa palavra, mas tudo bem) a sociedade vampírica como um moderno e sofisticado clã de pessoas unidos em prol de um objetivo maior e no estabelecimento daquilo que consideram sua própria ordem. Seus eternos inimigos são os já conhecidos lobisomens, que aqui são apresentados como uma espécie de gangue suburbana que manipula a cidade a partir de seus refúgios. A balança de poder entre as duas espécies é quebrada quando uma bonita vampira acaba por se apaixonar por um recém desperto lobisomem. Claro, não é necessário nem comentar, mas só lembrando, que todos já devem ter ouvido em diversos contos e passagens literárias que as duas raças são inimigos jurados desde épocas mais antigas.

Apesar de todo clima tenso que cerca a produção, ajudado por um carregado cenário pós-apocalíptico gótico e sombrio, o filme nem de longe faz o tipo pancadaria pura e ação desenfreada. Pelo contrário, o diretor Len Wiseman conseguiu ao longo da fita desenvolver suas idéias e realmente criar um universo criativo (porém lá com suas limitações) onde pudesse desenvolver não “batalhas memoráveis e épicas”, mas sim sua boa história que melhora consideravelmente nos minutos finais de projeção.

No papel principal do filme temos a atriz Kate Beckinsale, que interpreta Selene, a linda vampira e referencia narrativa principal de Underworld. Kate está muito bem caracterizada como Selene, entretanto, cai naquelas pequenas falhas que atrizes como Nicole Kidman e companhia limitada sempre caem: as vezes ficam tão bonitas em determinadas tomadas (tomadas essas que não “pedem” gente extremamente arrumada e elegante) que acabam por diluir o impacto visual da seqüência. Mas felizmente aqui vemos Kate em um trabalho e em uma personagem muito melhor que a pobre enfermeira Evelyn Johnson, a medíocre personagem vivida pela atriz no caótico triângulo amoroso que envolvia o fraco ‘Pearl Harbor’. Scott Speedman (de ‘Duets’) interpreta o inexpressivo Michael, lobisomem por quem Selene se apaixona. Infelizmente o potencial do ator não foi muito bem explorado, deixando-o de lado até o momento da batalha final, onde finalmente temos uma boa cena envolvendo Speedman.

Mas com certeza absoluta o melhor quesito em ‘Underworld’ ainda não deixa de ser a ambientação quase perfeita que Wiseman conseguiu criar para rodar sua história. O filme é gótico e sombrio na medida certa e, apesar de sempre utilizarem esse cenários, ao contrário de produções como ‘Demolidor – O Homem Sem Medo’, aqui o diretor soube tirar proveito do jogo de luzes a que tinha direito e em nenhum momento as seqüências de ação ficam prejudicadas por luminosidade falha ou coisa do tipo, algo que aconteceu com freqüência nas estáticas cenas do filme de Mark Steven Johnson.

Além de tudo isso diretor demonstra ainda que sabe lidar com diversos outros elementos que dão um visual ainda mais “cool” à produção. Se você for um bom observador, conseguirá notar que as cores azul, vermelha e branco (prata) são extremamente bem empregados no filme, cada um com seu significado que remete a pessoa que assiste exatamente a uma passagem ou lembrança que o diretor julgue importante o publico saber ou relembrar, por isso são utilizadas com mais intensidade nos minutos iniciais da película.

Creio que o filme será melhor aproveitado por certos nichos de pessoas, ao qual me incluo dentro. O filme é certamente melhor digerido para aqueles que, durante algum tempo em sua adolescência ou que ainda o fazem, jogaram os famosos jogos de interpretação pessoal, os famosos Role Playing Games que por tanto exploraram temas como esse e que hoje trazem um universo tão rico e tão absurdamente complexo e detalhado que não é de se espantar que Wiseman tenha sugado algumas de suas idéias desses livros. Mas tudo bem, isso não é um ponto negativo, afinal, seria impossível passar sem ser influenciado por esse quesito

A fotografia do filme agrada bastante, como já disse, e repito novamente, gótico na medida certa. As roupas estão muito bem empregadas também, com grandes elogios ao figurino de Kate Beckinsale e a “festa”, evento que acontece logo no inicio da primeira parte de projeção. O som, como não poderia deixar em um filme que envolve muitos tiroteios, perseguições e tudo mais, está ok também, entretanto, a trilha sonora realmente fica no anonimato, devendo um pouco e sem chamar muita atenção.

A maioria das reclamações referentes a ‘Underworld’ são de aspectos não estruturais da história, como a insistência do diretor na utilização de armas de fogo por seres tão poderosos quanto aqueles (o que de certa forma é uma reclamação válida, mas que Wiseman tratou logo de anular ao “criar” tais dispositivos como suas balas especiais) e a não-limitação ou não especificação de até onde vai o poder de tal raça, seja vampiro, seja lobisomem ou seja híbrido.

Mas como já comentei, o melhor do filme é somente revelado nos minutos finais de projeção, onde até então o pequeno esboço do prelúdio de cada personagem é desenvolvido até seu fim. É mais do que obvio, por seu final em aberto (lembrem-se que um dos anciãos dos vampiros nem havia despertado ainda), que virá uma continuação pela frente. E pra falar a verdade, ela já está vindo. ‘Underworld 2’ já está saindo do papel no exato momento graças ao ótimo rendimento que o filme teve nas bilheterias e a boa aceitação do publico. Cogita-se já até mesmo a possibilidade de um terceiro filme. Quem acabou lucrando com tudo isso foi a pequena produtora do filme, a Screen Gems, que com o titulo original teve um custo de aproximadamente 24 milhões de dólares e um faturamento líquido estimado de 51 milhões de dólares, isso sem contar as boas vendas em dvds que o filme obteve.

Vale lembrar também que infelizmente apesar do filme ter estreado dia 13 de setembro de 2003 nos EUA, aqui no Brasil, atrasos atrás de atrasos fizeram que ainda hoje o filme não tenha uma data definida de estréia nos cinemas. Cogita-se até mesmo a possibilidade de estréia direta em vídeo, o que certamente não seria bom. A película acabou recebendo tanto nos EUA como em diversas outras partes do mundo a pesada censura Rated R, 18 anos, o que é um extremo exagero, ‘Underworld’ realmente, além de não trazer cenas de nudez ou sexo, não trás nem carnificina descontrolada nem vocabulário carregado.

Bem, finalizando, infelizmente o filme não é do tipo que agradará a todos, entretanto, se você gosta da temática ou simplesmente curte bons filmes de ação sem ser muito exigente, vá em frente. Para todos os outros que jogam ou já jogaram “R.P.G.’s” de mesa em suas vidas, ‘Underworld’ torna-se um filme obrigatório. Que venha a continuação...

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