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Críticas

Cineplayers

Três histórias sobre a AIDS, todas medíocres e sem coesão alguma.

3,5

O cinema parecia ter se esquecido de tratar do tema da AIDS, que, por sinal, nunca foi um assunto assim tão recorrente nas telas. Alguns filmes trataram da doença na década de 1990, mas nada de muito significativo, exceto talvez Filadélfia, pelo qual tenho algumas reticências. Por incrível que pareça, o melhor trabalho audiovisual sobre o tema foi a minissérie Angels in America, dirigida por Mike Nichols, feita para a televisão norte-americana, em 2003.

Eis que surge Unidos pelo Sangue, um resgate a essa problemática. O longa-metragem do canadense Thom Fitzgerald retoma a época na qual a doença ainda era uma incógnita para contar três histórias sem qualquer tipo de ligação entre elas, mas abordando o caos que se formou com a disseminação do vírus HIV.

Ainda que os avanços médicos tenham sido grandes desde o surgimento da doença até os tempos atuais, tratar sobre é algo delicado, que exige, acima de tudo, sensibilidade, e também ousadia narrativa, para não cair no lugar comum. Fitzgerald, também roteirista, não conseguiu trazer ao seu filme nem uma coisa, nem outra. Pior: talvez com receio de parecer redundante, imprimiu às historietas narrativas secundárias que nada acrescentam e que diluem ainda mais o foco já obtuso.

O primeiro segmento traz Lucy Liu, interessante no papel, como uma aldeã chinesa responsável por máquinas de hemodiálises que estão espalhando uma nova doença no vilarejo onde mora. O segmento intermediário é ambientado no Canadá e discorre sobre uma mãe (Stockard Channing) que descobre que o filho (Shawn Ashmore) não só é ator pornô como está infectado pela doença, e toma uma atitude radical – e um tanto nonsense. A conclusão, já em terras africanas, é sobre três freiras (Chlöe Sevigny, Olympia Dukakis e Sandra Oh) que estão às voltas com a epidemia que toma conta do lugar.

Nenhum dos três é satisfatório, realmente. O mais interessante é o segundo, que é trabalha melhor na construção dos personagens e se restringe àquilo que quer lidar. Mas o ar burlesco de sua metade final acaba com qualquer seriedade, e sua conclusão é constrangedora. Os demais segmentos adotam um tom mais sóbrio, mas parecem que não são sobre a AIDS em si, mas que esta é apenas um dos dispositivos de andamento narrativo.

O resultado geral é ainda mais medíocre porque ao apagar das luzes, não percebemos qualquer tipo de coesão, qualquer linha ideológica que conduza a totalidade, que integre as três histórias. Acabam díspares e sem finalidade. Pelo menos Fitzgerald evitou qualquer tipo de clichê melodramático, e isso, talvez, tenha sido seu único acerto.

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