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Críticas

Cineplayers

Com uma direção simplificada, V de Vingança é um constrangimento atrás do outro, errando em tudo o que se propõe.

4,0

Interessante o que acontece com o trabalho dos irmãos Wachowski: quanto mais ambiciosos os seus filmes, mais tolos eles resultam. Assim como as duas seqüências de Matrix (Reloaded e Revolutions), V de Vingança é ambicioso ao extremo, exagerado, ensurdecedor, grandiloqüente e estapafúrdio. Há efeitos especiais gigantescos, reviravoltas insistentes no roteiro, muita cena de karatê violenta com sangue esguinçando, barulhos gritantes etc, mas, no fundo, o que resulta é um filme oco, tolo, bobinho e inócuo.

O filme é baseado na graphic novel homônima escrita pelo cult Alan Moore e desenhada por David Lloyd. Inicialmente publicada em preto-e-branco pelo selo Warrior em 1981, foi interrompida na metade com o fechamento da editora. Foi retomada em 1989 pela DC Comics. É uma mistura de super-herói fabricado por acidente em pesquisas com seres humanos (no caso, homossexuais, algumas das cobaias) com romance gótico, pitadas de reacionarismo direitista dos vilões e crítica política ao governo ultraconservador de Margareth Thatcher (o filme se passa mais ou menos 2020, mas com claras alusões à dupla Bush-Blair).

Como acontece com os heróis angustiados dos filmes de ação, eles são pseudo-cultos. Daí que recita Macbeth e Noite de Reis, de Shakespeare (nas legendas, a última foi erroneamente traduzida por “Décima Segunda Noite”, entre inúmeros equívocos da tradução), as catástrofes são precedidas da Abertura 1812, de Tchaikovsk, e, nas cenas de amor, a trilha traz Julie London cantando Cry me a River, além de uma versão orquestral de Corcovado, de Tom Jobim.

O herói nunca mostra o rosto e é interpretado por Hugo Weaving, que ganha a ajuda de Stephen Rea, John Hurt e Stephen Fry para segurar o ‘cast’, mas o diretor não estava nem um pouco preocupado em conseguir boas atuações. As simplificações da direção, a agilidade excessiva da edição e o roteiro que necessita de enxugamento arruinaram com a possibilidade desses bons atores trabalharem.

Filmado na Alemanha, o filme precisou recriar em estúdio uma Londres “sem alma”, como disse o diretor. Para isso, foram levantados 89 cenários, sendo que a Galeria das Sombras, onde se dá boa parte das cenas mais terríveis, foi erguida no mesmo local que Fritz Lang filmou Metropolis. Isso, mais as 500 pessoas da equipe e os inúmeros efeitos especiais empurraram o orçamento do filme a US$ 150 milhões, incluído o dominó de 22 mil peças, que levou 200 horas para ser montado (e uma cabeleireira quase destruiu ao deixar cair um pente).

Algumas locações, como o Ministério da Defesa inglês, jamais haviam sido fechadas para uma filmagem antes, que só podiam ocorrer entre meia noite e cinco da manhã. A maquete do Parlamento tinha 13 metros de largura por 6 de altura para dar conta das explosões previstas pela equipe de efeitos. O diretor de fotografia, Adrian Biddle, parceiro costumaz de Ridley Scot (Os Duelistas, Thelma & Louise), morreu logo após as filmagens, em dezembro passado (foi lembrado no último Oscar).

V de Vingança tem história para contar: já foi adiado três vezes pelo estúdio. Os motivos são vários. Segundo consta, foi por conta dos atentados terroristas em Londres – o filme trata justamente disso, um insandecido que quer por o Parlamento, com Big Ben e tudo, abaixo. Depois, ao ser apresentado ao público de testes e à imprensa, foi fulminado. Depois, a data, 5 de novembro, dia em que acontecem os eventos no filme, poderia ser considerada um risco de acidentes, açulando pretendentes para atos do tipo. Por fim, como se trata de uma alfinetada ferrenha a Tony Blair e George Bush pelo clima de medo instaurado nos dois países depois de atentados terroristas, esperaram passar as re-eleições de ambas para não soar crítica política. A data da estréia mundial ficou para o próximo dia 17 de março.

Dirigido pelo assistente de direção deles nos três primeiros filmes, James McTeigue, V de Vingança tem roteiro e produção dos irmãos. É um constrangimento atrás do outro. Natalie Portman está canastrona, os diálogos são longos, prolixos e cansativos (um deles, só com palavras começadas com a letra ‘v’), excesso de clima, pouca invenção narrativa do diretor, que prefere imitar os ‘mestres’ etc. Falha como filme de ação, porque tem pouca, como thriller, pois o cineasta não consegue manter o suspense, e erra também como crítica política, pois as insinuações parecem ou ingênuas ou óbvias demais.

Comentários (10)

Rafael Martins de Oliveira | quarta-feira, 19 de Junho de 2013 - 14:41

Me parece mais uma lista de curiosidades à respeito da produção do filme, do que uma CRÍTICA que justifique a nota 4,0.

Vinícius Oliveira | quinta-feira, 20 de Junho de 2013 - 20:10

Sigo os relatores, realmente uma pseudo crítica, muito longe de bons críticos da equipe, como o Alexandre Koball, que é sempre sucinto e objetivo ao avaliar qualquer filme. Um adolescente de 13 anos conseguiria produzir tais comentários sobre o filme, e o pior, induz o desatento leitor a não ver o filme, como se fosse de fato, uma porcaria retumbante. Não é nenhum Batman de Nolan, mas também não é um THE SHADOW da vida. Espero q a equipe CINEPLAYERS tome uma posição em virtude de tantas reclamações a despeito da crítica do senhor DEMETRIUS CAESAR.

katz | segunda-feira, 03 de Agosto de 2015 - 01:16

Hahaha, a galera tem razão, um dos piores textos do site - o que é um grande feito. Parece uma crítica sobre o making of do filme. Se o Demetrius ler isso hoje, duvido que não dê risada; o antepenúltimo parágrafo é hilário de tão sem eira nem beira. E toda essa encheção de linguiça para no fim meter um parágrafo de filmow - que é, aparentemente, a sustentação dos porquês.

Essa crítica deve servir como modelo de estudo para entender o valor das impressões do espectador como afetivas e não racionais, sendo toda a parafernália de parágrafos escritos nesses meios, um modo de legitimar suas afeições. Quando bem sucedido até engana, mas fracassando, se torna mais risível do que o filme que almeja criticar. Sendo assim, mesmo o pior filme está acima de todas as críticas negativas.

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