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Críticas

Cineplayers

Vênus vale pelas interpretações e relações existentes entre seus personagens. No mais, é bem previsível.

6,5

Este é o filme que rendeu ao veterano ator Peter O’Toole sua oitava indicação ao Oscar. Em Vênus, ele interpreta um ator idoso com problemas na próstata. Para ele, resta continuar vivendo na “companhia” da morte. O diretor Roger Michell, o mesmo de Um Lugar Chamado Notting Hill, concebe um filme apenas satisfatoriamente bom. Aventurando-se nos dramas, Michell provou ser um ótimo diretor de comédias-românticas, gênero em que de fato ele é muito competente, já que Notting Hill é um dos pouquíssimos bons exemplares, recentes, desse gênero tão carente (de qualidade e não quantidade).  

A história é simples: dois experientes atores, Ian e Maurice, muito famosos em outra época, passam os dias de velhice conversando e tomando remédios juntos. Apenas um deles, Maurice, ainda se arrisca em pequenos trabalhos. A rotina de vida dos dois começa a ser alterada com a chegada de Jessie, sobrinha-neta de Ian, que é uma adolescente mal-educada. Poucas horas depois, seu tio-avô já não consegue suportar o comportamento da jovem. À medida que a insatisfação de Ian com a moça aumenta a atração de Maurice por ela cresce. 

Jessie é uma personagem que só não é completamente irritante devido à maneira como a atriz Jodie Whittaker a interpreta. A jovem é irritante, não apenas pelo modo como, no início da projeção, despreza os dois velhos amigos, e sim, por ser uma figura extremamente caricata, uma perfeita “adolescente clichê” dos filmes de Hollywood. No começo, a jovem é até mesmo um pouco artificial, já que seu comportamento extremista não convence. Mesmo vivendo na casa do tio-avô Ian ela é incapaz de dar bom-dia, de dizer "oi", "tudo bem", ou de trocar qualquer outra palavra com seu avô e Maurice. Jessie só terá o comportamento alterado após o convívio com o personagem de O’Toole, quando ela começa, por interesse, a tratar um pouco menos mal o amigo do avô. 

Porém, a mudança de comportamento de Jessie, que pode perfeitamente ser divida em três fases (elas ficam claras no filme), é um ponto fraco do longa por ser extremamente previsível. Desde a primeira aparição da jovem em cena, já é possível antecipar as mudanças de personalidade dela, e como será seu comportamento no final. 

O filme ganha força devido às interpretações. Se Jodie Whittaker salva sua personagem do fracasso, Peter O’Toole dá força ao filme, além de deixar a impressão de ser a pessoa ideal para aquele personagem. Sem O’Toole o filme seria, com certeza, muito pior. Seu personagem parece, em alguns momentos, ser um retrato dele mesmo, já que Maurice é um ator fadado a interpretar personagens à beira da morte, justamente o que O’Toole interpreta em Vênus. 

Maurice não parece temer a morte. Ele encara o fato como algo inevitável. Diagnosticado com problema na próstata, ele continua desejando as mulheres, mesmo sem a possibilidade de ter relação sexual com elas. É o que ele classifica como interesse teórico. Ao tentar conquistar a jovem Jessie, Maurice expõe um pouco de sua personalidade. Ele não aceita, por exemplo, não conquistar uma mulher e, talvez por isso, permita que a jovem esteja com ele por interesse. Há, ainda, o fato de estar no final de sua vida, e a companhia de alguém que está começando a viver, possa fazer com que tenha mais vontade de encarar os dias. O fato é que, galã quando começou a atuar, ele acostumou-se a ser assediado pelo público feminino. 

A relação de amizade entre Maurice e Ian é muito verdadeira, proporcionando duas belas cenas, nas quais os dois dançam juntos. A primeira cena é apresentada de forma cômica, já a segunda, de maneira mais séria. Completando o elenco, há o ótimo trabalho de Vanessa Redgrave, ex-esposa de Maurice. Infelizmente, sua participação é muito pequena. Dois outros personagens fazem parte da história, o namorado de Jessie, e um terceiro amigo da dupla Ian e Maurice, interpretado por Richard Griffithis, o tio Dursley dos filmes Harry Potter.

Escrever sobre Vênus é focar nos personagens e as relações existentes entre eles, já que essa é basicamente a proposta do filme. Falar sobre as interpretações é uma obrigação, porque é o que acaba salvando este filme de apenas uma hora e meia (se tivesse uma duração maior seria insuportável). No final das contas, Vênus é uma produção previsível, porém válida.

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