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Críticas

Cineplayers

Um neo-noir que se excede pelo capricho técnico, mas esquece um pouco o roteiro. Ainda assim, um bom filme.

6,0

No material distribuído à imprensa, o diretor canadense Atom Egoyan diz que seu mais recente filme, Verdade Nua, é um projeto comercial, feito tendo em vista um público mais amplo daquele que acompanhou sua carreira até agora. É baseado num romance contemporâneo, de Robert Holmes, ambientado nas décadas de 50 e 70 em Hollywood e tem dois atores bem conhecidos, Kevin Bacon e Colin Firth. Desenvolve-se como um popularíssimo filme policial, com cenas de sexo provocantes, muita música e roupas estilizadas. Enfim, tem ingredientes bem conhecidos.

Segundo consta, foi idéia do sofisticado produtor Robert Lantos (produziu recentemente Sunshine, com Ralph Fiennes, e Adorável Julia, com Annete Benning, ambos do húngaro Istvan Szabo). Lantos teria visto na pegada neoclássica de Egoyan uma entrada para o gênero noir, ou, como eles preferem, diretor e produtor, o “neo-noir”.

Só vai aproveitar o filme (e mesmo assim, não muito) quem topar entrar no universo de intensa manipulação da narrativa típico do diretor. A montagem exige atenção máxima, assim como os inúmeros detalhes de cenários; a atuação declamatória da principal personagem feminina sugere distanciamento e, claro, o perfeccionismo da concepção cênica do filme. A graça está aí, não na história.

O diretor de fotografia Paul Sarossy escolheu cores distintas para cada uma das décadas, sendo que a de 50 ele usa os mesmos efeitos de luz do filme Gilda, com Rita Hayworth. A música de Michael Dana inspirou-se nos filmes noir das respectivas décadas, em especial o compositor Bernard Herrman, conhecido pelas parcerias com Alfred Hitchcock e pela influência assumida de Richard Wagner.

Como nenhum filme se sustenta pela sua parte técnica, Verdade Nua acaba cansando pelo excessivo rigor da direção. Sua perfeição técnica beira o maneirismo visual (é impossível dizer aqui o fator que move as cenas sem denunciar o final), além de que faz a narrativa ir numa velocidade lenta demais para um policial noir (há até nome técnico para isso no ideário neoclassicista, o “andante majestoso”). É uma obra menor de Egoyan, não por causa do apelo comercial, longe desse tipo de preconceito, mas pelo excesso de formalismo que, se faz a graça dos outros filmes do cineasta, aqui emperra tudo.

Um parênteses: a extensa carreira do diretor não foi lançada devidamente no Brasil, só os filmes a partir da década de 90, quando ele realizou a bizarrice sexual Exótica (94) e conseguiu consagração internacional com sua obra-prima O Doce Amanhã (97). Seus primeiros e premiados Marcados pelo Ódio (84), Family Viewing (87), Speaking Parts (89), O Contador (91) e Calendário (93) estão perdidos em mostras e lançados apenas em VHS, assim como A Última Gravação de Krapp (2000), adaptação da peça de Samuel Beckett esquecida pelas distribuidoras brasileiras.

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