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Críticas

Cineplayers

Uma experiência entediante, se vista no formato caseiro.

3,0

Lançado mais como um caça-níqueis do estúdio do que como uma revisitação séria à clássica obra de Júlio Verne, Viagem ao Centro da Terra fracassa em seu objetivo de entreter, pelo menos fora dos cinemas. Já que a grande motivação de assistir ao filme são os efeitos 3D, através daqueles óculos coloridos, não há muito o que possa ser feito para salvar a obra fora desse contexto, já que obviamente essas cenas especiais perdem-se no formato caseiro. Percebe-se aí a intenção monetária dos produtores (não que isso seja novidade, é lógico), tão descuidados em aspectos artísticos, que perderam a chance de renovar essa bela aventura (que já conta com inúmeras outras adaptações para o cinema e para a televisão) em um filme que fosse realmente marcante.

A obra lembra muito o recente sucesso infanto-juvenil Pequenos Espiões, que, não por acaso, também acabaria ganhando uma versão em 3D (fraquíssima) em sua terceira edição. Pequenos Espiões, porém, mesmo com diversas limitações, ainda é um trabalho razoavelmente superior a esta bagunça. A mediocridade deste filme pode ser melhor compreendida quando conhecemos o fato de que o diretor Eric Brevig é estreante na função e tem muito mais experiência (e certamente talento) ao trabalhar no departamento de efeitos especiais de filmes maiores, como Homens de Preto, Pearl Harbor e Sinais. Mas não é necessário ter conhecimento dessa informação para notar que o esforço foi justamente o trabalho em cima dos efeitos do filme.

Viagem ao Centro da Terra, como era previsível, é todo feito em cima de computação gráfica e chroma key e, embora seus visuais divirtam por algum tempo, tornam-se rapidamente aborrecidos no final do filme. Mais uma vez, nota-se que a obra foi montada pensando-se apenas no espectador dos cinemas. Há algumas cenas que foram exaustivamente vendidas no trailer, como a cena envolvendo um T-Rex, que na prática são absolutamente decepcionantes, não passando excitação (culpa do roteiro, ver mais adiante) e com visual aparentando ser de um vídeo-game da geração passada. Por conta disso, mesmo que o esforço maior tenha sido em cima dos efeitos especiais, pode-se dizer que nem eles escapam de serem fúteis.

Com relação ao roteiro, é decepcionante também saber que o rico material do livro foi abandonado em benefício de cenas rasas envolvendo correria e gritaria dos personagens. Qualquer tentativa de realismo é abandonada ao se criar situações e saídas impossíveis aos nossos heróis. Essa característica não é necessariamente negativa quando esse tipo de liberdade é tomada a favor da diversão, desde que apresente certa coerência dentro de seu próprio mundo. Aqui, porém, não há coerência alguma e não necessariamente as saídas propostas pelo roteiro do inexperiente trio de escritores são divertidas. Bem pelo contrário: como já foi comentado, sem os efeitos 3D, as cenas que certamente já eram ordinárias tornam-se praticamente insuportáveis.

Se visual e roteiro são elementos fracos dentro desta adaptação da obra de Júlio Verne, o que dizer do elenco principal? Pelo menos Brendan Fraser pareceu ser a escolha certa, visto que sua experiência com aventuras populares é enorme e ele tem o tipo físico perfeito para o gênero. Josh Hutcherson, seu sobrinho adolescente, consegue a proeza de ser apenas um pouco irritante, e a bela Anita Briem completa o elenco como um par genérico para heróis de ação – a mocinha metida a sabida que, no final das contas, precisa ser salva pelo herói. Na realidade, não há como avaliar muito bem as interpretações dentro desse gênero – pois sua proposta é justamente funcionar como um trabalho leve sem muita carga dramática ou textos complexos. Nesse sentido, o trio de atores faz o que pode, mas em momento algum traz diferencial ao filme com relação a tantos outros.

E parece ser esse justamente o problema do filme: com tantas aventuras infanto-juvenis por aí (ainda mais considerando períodos de férias escolares), esta é apenas mais uma delas – e uma das piores. Para o público mais novo, certamente há opções mais inteligentes e mesmo mais divertidas. O público, que não é lá muito exigente, não deu muita atenção para as fraquezas evidentes do trabalho (porque os óculos 3D trazem uma sensação de diversão que não vem realmente do filme, e sim da experiência) e o final de Viagem ao Centro da Terra já aponta para uma continuação. E falar que devemos esperar algo melhor seria uma demonstração de inocência total: se o original já foi ruim, o que vier daí pra frente deve ser ainda pior.

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