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Críticas

Cineplayers

Um documentário bastante sentimental sobre a intensa vida de Vinicius de Moraes.

8,0

Vamos combinar que documentário não é o gênero preferido de boa parte das pessoas. Michael Moore mudou um pouco a imagem desse estilo, seus “Tiros em Columbine” e “Farenheit 9/11” levaram muitos que nunca tinham assistido documentários ao cinema, mas daí a fazer o público brasileiro (grande público) pagar para ver um documentário sobre um poeta carioca já são outros quinhentos.

Dito isso, peço uma salva de palmas a Miguel Farias Jr, diretor do longa -documentário “Vinicius” que conseguiu a proeza de, em três semanas, levar mais de 98 mil pessoas às salas de exibição. Palmas para ele, que diz: “- Estou surpreso. Fiz o filme pesando em agradar apenas uma pessoa: Vinicius. Não esperava agradar tanta gente!” Palmas, pois ele agradou muito mais do que o seu homenageado, agradou a todas as faixas etárias, todos os sexos, todos que conseguem viver nesse mundo de correria e capital, mantendo um pouco de humanidade e  calor dentro de si, algo bem Vinicius de Moraes.

A linguagem é facilmente degustada pelo público. Camila Morgado (lindíssima) e Ricardo Blat estão num palco de uma casa de show bem intimista, onde as paredes são suporte para quadros e mais quadros, fotos e mais fotos do poeta. Lá, eles vão contando, cantando, recitando a vida de Vinicius desde seu nascimento, passando por cenas de um Rio de Janeiro onde Ipanema era bairro de terra batida e praia deserta. Ele vai a faculdade de direito, vai ao Itamarati, mora fora do país e nós vamos juntos. Tudo contado ou em prosa ou verso, pelos dois atores que mostram a que vieram, num estado de entrega, de emoção, de coesão com os sentimentos daqueles momentos retratados, que chega a assustar. Camila nos tira lágrimas ao recitar o famoso “que seja eterno enquanto dure”, faz que viajemos e entremos em êxtase com as palavras bem postas e impostas. Então, a gente descobre que as nossas lágrimas são só uma cópia das que a atriz derrama, elas se equilibram nos olhos e não chegam a borrar a maquiagem, mas estão lá.

Personagens ilustres não faltam, Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, Tom Jobim e Edu Lobo (arrasando no violão) entre tantos. Dão o ar da graça e lembram a alegria do poeta, contam sua vida, expõem o íntimo, o que só se falava  nas suas rodinhas de mais chegados. Eles são o lado cômico do filme, enquanto Camila e Ricardo são o trágico e os músicos são tudo junto, todos são Vinicius de Moraes. Isso mesmo, outros músicos estão lá para cantar, Adriana Calcanhoto e Zeca Pagodinho, são só um exemplo, nos cantam algumas músicas e fazem a sala de cinema entrar no mesmo tom de sussurro, e percebemos ombros balançando juntos e os casais se aproximam em mais um dos vários momentos de amor.

Falando de amor, a exposição da vida dele segue recheada desse sentimento, o poeta casa, casa e casa de novo, num total de nove vezes e um tanto de filhos. Estes também colaboram com o roteiro da vida de Vinícius, que vai se esmiuçando para o grande público. Momentos hilários são descritos em detalhes ou não... afinal, não dá para lembrar de tudo, certo? Fotos, filmes, declarações, shows, tudo vai se abrindo na tela numa respeitadíssima ordem cronológica. Vamos descobrindo que essa música, aquele poema pertencem a Vinicius e não a quem pensávamos, vamos nos emocionando, ouvindo, vendo, cantando, chorando e por fim, como ele recomendaria:  sentindo. Era o coração de um homem, que  não permitia sentimentos pequenos, amava intensamente e que, quando o amor acabou, sofria com igual intensidade, até que outro belo rabo de saia por ele passasse e fizesse despertar aquela paixão novamente. O poeta decide se casar e mudar de país, tendo olhado nos olhos de sua nova amada por cinco minutos apenas. Intenso e profundo, como só Vinicius de Moraes poderia ser.

Seus 122 minutos, com uma grande diversidade de fontes, fazem com que, às vezes (não muitas) o ritmo caia um pouco, mas nada imperdoável, e quando o filme acaba pensamos: "- Puxa, podia falar mais um pouco sobre ele". Mas, qualquer coisa mais curta que uma vida ainda será tempo insuficiente para falar de Vinicius de Moraes, e já que o filme acabou (porque tem que acabar mesmo), que tenha sido eterno enquanto durou, porque Vinicius ainda é.

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