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Críticas

Cineplayers

O slasher australiano que já virou cult.

7,0

Filmes de terror são o filho bastardo do cinema, considerado um subgênero por muitas pessoas, dificilmente são levados a sério. Wolf Creek, um pequeno filme australiano produzido, escrito e dirigido pelo estreante Greg McLean, vinha fazendo certo estardalhaço em festivais, dividindo críticos e platéias que de um lado laureavam a produção como uma das melhores do gênero em muitos anos ou de outro simplesmente execravam-na.  

Filmado em digital, pode-se colocá-lo como produto direto de A Bruxa de Blair e Mar Aberto, filmes que foram bastante lucrativos devido ao seu custo baixo, mas ao contrário desses, McLean contratou um verdadeiro diretor de fotografia (Will Gibson), que extraiu o máximo dos cenários naturais do árido Outback australiano evitando o visual mal acabado e semi-amador daqueles.

A maioria das produções de terror hoje em dia parece querer pegar carona no clássico Massacre da Serra Elétrica e se auto-proclamam "baseado em fatos reais" para ganhar credibilidade, mesmo dando algumas informações factuais Wolf Creek não foge a regra, seguimos duas turistas inglesas e seu guia australiano numa viagem de carro para ver a cratera de um meteoro no inóspito local que dá nome ao filme, eles acabam presos por uma falha mecânica e são encontrados por um caçador que os oferece ajuda. Sem escolha, eles são levados para onde ele mora e já se sabe que na verdade ele é o homicida. Há um ótimo plano no início em que uma das garotas observa o mar por um tempo, para nós que sabemos o destino trágico que a aguarda a cena é carregada de um clima de despedida.

Essa cena demonstra o ritmo lento que McLean impõe, ele gasta uma boa hora com a exposição dos personagens para a impaciência daqueles que possuem pouca atenção, mas essa exposição é necessária já que não se trata de um slasher típico, onde o que conta é a diversidade nas mortes e sustos, Wolf Creek tem poucos personagens e precisa de um tempo para criar alguma empatia com a platéia, fazendo com que suas mortes se tornem algo mais impactante. McLean consegue interpretações naturalistas e convincentes, mostrando os jovens como pessoas comuns e assim trazendo-os para mais perto. Onde ele pecou na minha opinião foi na caracterização do vilão Michael que me pareceu simplesmente apagado, não que houvesse muita necessidade de explicação sobre seu passado ou de torná-lo carismático, mas depois que ele se revela como assassino me pareceu um tanto inverossímil, algo provavelmente agravado pelas suas tentativas um tanto deslocadas de humor, não acho que coube muito bem ao tipo de aproximação realista que o filme tenta alcançar.

Outra coisa na minha lista de reclamações são algumas situações do roteiro que achei um tanto clichê, mesmo assim não chegaram a comprometer muito a história que é bem simples e direta, evitando pregar peças no espectador com reviravoltas forçadas. Eu esperava mais tensão e violência por causa do hype que a produção carregava, porém talvez eu já tenha visto filmes de terror demais pois notei as pessoas à minha volta cobrindo os olhos ou se encolhendo na cadeira. Uma cena aliás achei memorável, mas ela não envolve sangue, é a fuga de uma das meninas por uma estrada deserta onde o diretor e seu fotógrafo conseguiram planos belíssimos, McLean usa o cenário como um personagem à parte, construindo um impressionante clima de isolamento que torna o drama dos personagens ainda mais angustiante. Isso na minha opinião é o maior mérito do filme.

Wolf Creek pode não ser um filme inovador ou consistente mas a aproximação honesta, além do tratamento estético bem acabado, o coloca num patamar acima de outras produções recentes do estilo que são direcionadas mais ao público teen. Porém não recomendo o filme a todos visto que oferece pouco em termos de diversão e a violência apesar de não ser muito explícita (Um DVD sem cortes deve estar a caminho) pode ser realista demais para estômagos fracos, se você gosta de filmes porém, talvez encontre algo de interesse aqui. Eu encontrei.

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