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Críticas

Cineplayers

Um filme que, mesmo com a nova equipe, consegue um roteiro muito eficiente... Pena que a direção decepcione.

6,0

Quando Bryan Singer anunciou que estava deixando a direção do capítulo final da trilogia inicial sobre os mutantes mais adorados do planeta Marvel para assumir a ressurreição do Super-Homem no cinema, os fãs ficaram apreensivos quanto ao futuro da cinessérie. Pior foi quando Brett Ratner (que tinha acabado de abandonar justamente a produção de Homem de Aço) foi anunciado como o substituto definitivo (Matthew Vaughn, de ‘Nem Tudo É o Que Parece’, chegou a assumir o comando para logo após desistir): os fãs passaram realmente a temer o resultado. Afinal, o cineasta responsável por desastres como A Hora do Rush e Ladrão de Diamantes e era um dos últimos nomes que os fãs esperavam ouvir.

A boa notícia? Graças a um roteiro tão bom quanto dos filmes anteriores, o filme fecha dignamente o ciclo inicial. A má? Ratner não conseguiu um resultado que chegasse aos pés dos anteriores, culpa única e exclusiva dele. ‘X-Men: O Confronto Final’ possui vários grandes momentos e tantos outros medíocres. Esse emaranhado de altos e baixos resulta em um filme disforme, que não marca, que parece sem uma personalidade definida. Faltou a Ratner o talento que Singer tinha, por exemplo, de conciliar as características típicas de um arrasa-quarteirão, como cenas de ação grandiosas e ação ininterrupta, com uma história relevante por trás.

O roteiro deste novo capítulo ficou a cargo de Simon Kinberg (Sr. E Sra. Smith) e Zak Penn (Elektra), já que os antigos roteiristas foram embora junto com Singer. E os novatos não só deram conta muito bem do recado, dando seqüência à linha narrativa dos dois anteriores, como também conseguiram desenvolver uma grande metáfora neste novo capítulo, que é o mote de toda a ação: a descoberta de uma ‘cura’ para os poderes dos mutantes, podendo transformá-los em seres humanos ‘normais’, o que poderá acarretar em uma grande limpeza racial voluntária.

O grande responsável por essa ‘cura’ é um garoto mutante (Cameron Bright, de Reencarnação) que possui o dom de neutralizar poderes alheios. Através de pesquisas comandadas por um sujeito intolerante, que não aceita o próprio filho como um mutante – o aparecimento de um personagem querido, o Anjo (Ben Foster), que fica praticamente à margem dos acontecimentos do filme, sendo relegado a uma história paralela mal delineada – o governo americano coloca à disposição da população mutante essa vacina. Enquanto o Prof. Xavier (Patrick Stewart) e Dr. Hank McCoy (ou o Besta, também aparecendo pela primeira vez na franquia, sob o ótimo trabalho de Kelsey Grammer, o Dr. Frasier da série homônima da tevê) partem para uma atitude conciliatória, de esclarecimento. Magneto (Ian McKellen) percebe nessa cura uma espécie de ameaça à sua própria natureza e parte para o contra-ataque, mobilizando um exército que tem como peça-chave Jean Grey, que renasce no lago onde tinha falecido no episódio anterior, só que dominada por uma personalidade maligna que até então estava adormecida, assumindo-se então como a Fênix.

Esse aspecto, entre ‘curar-se’ ou manter-se à margem é a grande questão deste terceiro longa. Afinal, qual seria a melhor atitude a se tornar? O filme, claro, toma seu partido, e é a personagem Vampira (Anna Paquin) quem melhor ilustra essa problemática. Afinal, para alguém que é impossibilitada de tocar outro ser, e conseqüentemente, de amar, vê na vacina a possibilidade de se tornar uma pessoa tão comum quanto qualquer outra, e também concretizar o afeto que nutre por Bobby Drake, o Homem de Gelo (Shawn Ashmore).

Enquanto toda essa questão social é levantada, os demais personagens, velhos conhecidos ou novos no pedaço (que são inúmeros) vão desempenhando funções muitas vezes descartáveis, já que há pouco tempo para tanto (o filme é curtinho, tem menos de duas horas de duração). Wolverine (Hugh Jackman) é um mero coadjuvante, e pior, totalmente fora das características que o tornaram o personagem mais querido dos quadrinhos. O Wolverine agressivo, animal, não dá as caras por aqui. Aliás, uma seqüência bastante alardeada do personagem com o Colossus (Daniel Cudmore) é decepcionante. É esperar que vejamos o verdadeiro Wolverine em seu filme solo, que já está prestes a ser realizado. Já Tempestade, para agrado de sua intérprete, Halle Berry, que andou reclamando da falta de espaço, ganha destaque e a partir desse filme passa a desempenhar função primordial – para desespero de muitos, como eu (não pela Tempestade, claro, mas pela Berry). Já o Cyclope (James Marsden), líder dos X-Men nos quadrinhos, desperdiçado nos filmes anteriores, não consegue espaço algum. É revoltante como os roteiristas trataram o personagem até aqui – e se você é fã do personagem, vá assistir preparado para o pior. Aliás, toda uma gama de personagens sai de cena para dar lugar a uma nova geração, numa espécie de troca de guarda. Afinal, ninguém acredita que não haverá um próximo capítulo – para reforçar, não perca um importantíssimo trecho após os créditos finais do filme.

Enquanto Ratner cria algumas cenas realmente impactantes (como aquela em que o Anjo tenta encobrir a maldita verdade do pai), outras são mal dirigidas e desnecessariamente longas, como a do ataque à ponte Golden Gate e à Alcatraz por Magneto e seu exército. Entediante, soporífera e mal feita, já que os efeitos especiais deixam muito a desejar em muitas seqüências, contrastando com um trabalho excepcional de engenharia de som, que muitas vezes consegue criar com mais propriedade a atmosfera exigida que a parte visual.

Resta-nos agora esperar, ansiosamente, pela terceira seqüência.

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