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Críticas

Cineplayers

Uma obra de arte lírica, de extrema beleza e com uma história que consegue prender do início ao fim.

8,0

Excelente. Não existe melhor palavra para definir esse filme dirigido pelo brilhante Takeshi Kitano (que interpreta o próprio Zatoichi), um nome não muito conhecido no meio ocidental, mas muito elogiado no lado asiático. Baseado em um conto, a história do samurai cego é levada ao cinema pela terceira vez, sendo as anteriores Zatoichi Kenka-Tabi, em 1963 e  Zatoichi, em 1989.

Com cenas de luta sempre rápidas e eficientes, com uma bela reprodução do Japão do século 19, personagens carismáticos e cativantes e uma excelente trilha sonora, Zatoichi merece ser apreciado por todos os amantes do cinema oriental, ou simplesmente por quem procura um bom filme, capaz de prender a atenção do início ao fim. O filme conta a história de um andarilho cego que sobrevive como massagista, que procura levar sua vida pacata, apostando em jogos de dados, mas que não hesita em mostrar toda sua habilidade como excelente espadachim que na verdade é. Um exímio espadachim conhecido como Zatoichi.

Em suas andanças, Zatoichi vai parar em uma vila dominada pelo bando de um homem conhecido por Ginzo, que explora os comerciantes locais cobrando abusivos impostos de "proteção". Zatoichi, que inicialmente se coloca alheio aos problemas da vila, acaba se envolvendo ao encontrar duas gueixas que procuram vingança pela morte de todos os seus familiares pelas mãos de um grupo de assassinos comandados por Ginzo. No decorrer da história somos apresentados à curiosos e cativantes personagens, que possuem, a seu modo, o dom de nos divertir e emocionar com suas histórias e costumes. Em tomadas dinâmicas que não deixam cair o andamento, somos bombardeados por cenas de ação, humor e drama. Todas mescladas em dose e momentos certos.

Mas como nem tudo é somente qualidade, Zatoichi também possui seus defeitos, como algumas tomadas que são bastante confusas, fazendo com que o espectador não saiba se a ação está se passando no momento presente ou no passado (através das lembranças de algum personagem). Problema que seria facilmente contornado se simplesmente mudasse um pouco a tonalidade da imagem para um tom pastel ou até mesmo em branco-e-preto. O destino (e mesmo a origem) de alguns personagens, como a esposa do novo guarda-costas de Ginzo, também são um pouco confusos. Acabamos ficando sem entender o motivo que leva a personagem a tomar a atitude que toma, se a mesma não sabia o que estava acontecendo a alguns quilômetros dali. E é claro que os exageros também estão presentes, como em todo bom filme de luta asiático. Mas nada que quebre as leis da física, como os personagens flutuantes de O Tigre e o Dragão (atenção, esse não se trata de um comentário pejorativo, já que no filme em questão tais habilidades são aceitáveis pelo seu estilo).

No resultado, as qualidades acabam sobrepondo os defeitos, e no final Zatoichi ainda nos presenteia com uma ótima seqüência de sapateado no ritmo oriental, mas que não deixa nada a desejar a nenhum outro já visto. Com uma ótima trilha sonora e um dos melhores e mais completos finais que já vi em um filme (que sempre que achamos estar terminando somos tomados por novas surpresas e acontecimentos), Zatoichi é um filme que mostra o brilho do cinema Asiático, que no passado nos encheu os olhos com as ótimas películas do brilhante Akira Kurosawa e atualmente vem brilhando com pérolas como O Tigre e o Dragão, Herói e com o recente O Clã das Adagas Voadoras. Recomendo não assistir procurando ver cenas de ação desenfreada, como é comum em algumas produções do gênero, mas procurando enxergar o lirismo e a beleza que mesmo uma lembrança amarga pode demonstrar.

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