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Críticas

Cineplayers

Nostalgia estilhaçada.

0,0

Logo na campanha de anúncio, em que vemos os traços de Hanna e Barbera serem convertidos a pobres animações em CGI, observamos que Zé Colméia - O Filme (Yogi Bear, 2010) possui absolutamente todas as armas para trilhar o mesmo lamentável destino de adaptações cinematográficas fracassadas, tais como Garfield - O Filme (Garfield, 2004) e Scooby-Doo (idem, 2002). Quisera estar errado, mas infelizmente não: a produção em questão conseguiu realizar a incrível façanha de ser ainda mais medíocre que os filmes citados. 
 
É curioso notar que para um gênero tão aberto a inventividades quanto a animação, ou, nesse caso, animação e live-action em um mesmo plano de atuações, um filme como Zé Colméia atire suas fichas numa história boba, sem qualquer resquício de criatividade. No mínimo, mesmo contando com um enredo relegado ao lixo, o carisma dos personagens deveria valer a sessão, ou, pelo menos, estampar um sorriso honesto naqueles que desejam despertar a nostalgia, porém nem isso consegue, e é incrível como o filme pode chegar ao cúmulo fazer de seu urso-título a própria sentença. Zé Colméia é um personagem insuportável, não por suas trapalhadas realizadas a todo instante, mas sim por nunca conseguir repassar empatia necessária à plateia, fazendo com que suas armações, que poderiam até trazerem certo humor do desenho original, sejam tão sem graça quanto ele próprio. 
 
O filme consiste em narrar uma das muitas aventuras do urso sempre faminto (dublado por Dan Aykroyd) e seu melhor amigo, Catatau (dublado por Justin Timberlake); dessa forma, toda a história se localiza no Parque Florestal Jellystone, onde Zé Colméia torna-se o terror dos visitantes que desejam apenas aproveitar um bom e pacato piquenique. Calejado no roubo de cestas, utilizando para isso geringonças e armadilhas de sua própria criação, o urso antropomórfico causa diversos problemas ao Guarda Florestal Smith (Tom Cavanagh), que agora se vê com um problema de proporções maiores que o inquieto animal quando o corrupto prefeito da cidade decide vender a Reserva Florestal para cobrir suas despesas pessoais. Para impedi-lo, Smith deve ser auxiliado pela ajuda de uma documentarista (Anna Faris) que cruza seu caminho e o de seus amigos.
 
Depois de contar com a incompetência dos roteiristas na concepção de um texto medíocre, o atrativo que restaria seria, portanto, a animação computadorizada, que daria vida e forma aos ursos em três dimensões. Entretanto, a construção gráfica dos personagens se apresenta como outro grave problema: o design de Catatau e Zé Colméia mostra-se feio, não há uma boa fluidez de movimentos, leveza de expressões corporais, faciais, nada. Os atores encontram-se ainda mais inseguros e desconfortáveis ao trabalharem em um mesmo plano com personagens gráficos; por si próprios, suas atuações já se mostram constrangedoras, mas tudo piora quando têm de contracenar com os ursos, onde jamais estabelecem uma interação agradável, nem para eles próprios, e muito menos para o público, que naquele momento espera por um sinal de qualidade, nem que remota, para fazer válido seu tempo gasto.
 
Até mesmo o humor do filme revela-se falido, sem criatividade, onde o mau uso das gags visuais gera um amontoado de piadas sem graça, isso sem citar alguns prenúncios de humor que soam, para dizer pouco, vergonhosos. Naturalmente não poderia se exigir muita coisa do quesito comédia de um filme desse tipo, uma vez que a obra é voltada para o público infantil, porém ao observar a qualidade dos artifícios aqui usados para concluir as gargalhadas, torna-se quase ofensivo até mesmo para os pequenos. Tortas na cara, tombos e até mesmo uma referência absurda a 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Spacy Odissey, 1968) completam um arsenal de ideias falhas que, além de não promoverem risos, zombam a todo instante da inteligência e paciência do espectador. 
 
Para aqueles que pretendem reviver os bons momentos que o desenho animado proporcionava na infância, terão, imediatamente, sua nostalgia despedaçada, estilhaçada sem qualquer piedade por um filme que jamais faz juz à imaginação e à criatividade dos realizadores da obra animada original. Seja pela incapacidade de promover interesse por sua história, ou mesmo pela precária construção gráfica e emocional dos bichos, o fato é que, com esta fita, os realizadores sujaram ainda mais o nome das adaptações cinematográficas extraídas de séries animadas ou cartoons, que, para sua infelicidade, já conta com uma cota significativa de produções ordinárias. Zé Colméia - O Filme consegue apelar até mesmo para óbvias lições de moral e uma mensagem ecológica primitiva, encerrando sua sessão numa aposta no que há de mais habitual e convencional: mocinhos felizes, vilões desmascarados, blá-blá-blá-blá...
 
Possivelmente eu devo ter exigido por demais desta produção, mas prefiro acreditar que o mais frustrante de tudo seja perceber que mesmo se tratando de um projeto de metas simplórias, Zé Colméia - O Filme ainda fosse uma ambição muito, muito maior que a capacidade de seus realizadores.

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