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Críticas

Cineplayers

Mais de 30 anos se passaram e filme ainda pode ser considerado muito violento.

7,0

Em 1972, o diretor Was Craven viria a aprontar uma das suas! Pelo seu alto grau de violência, Aniversário Macabro é consumível para poucos espectadores, até mesmo para os dias atuais, então não foi surpresa quando, naquele ano, o filme encontrou dificuldades enormes para ser lançado fora da censura "X" (a mais pesada de todas). Já em outros países como Austrália e Reino Unido, o filme fora banido por muitos e muitos anos. Mesmo hoje, encontram-se comercialmente disponíveis apenas versões recortadas, censurando as cenas mais fortes, principalmente as envolvendo o estupro de duas jovens. Rumores indicam que os próprios atores sentiam-se mal durante as filmagens. Por conta de tanta polêmica, hoje, três décadas depois, a obra de Craven divide-se entre grupos de adoradores e de odiadores.

Aniversário Macabro é uma das peças fundamentais para a existência de seriados como Jogos Mortais e O Albergue no século XXI. O filme estava bem adiantado em termos de violência e sangue. Há cenas bem cruas de estupro (em versões menos censuradas) e as mortes são espantosamente gráficas. A história é simplista ao extremo: duas garotas em busca de drogas e sexo (o que viraria um clichê enorme com o passar do tempo) acabam encontrando-se com uma gangue de delinquentes, com valores morais totalmente inexistentes (o pai deu drogas ao filho desde criança e eles fazem sexo entre si e com as vítimas abertamente). A partir daí, somos submetidos a cenas de tortura, sexo, ao mesmo tempo em que acompanhamos o trabalho da família e polícia para reaver as jovens.

Mas não espere o tom auto-importante que você encontra nas séries citadas acima (com exceção um pouco de O Albergue, que também possui um lado satírico). Wes Craven, responsável também pelo roteiro (e principalmente por isso o filme tem tanta liberdade de idéias), criou um tom absolutamente cômico em meio às cenas mais fortes. Em uma cena, temos órgãos expostos; em outra, dois policiais atrapalhados com dificuldades de chegarem ao local em que se encontram os suspeitos. Poder-se-ia dizer que esse tom leve adotado em muitos momentos de Aniversário Macabro servem para aliviar um pouco a tensão - o público simplesmente não aguentaria assistir a tudo se o clima fosse mais pesado. Na prática, isso não é verdade: mesmo com isso, o nível de tensão é sempre altíssimo, algo que muitos outros filmes do estilo conseguiriam atingir somente décadas depois (como por exemplo Violência Gratuita, cuja história possui uma estrutura muito parecida à do filme de Craven).

Um dos efeitos colaterais dessa mistura de tons são as interpretações pífias. Praticamente todos no elenco têm momentos constrangedoramente ruins, em parte ajudados pelo roteiro, que possui diálogos terríveis, dando suporte a piadas que às vezes não são intencionais. Mas todos esses elementos apenas somam. O resultado é um filme muito divertido, e ainda atual. Obviamente se visto pela ótica artística, Aniversário Macabro é um desastre sem tamanho. Carente de quaisquer qualidades das obras mais respeitadas do cinema, como roteiro bem montado, interpretações marcantes e direção afinada, há poucas formas de se gostar do trabalho de Craven nesse filme: praticamente apenas os amantes do gênero terror gore e de cinema "B" irão apreciá-lo.

Ligeiramente baseado em fatos reais e também em "A Fonte da Donzela", de Ingmar Bergman, Aniversário Macabro é, sem dúvida, um grande representante desses sub-gêneros. Não é amplamente conhecido pois é muito forte para passar na televisão aberta e a sua distribuição é limitadíssima. Este foi o primeiro filme dirigido por Wes Craven, uma grande forma de começar uma carreira promissora. Doze anos mais tarde, ele alcançaria o ponto forte de sua vida profissional, com o lançamento de A Hora do Pesadelo (embora, pessoalmente, acho o filme muito fraco). Como curiosidade, o vilão daquele filme foi batizado com o nome do vilão deste seu primeiro filme: Krug. Uma pequena demonstração da influência escondida dessa pequena obra da década de 1970.

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