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Críticas

Cineplayers

Um triângulo amoroso intimista e divagante.

9,0

Após Cão Sem Dono (2007), adaptação de Daniel Galera, Beto Brant retorna a parceria com o escritor Marçal Aquino, cujos romances e roteiros constituem a maior parte da sua obra — além de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011), também são frutos desta parceria os filmes Os Matadores (1997), Ação Entre Amigos (1998) e O Invasor (2001).

Novamente, a obra de Brant alia o social com o intimista; aqui é contada a história do triângulo amoroso entre o fótografo Cauby, a ex-prostituta Lavínia e o pastor Ernani – figuras que saíram do “Sul Maravilha” para o interior da Amazônia, prestes a ser devastada pelas indústrias madeireiras. Essa atração pelos contrastes continua atraindo Brant, que com suas tomadas longas e interpretações viscerais tornou-se um dos diretores esteticamente mais interessantes surgidos no Brasil nos últimos quinze anos. Seus filmes apresentam um país paradoxal, perdido entre um e todos, entre sociedade e indivíduo, entre a abordagem política-social e aquela sondagem psicológica devastadora que toca em vários pontos do que é existir dentro de uma sociedade tão rachada assim.

O próprio título indica como o filme navega entre desespero, violência, sexo, traição, amor e esperança. É um filme de ritmo lento, que dá espaço para que os personagens divaguem e tenham seus devaneios particulares – a lírica primeira seqüência já dá o tom ao mesmo tempo sensual e seco, atraente e perigoso do filme, encenando um breve “sonhar acordado” de Cauby.

As elipses do filme, sempre saltando para momentos particulares, querem muito mais “confundir” – ou questionar, como queira – do que explicitar a situação. É um filme sobretudo sutil, violento sem praticamente jamais mostrar a violência – seja porque a narrativa pula o tempo e o espaço dela, seja porque o campo interno do plano desvie. Em compensação, vemos o pouco que sua linguagem explora graficamente, invade pessoalmente: sempre recebemos as conseqüências da violência e seus efeitos psicológicos devastadores – a maneira como Cauby e Lavínia entram no terceiro ato do filme – já criando todo um ato à parte na obra que vinha sido apresentada até então, mostram dois sobreviventes destruídos por mexerem com um Brasil árido e impiedoso com indivíduos mais sensíveis, que não vivem sob estereótipos cristalizados.

Os personagens de Brant sempre lutam para escapar das tradições sociais e sempre acabam pagando por isso – a sociedade nunca tratou bem da marginália, afinal de contas. E é só depois da completa maré de azar passar, das situações escabrosas, dos períodos de negação e isolamento, que poderemos ter a nossa redenção. Eu Receberia... com a sua estrutura sempre aberta, com sua abordagem que prefere enfocar mais o particular do que o que está aos olhos – prestando atenção mais aos momentos que seus protagonistas escondem do resto do mundo do que necessariamente na trama, que nem por isso deixa de andar – acaba, inevitavelmente, sem responder todas as questões. Como acontece nesse tipo de final – tristes e esperançosos ao mesmo tempo – só dependerá dos dois, mais uma vez, para que se possa responder. E Brant como cineasta, não responde; como seu parceiro Aquino, apenas busca.

Comentários (14)

Josianne Diniz | segunda-feira, 28 de Maio de 2012 - 14:47

Bom, tive a oportunidade de ler o livro e posso dizer que o filme não consegue atingir nem de longe a intensidade da obra!
Sei que são linguagens diferentes mas o filme deixa muito a desejar!
Não consigo entender como possa merecer um 9!
O que salva o filme é a belissima atuação e entrega da Camila Pitanga.
A atuação do Gustavo Machado - Cauby - está digna da velha vergonha alheia... Totalmente robótico e apagado!
O filme adaptou o livro de uma forma tão rasa!
Dei nota 7 em respeito à atuação da Camila Pitanga!

Rodrigo Barbosa | terça-feira, 29 de Maio de 2012 - 08:06

"A atuação do Gustavo Machado - Cauby - está digna da velha vergonha alheia... Totalmente robótico e apagado!" [2]

Concordo plenamente. Mas o filme em si consegue vencer essa "limitação" e ser uma boa obra no geral. A Camila tá sensacional! Gostei muito da edição e fotografia do filme.

Vinícius Aranha | terça-feira, 29 de Maio de 2012 - 14:33

Não achei ele ruim. Ele está comum, o necessário pra não tirar o verdadeiro foco social do filme. E uma atuação fraca não tira mérito de filme nenhum.

Rafael Medeiros | segunda-feira, 18 de Junho de 2012 - 13:09

Meu, esse filme tem a Camila Pitanga. Uma belezinha, mas que não pode ser levada a sério.

Vou ficar é bem longe dele.

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