“Comédia romântica” gênero que leva milhares ao cinema, ao passo que causa arrepios em muitos que gostam de um cinema não piegas. Por ser um gênero que entrega dezenas de filmes que comercialmente vendem bem, mas que soam repetitivos, melodramáticos e usam de todo tipo de clichê para arrebatar os corações dos apaixonados (Nicholas Sparks??!!) é inevitável que mais de 90% desses filmes sejam mais do mesmo.
Então eis que Richard Curtis (Simplesmente Amor, Um Lugar Chamado Notting Hill, ambos filmes que aprecio muito) nos traz outro grande filme, que faz parte daqueles outros raros 10%.
Questão de Tempo nos conta a história de Tim, jovem inglês, desajeitado e que entre suas maiores “qualidades” na vida, é o constante fracasso com as mulheres o mais notável.
Ao completar 21 anos, por meio de seu pai (o ótimo e divertido Bill Nighty que rende alguns dos momentos mais divertidos e emocionantes do filme), descobre que os homens de sua família têm uma estranha peculiaridade, todos têm o dom de viajar no tempo. Enquanto alguns de seus antepassados usaram seus dons para conseguir dinheiro ou nunca trabalhar, seu pai usou o dom para ler “todos os livros que um homem poderia ler”, e aconselha Tim a usar tal dom sabiamente.
Tim então vê a possibilidade de finalmente conquistar mulheres, se dar bem no amor. E digo amor ao invés de "se dar bem com as mulheres", porque aqui está a diferença deste para com os romances genéricos, Curtis ao unir esses elementos, viagem no tempo + amor nos traz um filme que flerta a todo momento com o "fabulesco". A começar pelos membros da família, todos com características quase caricaturais (Kit Kat, irmã de Tim é a mais notável, descrita pelo mesmo como "a coisa mais maravilhosa do mundo") em um universo mágico (casa da família). Para reforçar tal visão, entendo que o pôster do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain destacado no quarto de Tim não seja por acaso.
A trama se desenvolve com Tim indo morar em Londres na casa de Harry (Tom Hollander), homem de meia idade frustrado e fracassado em todas as esferas da vida, o que acaba por ser um contraste narrativo e visual com o protagonista.
Em uma saída ocasional com um amigo de trabalho, Tim conhece Mary (Rachel McAdams), garota doce, a qual se apaixona. E é em torno dessa relação que o uso viagem do tempo é tão bem utilizado, seja para o personagem consertar alguma atitude boba que cometeu, seja para dizer o que ele gostaria de ter dito e não disse, e outras ótimas e engraçadas situações do competente roteiro.
O entrosamento do casal é ótimo e acompanhado de boas atuações. Destaco que a caracterização da personagem de McAdams foi fundamental para fazer a relação do casal verossímil, eis que em momento algum o diretor a trata como uma “sex symbol” típica do gênero, tornando a relação dos dois algo natural e crível para o “mundo real”.
Coube à direção fazer algo inventivo e diferente e expor as qualidades técnicas e escolhas acertadas. Desde a montagem, linda fotografia, e em um dos mais belos momentos do filme em que mostra o desenvolvimento do relacionamento do casal acompanhado da ótima trilha “How Long I Will Love You”, sendo impossível ao espectador tirar o sorriso do rosto. Dos momentos “feel good” até aos mais intimistas, Curtis mescla muito bem esses momentos, que nunca soam forçados.
Os objetivos dos personagens são muito bem definidos. Tim por exemplo em momento algum usa do dom para se aproveitar das pessoas, mas sim para corrigir seus próprios erros ou ajudar os entes queridos com seus problemas, deixando mais evidente a nobreza por trás de suas intenções.
E quando seu pai revela outro grande segredo com relação ao dom, volto à busca por amor do personagem a qual apontei no início, e concluo que a pretensão que inicialmente tinha como objetivo encontrar um simples romance, acaba se tornando mais ampla, e Tim encontra na vida não só um romance, mas o amor pela vida e pela família. Apesar das adversidades, encontrando a maturidade e a plena felicidade, a viagem no tempo torna-se apenas uma mera alusão ao saudosismo que temos diariamente de todos os bons momentos que a vida nos oferece.
Recomendo essa que é uma das obras mais genuínas e deliciosas do gênero.
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