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O Olhar Através da América Animada


É espantoso observar o trajeto do Olhar de Cinema, festival curitibano às portas de começar mais uma edição. O Cineplayers cobriu o festival pela primeira vez ano passado, na ocasião da sexta edição; sim, um dos melhores festivais do país hoje está apenas indo para a sétima, e o espanto vem de observar o lugar ambicioso almejado pelos seus mantenedores e fundadores, o diretor de cinema Aly Muritiba, Antônio Junior (que também é diretor artístico e geral) e Marisa Merlo (também curadora).  Sem questionar a importância, o peso e a qualidade de eventos como a Mostra de Tiradentes, o Indie Festival e mesmo lugares de porte inalcançável como a Mostra Internacional de São Paulo, a proposta do Olhar é outra - talvez seja expandir exatamente o olhar, e o sossego diante da tela. Tendo uma competição interna para longas e curtas, em caráter nacional e internacional, o Olhar de Cinema aposta no desconcerto para pautar sua curadoria. Não há qualquer interesse de não provocar discussão, a cidade respira debate durante uma semana, e esses debates além de literais (o Festival procura manter mesas sobre seus filmes e realizadores de cada ano, além de temas caros ao cinema de ontem e hoje), também imperam as discussões entre cinéfilos, imprensa, público e autores pelas ruas da cidade, concentrada num cinema urgente e provocador.

Em tão pouco tempo o Olhar já carrega o melhor do que tantos festivais já trazem, uma vitrine do cinema brasileiro autoral, um amplo painel do cinema mundial independente e exibição de clássicos de todos os tempos em versões definitivas. Se ano passado a curadoria homenageou a tailandesa Anocha Suwichakornpong (História Mundana) e revisitou a obra dessa cineasta, o festival acaba de anunciar a americana Janie Geiser como a homenageada do ano. Geiser nasceu em Louisiana e mora em Los Angeles há duas décadas, onde é professora na Escola de Teatro na California Institute of Arts. Ela foi pintora e desenhista antes de ganhar destaque como criadora de fantoches experimentais no teatro. Há mais de 30 anos, começou a fazer curtas-metragens a partir de colagens e cada um de seus filmes está cheio de intrigantes mistérios e histórias secretas, que, ao serem compartilhados com o público, o inspiram a imaginar sua própria história. Assim como Anocha, Janie vai ter sua obra apresentada ao país (com exceção de 'The Hummingbird Wars') pela primeira vez, e em Curitiba a americana virá lançar em estreia mundial seu novo filme, Valeria Street. Além de 16 curtas divididos em quatro programas, Janie também escolherá alguns filmes que a inspiram e referenciam, cuja exibição também será feita no Olhar. Além disso tudo, debates com a cineasta também serão possíveis, além de uma espécie de 'conversa animada', onde Janie fará associação entre alguns de seus filmes e obras correspondentes.

"A idéia de uma retrospectiva de meus filmes no Brasil - um país que sempre quis visitar e que estou ansiosa para finalmente conhecer - é atraente, surpreendente, comovente, assustadora e estimulante", diz Geiser. Segundo ela, "o ato de olhar para trás me intriga porque sempre vi meus filmes como parte de um processo contínuo avançando pelo tempo. Estou interessada no poder emocional dos objetos para iluminar o que significa ser humano. As imagens servem como pontes entre vida e não-vida, entre animado e inanimado, como naves para atravessar tempo e lugar, e ainda assim, falar com o momento presente. Os filmes podem revelar-se a espectadores que talvez não conheçam suas fontes ou histórias. O conhecimento nunca é necessário. Quando os filmes são abordados como pinturas, os espectadores podem confiar em seus instintos, deixar imagens, cores e sons sobre eles, e encontrar ou intuir suas próprias respostas. Não existe uma única maneira de ver esse cinema. Ao contrário, deixe ele te levar aonde te levar, e isso pode significar algum lugar onde nunca estive.”

O Olhar de Cinema, que jogou luz sobre Anocha Suwichakornpong ano passado, observou sua obra e a debateu, nos apresentou a uma voz madura e consagrada em seu país, agora pretende fazer o mesmo por Janie Geiser. Mulher com diferentes funções dentro da arte, seus filmes serão finalmente conhecidos no Brasil. Isso tudo e muito mais entre os próximos 6 e 14 de junho, no festival mais surpreendente do país. Aguardem as próximas notícias sobre o Olhar de Cinema aqui no Cineplayers. 

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