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Olhar de Cinema - Retrospectiva | Rouch e Mambéty rumo a Curitiba


O Olhar de Cinema continua surpreendente e disposto a marcar seu nome no circuito de festivais brasileiro como o mais ousado, qualitativo e abrangente entre seus pares. No momento onde nossa sociedade vive a obrigatória discussão sobre a expansão da voz e representação negra nos espaços de discussão incluindo os lugares da Arte, os curadores prepararam um encontro e um espelhamento muito feliz entre dois mestres precursores, o senegalês Djibril Diop Mambéty e o francês Jean Rouch, das muitas atrações de respeito apresentadas entre os próximos 6 e 14 de junho. 

Mesas de debates estão sendo formadas pelo festival com o intuito de debater a influência no cinema desses dois grandes artistas e os ecos que podem ser sentidos através de suas obras pelo cinema, mas especificamente como sua obra faz sentido e precisa ser avaliada à luz do nosso tempo e da nossa realidade, que pode influenciar não apenas os realizadores de agora como também o cinéfilo da atualidade.

Falecido aos 87 anos num acidente automobilístico em 2004, Rouch se encantou pelo Níger em 1941, quando o visitou pela primeira vez ainda trabalhando como engenheiro. Impressionado pelos rituais e cerimônias locais que eventualmente passaria a registrar em seus filmes, grande parte deles foram considerados documentários na época do lançamento, como Os mestres loucos (1955), Eu, um negro (1958) e muitos outros, embora resultassem de uma elaborada mescla de cenas roteirizadas e reencenações com registros captados em estilo vérité, influenciando nomes como Jean-Luc Godard e os demais integrantes da Nouvelle Vague francesa, assim como cineastas africanos, dentre os quais a senegalesa Safi Faye, estrela do filme de Rouch Pouco a pouco (1969).

Mambéty por sua vez foi poeta, artista do teatro, orador e músico, além de diretor de sete filmes marcantes ao longo de 30 anos, dos quais seis estarão em Curitiba. Infelizmente o senegalês faleceu aos 53 anos vítima de câncer de pulmão em 1998, muito prematuramente, deixando uma filmografia que poderia ter se expandido além. Vários de seus filmes são ficções alegóricas, tragicômicas por natureza, realizados com atores do Senegal em seus locais de origem. Os protagonistas dos filmes de Mambéty, como de A Viagem da Hiena (1973) e Le Franc (1994), são cidadãos autônomos que transitam entre visões de utopia e distopia, à medida que lutam contra o sentimento de serem sujeitos do colonialismo. Sua influência pode ser sentida até hoje em cineastas como por exemplo para Souleymane Cissé e Abderrahmane Sissako, ele também foi referência para cineastas contemporâneos de outros continentes, incluindo o estadunidense Billy Woodberry e sua própria sobrinha Mati Diop, diretora e atriz de origem francesa. Criou em seus filmes personagens que simplesmente anseiam a liberdade de ser o que quiserem ser.

"A escolha dessa dupla nos permite o mergulho em duas facetas de uma mesma história” diz o diretor de programação do Olhar de Cinema, Antônio Junior. “Ambas as cinematografias se completam, ao mesmo tempo que se chocam, propiciando assim uma oportunidade única de reflexão sobre o cinema e o nosso mundo. A experiência com propostas cinematográficas através de duas visões de mundo, provenientes de locais e visões tão distintas, catalisa ainda mais a força que cada um dos cineastas possui por si mesmo". 

Para a curadora Carla Italiano, a oportunidade da retrospectiva é também trazer a tona no mês que vem reflexões sobre as semelhanças e diferenças entre as realidades dos países africanos exibidos na retrospectiva e a do Brasil hoje. “Ao propor um diálogo inédito entre cineastas que compartilharam a mesma época e o mesmo continente, embora de pontos de vista distintos, a mostra revela as diferenças e similaridades estilísticas e temáticas que singularizam estas obras de enorme potência”, disse Carla, que pensou e organizou a retrospectiva ao lado de Aaron Cutler. 

Abaixo temos os títulos que farão parte da retrospectiva dos diretores. 

Mambéty:

Contras’city (1968)
A Viagem da Hiena (Touki Bouki, 1973) 
Parlons Grand-mère (1990)
Hienas (Hyènes, 1992) 
Le Franc (1994)   
A pequena vendedora de sol (La Petite Vendeuse de Soleil, 1999) 

Rouch:

Os mestres loucos (Les Maîtres fous, 1955) 
Mammy Water (1956)
Eu, um negro (Moi, un noir, 1958)
Crônica de um verão (Chronique d’un été, co-direção de Edgar Morin, 1961)
A pirâmide humana (La Pyramide humaine, 1961)
A punição (La Punition ou les fausses rencontres, 1962)
A caça ao leão com arco (La Chasse au lion à l’arc, 1965) 

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