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Perfis

Foto de Alida Valli

Alida Valli

Idade
85 anos
Nascimento
31/03/1921
Falecimento
22/04/2006
País de nascimento
Itália
Local de nascimento
Pola, Istria (atual Croácia)

Dona de uma beleza gélida e de penetrantes olhos verdes, a "namoradinha da Itália" não precisou dos holofotes de Hollywood para se estabelecer como atriz de sucesso.

Sua marca registrada era a beleza gélida e os grandes olhos verdes. Nascida na Itália, veio para os EUA em meados da década de 40. Tão forte era seu sotaque, que sua carreira no mercado americano se encerrou mais cedo do que seu talento anunciava. Com poucos filmes realizados na terra do Tio Sam, preferiu retornar para sua Terra Natal e por lá, longe dos holofotes de Hollywood, desenvolver sua carreira de atriz. Pois foi nessa mesma Itália, em Roma, que ela faleceu, no dia 22 de maio de 2006, aos 84 anos. As causas da morte não foram divulgadas. Seu nome: Alida Valli. Para os íntimos, apenas Valli.

Ao registrá-la, em 31 de maio de 1921, na cidade de Pola, região que atualmente pertence à Croácia, seus pais, um jornalista nascido na Áustria e uma dona de casa italiana, mandaram o cartorário do registro civil escrever o nome Alida Maria Laura von Altenburger. Durante sua infância, estudou artes dramáticas em escolas romanas e realizou pequenas participações em filmes de menor expressão. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que Alida se tornou um nome respeitado no cinema italiano. Suas atuações em fitas como Manon Lescaut (1940) e Pequeno Grande Mundo (1941), de Mario Soldati, pelo qual ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza, fizeram o público e a crítica perceber que estavam diante de uma verdadeira estrela, união de talento e beleza numa só pessoa.

O apogeu desta primeira fase veio com a adaptação do romance de Ayn Rand, a superprodução Nós, os Vivos (1942).  Na história, Alida interpretava uma garota russa que, em nome de seu amor pelo personagem vivido por Rossano Brazzi, relacionava-se por dinheiro com um membro da polícia secreta.

Em 1943, por não compartilhar com as temáticas fascistas dos filmes da época, a atriz resolveu abandonar o cinema. Neste período, casou-se com o pintor surrealista Oscar De Mejo, com quem teve dois filhos (a atriz se separaria em 1954, de forma extremamente conturbada). Em 1946, com o fim da guerra, reviu sua decisão e voltou a filmar. Novamente sob a batuta do experiente Mario Soldati, Alida viveu nas telas a personagem título Eugenie Grandet, numa adaptação do romance trágico de Honoré de Balzac.

Justamente nesta época, o produtor David O. Selznick procurava uma nova estrela que substituísse suas duas descobertas anteriores. No final da década de 30, fora ele que vislumbrara na britânica e desconhecida Vivien Leigh a sua Scarlet O´Hara, dando início à epopéia que foi  E o Vento Levou. Anos mais tarde, depois de assistir a uma cópia de um obscuro filme sueco chamado Intermezzo, o sexto sentido de Selznick novamente entrou em cena para lhe dizer que a protagonista daquela fita, uma mocinha alta, meio desengoçada, mas lindíssima chamada Ingrid Bergman, tinha carisma suficiente para se tornar uma atriz do primeiro escalão. Ela foi contratada no início dos anos 40 e estrelou dois filmes para o produtor, ambos dirigidos por Alfred Hitchcock: Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945) e Interlúdio (Notorious,1946). Nos dois casos, o tempo provou que Selznick estava certo. Logo, quando a figura de Alida se projetou à sua frente, numa tela de cinema do interior da Itália, o produtor teve certeza que outra jóia lhe caíra nas mãos. Daí para o contrato e o passaporte rumo aos EUA, foi um passo.

No entanto, por razões que nem sempre se explicam, a aposta de Selznick não vingou como ele esperava. Seu primeiro filme em solo americano foi Agonia de Amor (The Paradine Case, 1947), dirigido por Hitchcock, em que Alida interpretava Maddalena Case, suspeita de assassinato e que é defendida nos tribunais por Gregory Peck. Sua beleza fria era ingrediente perfeito para a caracterização da ambigüidade  da personagem. Apesar disso, o resultado morno da fita parece ter influenciado a análise do trabalho da atriz. De fato, Agonia de Amor é um dos filmes mais fracos que Hitchcock realizou nos anos 40. Hoje, os críticos costumam vincular esse revés às diversas interferências que Selznick fez durante as filmagens, o que provocou em Hitchcock, o homem centralizador por excelência, a perda de interesse no projeto.

Dois anos depois, Selznick deu a ela o papel principal no seu novo projeto, o clássico O Terceiro Homem (The Third Man) adaptação do romance de Graham Greene, dirigira por Carol Reed. No filme, Alida Valli interpreta a atriz Anna Schmidt. Ao lado de Joseph Cotten, ela investiga a morte do personagem de Orson Welles, numa Viena do pós-guerra, do mercado negro, do vale-tudo. A cena final é das mais famosas da história do cinema, em que Alida Valli caminha por uma longa alameda, enquanto Joseph Cotten a aguarda em primeiro plano. Uma aula de ambigüidade. Mais uma vez seu ar europeu caia como uma luva ao papel. Contudo, novamente sua interpretação foi relegada a um plano inferior às outras qualidades do filme, como os planos estilizados, o envolvimento (ou não) de Orson Welles na direção, a trilha sonora composta por Anton Kaaras, a frase sobre os relógios suíços dita por Welles na roda gigante etc.

Provavelmente insatisfeita com esta recepção, Alida Valli resolveu pegar seu boné e voltar para a Itália, de onde nunca mais saiu. Foi lá que a atriz filmou praticamente todos os demais filmes da sua carreira. Desta fase italiana, destaque para sua participação em Sedução da Carne (Senso), de Luchino Visconti, realizado em 1954. Para o papel da Condessa Lívia Serpieri, o cineasta desejava Ingrid Bergman. No entanto, um ciumento marido chamado Roberto Rossellini tornou esse sonho impossível. Na mesma hora, o personagem caiu no colo de Alida Valli que o desempenhou com o talento de sempre, mesmo tendo ao seu lado, como parceiro de tela, o fraco e efeminado Farley Granger.

Sedução da Carne marca importante virada na carreira de Visconti. A partir daí, o cineasta abandonou sua veia neo-realista para embarcar em obras mais operístiscas e épicas, nas quais o tema da decadência vai estar sempre presente. Alida Valli estava ali para contribuir.

Ironia ou não, em 1957, Alida Valli participou de uma obra que também representou o divisor de águas na filmografia de outro grande diretor. Trata-se de O Grito (Il Grido), de Miguelangelo Antonioni, um dos primeiros diretores italianos a notar o fim do movimento neo-realista e a imprimir um tom mais intimista e filosófico em seus personagens. Alida interpreta Irma, mulher casada mas que mantém um relacionamento com Aldo, personagem de Steve Cochran, astro americano de faroestes B. Do relacionamento de ambos, trágicas conseqüências advirão. O Grito prenuncia a trilogia da incomunicabilidade, iniciada por Antonioni dois anos depois, em A Aventura.

De lá para cá, Alida Valli teve importantes participações em outras produções, como em Olhos sem Face (1960), produção de horror dirigida pelo francês Georges Franju; Ofélia (1962), versão livre de Hamlet,  dirigida por Claude Chabrol; Édipo Rei (1967), adaptação do texto clássico de Sófocles, realizado por Píer Paolo Pasolini; A Estratégia da Aranha (1970), 1900 (1976) e La Luna (1979), todos os três dirigidos por Bernardo Bertolucci.

Em 1997, aos 76 anos, Alida Valli voltou ao Festival de Veneza para receber o Leão de Ouro Honorário pelo conjunto da obra. Em 2002, aos 81 anos, realizou seu último trabalho, Anjo da Morte

Seja no papel de baronesas, seja no de avós, seja no de esposas suspeitas, ela trazia aquela mesma beleza fria, os olhos verdes penetrantes e um incomparável senso ético da arte de interpretar. Era difícil não se apaixonar por Alida Valli. Ou, para os íntimos, apenas Valli.

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
1970
7,1
1900
Senhora Pioppi
1976
7,9
La Luna
Mãe de Giuseppe
1979
7,0
Anjo da Morte
Doña Catalina
2002
Ao Cair da Noite
Aunt Florentine
1958
1974
Freira Assassina, A
Madre Superiora
1979
Terra Cruel
Claude
1957
1976
Tão Longa Ausência, Uma
Thérèse Langlois
1961
1960
8,1
8,0
Sedução da Carne
Condessa Livia Serpieri
1954
8,2
8,0
1953
Terceiro Homem, O
Anna Schmidt
1949
8,2
8,3
Mansão do Inferno
Carol,a zeladora
1980
7,5
7,1
Agonia de Amor
Sra. Maddalena Anna Paradine
1947
7,0
Suspiria
Sra. Tanner
1977
8,2
7,8
1972
8,4
8,6
Édipo Rei
Merope
1967
7,6
Grito, O
Irmã
1957
7,6
Lisa e o Diabo
Condessa
1973
8,8
7,9
Ophélia
Claudia Lesurf
1963