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Perfis

Foto de Jill Clayburgh

Jill Clayburgh

Idade
66 anos
Nascimento
30/04/1944
Falecimento
05/11/2010
País de nascimento
Estados Unidos
Local de nascimento
Nova York, Nova York

Mesmo não tendo alcançado a fama de sua contemporâneas, como Jane Fonda e Meryl Streep, Jill Clayburgh foi o símbolo do feminismo na Hollywood da segunda metade dos anos 1970.

Jill Clayburgh nasceu em 30 de abril de 1944, na cidade de Nova York. Sua infância foi privilegiada. O pai, Albert Henry, era vice-presidente de duas grandes empresas têxteis, e a mãe, Julie, secretária do produtor teatral David Merrick.

Aos 14 anos, ao assistir o desempenho de Jean Arthur numa montagem teatral de Peter Pan, ela percebeu que o que queria fazer da vida: ser atriz. Suas primeiras experiências, ainda em caráter amador, se deram no conceituado colégio Sarah Lawrence, onde também dedicava seu tempo a estudos de religião, filosofia e literatura. Em 1963, quando ainda cursava o Sarah Lawrence, Jill atuou de Festa de Casamento, seu primeiro filme feito para cinema, dirigido em 16 mm pelo colega Brian de Palma e estrelado por Robert De Niro (que, de tão desconhecido, ainda era creditado com Denero). No entanto, a companhia que financiou o projeto quebrou e a obra só foi lançada comercialmente nos EUA em 1969.

Em 1966, depois de formada, Clayburgh se inscreveu na Companhia de Teatro Charles Street, em Boston. Lá conheceu um ainda novato Al Pacino, com quem manteria um relacionamento amoroso entre 1970 e 1975.

De volta a Nova York, Jill participou de algumas produções no circuito off-Broadway. Sua estréia no centro nervoso do teatro da Big Apple foi em 1968, na peça Sudden & Accidental Re-Education of Horse Johnson, ao lado de Jack Klugman. Em 1970, esteve no musical The Rotschilds, da dupla Jerry Bock e Sheldon Harnick. Dois anos depois estrelou Pippin, outro musical, dessa vez de autoria de Stephen Schwartz.

Com as participações no teatro na Costa Leste, seu rosto passou a se tornar mais conhecido e seu talento começou a chamar a atenção do pessoal na Costa Oeste. No início, seus papéis que os executivos de Hollywood lhe reservaram foram abaixo da crítica: foi uma marxista comunista em O Complexo de Portnoy (1972), baseado no romance clássico de Philip Roth e único filme dirigido pelo roteirista Ernest Lehman; teve pouco a fazer como a ex-mulher de Ryan O´Neal na comédia O Ladrão que Veio Jantar (1973), de Bud Yorkin; não deixou saudade como uma stripper em O Homem Terminal (1974), de Mike Hodges, em que atuava ao lado de George Segal; e fechou o período de baixa revivendo na tela a atriz Carole Lombard, no drama Os Ídolos Também Amam (1976), de Sidney J. Furie, que retratava o romance da estrela dos anos 30 com o galã Clark Gable.

A partir daí a começou a mudar. Ainda em 1976, Jill participou na comédia O Expresso para Chicago, com a dupla Richard Pryor e Gene Wilder. Seu papel era pra lá de secundário, mas o estrondoso sucesso do filme (sim, em meados dos anos 70, Pryor e Wilder eram os "caras") fez com que os executivos passassem a olhá-la de uma forma diferente. Em 1977, esteve em A Disputa do Sexo, de Michael Ritchie, em que interpretava uma jovem que se envolvia com os dois principais jogadores do time de futebol de que seu pai é dono. O fato de contracenar com duas das principais estrelas dos anos 70, Burt Reynolds e Kris Kristofferson, novamente lhe deu ainda mais visibilidade.

Com dois sucessos em sequência, a carreira de Clayburgh estava prestes a tomar um novo rumo. E isso aconteceu em 1978. Era a época em que os movimentos feministas começavam a ganhar força. Até ali, presa às regras dos conservadores anos 50 e 60, Hollywood ainda vendia ao publico o retrato do american way of life, em cuja moldura as mulheres se limitavam a cumprir funções estritamente domésticas e maternais. A partir da metade da década de 70 a coisa começou a mudar. A geração das eternas virgens e das esposas dedicadas (geralmente interpretadas por Doris Day, Jane Wyman e Lana Turner) estava saindo de cena. Em seu lugar, entrava uma nova linhagem de mulheres, contestadoras, independentes, e formadoras de opinião. Nomes como Ellen Burstyn, Marsha Mason, Faye Dunaway, Diane Keaton, Jane Fonda e Sally Field passavam a dar as cartas. Um prova da mudança de ares estava na própria premiação do Oscar daqueles anos: em Alice Não Mora Mais Aqui (1974), Burstyn interpretava uma mãe divorciada; em Rede de Intrigas (1976), Dunaway era a manda-chuva de uma rede de televisão; em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Keaton usava modelitos masculinos e não ficava vermelha ao confessar que gostava de sexo; em Amargo Regresso (1978), Fonda, mesmo casada, deixava se apaixonar por um ex-combatente da Guerra do Vietnã; em Norma Rae (1979), Sally Field liderava uma revolução sindical.

O diretor Paul Mazursky foi um dos que primeiro percebeu a nova onda. Em 1969, em plena era da revolução sexual, ele já tinha levado às telas a história de dois casais que resolvem experimentar o swing. O filme chamava-se Bob, Carol, Ted e Alice. Apesar de não ser tão incisivo quanto poderia, marcou uma época. Quase dez anos depois, em 1978, ele resolveu retratar na tela a vida da mulher real, a anti-Marilyn Monroe, a anti-Jane Mansfield. Ele queria capturar a mulher que se encontrava nas ruas, nos supermercados, na vizinhança e no trabalho (sim, elas estavam deixando as tarefas do lar e partindo para a labuta). Mazursky colocou todas essas idéias no papel. Nascia ali Uma Mulher Descasada. Para o papel principal, o diretor convidou Jill Clayburgh. Jill interpreta Erica, uma novaiorquina de classe média, 30 e poucos anos e casada há 16 com um advogado. Num belo dia, seu marido lhe diz que não a ama mais e que a está trocando por uma mulher mais jovem. Repentinamente ela se vê sem o companheiro com quem dividiu mais da metade sua vida. Era difícil admitir, mas a separação a faz perceber que ao longo daqueles últimos anos, ela deixara sua personalidade de lado e se assumira como um mero acessório do parceiro. Era preciso recomeçar do zero, o que implicava assumir perante a sociedade seu novo estado civil e, posteriormente, partir para um novo relacionamento. Como era hábito nos filmes do Mazursky, a idéia era melhor que a execução. Mas Clayburgh rouba a cena, em especial na sequência em que o marido lhe conta que está apaixonado por outra mulher. O diretor situa o diálogo nas ruas de uma Nova York ensolarada e repleta de pessoas ocupadas com as tarefas do dia-a-dia. Erica ouve a revelação. Não sabe como reagir. Ela caminha pela calçada. Sem destino, parece que será engolida por aquele cenário urbano, caótico e opressor. A expressão de Clayburgh revela um misto de surpresa, raiva e decepção. Mas essencialmente, sua personagem está apavorada pelo que o futuro lhe reserva.

O júri do Festival de Cannes se rendeu a composição de Jill Clayburgh e lhe concedeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes (empatado com Isabelle Huppert). Já nos EUA, ela foi indicada tanto ao Oscar quanto ao Globo de Ouro, mas viu ambas as estatuetas serem entregues a Jane Fonda, por sua interpretação em Amargo Regresso.

Em 1979, ao mesmo tempo que se casava com o teatrólogo David Rabe, Clayburgh se estabelecia como uma das atrizes mais respeitadas em Hollywood. Num mesmo ano, ela foi chamada para viver a cantora de ópera Caterina Silveri, no polêmico La Luna, de Bernardo Bertolucci, e a professora Marilyn, em Encontros e Desencontros, de Alan J. Pakula. Em La Luna, ainda que ela não tenha sido a primeira escolha do diretor – sua preferida era Liv Ullman – Clayburgh está muito bem como a mãe que tem uma relação incestuosa com o filho viciado em heroína. Por essa atuação, ela foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Drama. Já em Encontros e Desencontros, a atriz revela seu jeito para a comédia romântica ao compor um triangulo amoroso entre o namorado (Burt Reynolds) e sua ex-mulher (Candice Bergen). Por esse filme, Jill recebeu sua segunda e última indicação ao Oscar.

Nos primeiros anos da década de 1980, Jill Clayburgh atuou em filmes que não deixaram uma maior lembrança. Em 1980, estrelou Esta é Minha Chance, em que viveu uma professora de matemática que precisa se decidir entre seu namorado (Charles Grodin) e o filho da noiva de seu pai (Michael Douglas). Em 1981, foi novamente indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Comédia, por Um Juiz Muito Louco, em que interpretou a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Suprema Corte Americana. Em 1982, esteve em Dançando como Loucos, em que viveu o personagem real de uma apresentadora de televisão viciada em comprimidos anti-depressivos. Em 1983, interpretou a advogada israelense Hanna Kaufman e sua luta pela causa Palestina, no drama político de Costa-Gavras, Hanna K.

Coincidentemente ou não, era a época que Meryl Streep começava a tomar conta do pedaço e a conquistar todos os papéis femininos disponíveis em Hollywood. Jill era apenas cinco anos mais velha e, se voltarmos no tempo, fica evidente que todos personagens que Streep desempenhou naquele período – A Mulher do Tenente Francês (1981), A Escolha de Sofia (1982), Silkwood - Retrato de uma Coragem (1983), Amor à Primeira Vista (1984) e Entre Dois Amores (1985) – poderiam muito bem ser defendidos por Clayburgh.

Talvez se sentido injustiçada pelos executivos dos estúdios (que não a viam como a primeira opção para os melhores roteiros), ou porque apenas se sentia cansada (afinal, ela vinha filmando regularmente há quase 10 anos), Jill resolveu dar uma parada de três anos. Voltou às telas em 1986, no suspense Onde Estão as Crianças? Mas o filme era tão abaixo da crítica, que logo caiu no esquecimento. No ano seguinte, esteve em Gente Diferente, dirigido pelo então prestigiado Andrey Konchalovsky. Clayburgh interpretou uma jornalista, urbana até o último fio de cabelo, que viajava até o interior dos EUA para conhecer sua prima, vivida por Barbara Hershey. Apesar de Jill ser a protagonista, foi Hershey que roubou o espetáculo e conquistou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.

Pode-se dizer que Gente Diferente foi a última produção de ponta de Jill Clayburgh. Dali em diante, sua carreira foi se alternando entre filmes de segunda linha, telefilmes, participações especiais em séries e os palcos. Em 1998, esteve num episódio de Lei e Ordem. Entre 1999 e 2001, viveu a mãe da protagonista Ally McBeal. Em 2004, foi vista em três episódios de O Desafio, e em dois de Nip/Tuck (pelos quais foi indicada ao Emmy). Em 2006, voltou à tela grande em Correndo com Tesouras, e aos palcos, numa nova montagem de Descalços no Parque, de Neil Simon. Entre 2007 e 2009, integrou o elenco fixo da série Dirty Sexy Money. Em 2010, concluiu sua participação em Amor e Outras Drogas, de Edward Zwick.

Jill Clayburgh era uma espécie de Jean Arthur dos anos 1970. Nunca foi uma estrela na acepção hollywoodiana do termo. E talvez nem quisesse. Mais que a fama, o que ela mais queria era ser desafiada por um bom personagem. Não pensava duas vezes em recusar um papel que não lhe dissesse nada como mulher. Talvez por isso sua filmografia  não tenha atingido o mesmo nível do seu talento. Provavelmente Hollywood não estava preparada para acolher sua independência, sua inteligência, sua recusa de se deixar estereotipar, e sua desconfiança em relação ao falso glamour que girava em torno da profissão. Ainda assim, Jill Clayburgh brilhou na Cidade das Redes. Um brilho fugaz, mas intenso. Típico das verdadeiras estrelas.

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
La Luna
Caterina Silveri
Globo de Ouro (indicação) 1979
7,0
Correndo com Tesouras
Agnes Finch
2006
6,6
Oscar (indicação)
Festival de Cannes (prêmio)
Globo de Ouro (indicação)
1978
E Agora, Meu Amor?
Nan Whitman
1997
5,4
Festa de Casamento
Josephine
1969
1976
6,7
Nu em Nova York
Shirley
1993
Amor e Outras Drogas
Nancy Randall
2010
5,5
6,4
Encontros e Desencontros
Marilyn Holmberg
Oscar (indicação)
Globo de Ouro (indicação)
1979
2011
6,1
6,2
Juiz Muito Louco, Um
Ruth Loomis
Globo de Ouro (indicação) 1981
Esta é Minha Chance
Kate Gunzinger
1980
Indo até o Fim
Alma Burns
1997
Homem Terminal, O
Angela Black
1974
1987
2001
Fenômeno 2
Norma Malley
2003
1992
Gemidos de Prazer
Sarah Green
1992
Onde Estão as Crianças?
Nancy Holder Eldridge
1986
Hanna K.
Hanna Kaufman
1983
Disputa dos Sexos, A
Barbara Jane Bookman
1977