OS CROODS
Não sou do tipo de telespectador fanático em animações, pelo contrário, sempre que as assisto, por mais que tente, meu senso crítico não se deixa levar pelas feições fofinhas ou pela tecnologia impressa nos mínimos detalhes visuais. Encaro as animações, antes de tudo, como cinema. E o que espero do cinema? Como todo grande admirador desta arte, apenas espero que a história contada me absorva, me faça embarcar na tela sem receios. E a magia em tudo isto não está na história em si, a magia está na maneira como esta história é contada, no seu ritmo, a cada “respiração” ou falta dela, além, é claro, da poesia das imagens. A correta junção desses elementos sempre foi o trunfo de um bom filme.
A grande magia das animações vem da superação dos desafios de sua criação visual, isto não é segredo, porém devido ao grau de excelência alcançado atualmente diria até que isto não é mais um grande empecilho para os estúdios, mas o que me parece cada vez mais evidente nas animações é que a busca por imagens cada vez mais perfeita em seus ínfimos detalhes tem deixado em segundo plano as histórias e a maneira como são contadas. Contradição com o que sempre se propôs o próprio cinema.
Os Croods me fez embarcar em sua história como há tempos não acontecia com as animações. A animação retrata a história de uma família de “homens da caverna” em meio ao fim dos tempos (a separação dos continentes). A mudança geológica do planeta traz o fim do tempo da caverna, já que obriga a família a deixar o único habitat seguro para eles, a caverna. Um enredo simples, porém muito bem conduzido.
Como já é de praxe em animações, em os Croods vemos claramente a paródia dos valores e das relações da vida contemporânea, fica evidente a analogia entre a família das cavernas com as famílias contemporâneas. O pai e chefe de família Crug é rígido e não aceita ser contrariado, a filha adolescente Eep está se rebelando às imposições do pai, o filho do meio Thunk é um menino bobo que se espelha em seu pai, a pequena Sandy é a bebê caçula um tanto quanto feroz, a mãe e esposa Ugga tentando sempre apaziguar as relação entre o pai e a filha, e a Vovó mãe de Ugga que odeia e é odiada pelo seu genro Crug.
Mas tudo muda quando encontram Guy e sua simpática preguiça (o velho golpe blasé do bichinho fofinho que sempre existem nas animações) em meio ao caos causado pela separação da Pangeia. Guy é um cara que vem de outro lugar e conhece muitas coisas misteriosas aos Croods, como, por exemplo, a técnica de fazer “sol” (fogo). O choque causado entre as ideias inovadoras de Guy e o conservadorismo e desconfiança de Crug desenham o enredo da trama, sempre acompanhado com o humor característico das animações.
A história aparentemente não apresentaria nada de mais, porém a Dreamworks teve muito tato ao conduzir esta história. Ao meu ver existe uma clara analogia entre “Os Crodds” e “O Mito da Caverna” de Platão. A evidência é muito óbvia e no filme é exposta de maneira literal com a história da família que vive na caverna e teme tudo o que desconhece. O mito da caverna de Platão trata-se, grosseiramente, de uma discussão filosófica que traz a suposição do comportamento humano diante da dificuldade em aceitar ou discutir um conhecimento que vai de encontro daquilo que foi condicionado como a única verdade pelas limitações de uma vida sem expansão.
Trazer à tona esta analogia, a família que vive na caverna e teme tudo o que desconhece e o garoto que está disposto a dividir tudo o que aprendeu, deram à narrativa da animação Os Croods um tom diferente na construção de sua história, o humor, já manjado nas animações, sejam da Dreamworks ou da Pixar, ficou em segundo plano no desenrolar do enredo. Se Os Croods não apresenta um desfecho incomum às outras animações, ganha na condução de sua história, a discussão embutida em uma forma literal, narrando a busco pelo conhecimento com um sutil tom poético: “Ir cada vez mais alto para alcançar o amanhã”. Uma animação com algo diferente para os grandinhos e com as divertidas pieguices para os ainda não tão grandinhos, uma mistura muito bem dosada pela Dreamworks que garante um bom resultado final para o público de todas idades.
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