Num fatídico maio de 1968, os rumos de uma geração seriam radicalmente mudados e uma nova ordem comportamental seria instaurada. Na França, país de origem da greve geral, o ideal revolucionário e transgressor da população militante pregava a queda dos velhos alicerces sociais e a ascensão do ideário liberal e inovador, caracterizado pela defesa da liberdade sexual e do pensamento artístico e institucional em meio a doutrina anarquista e comunista.
Entretanto, a rapidez de sua eclosão foi a mesma de seu enfraquecimento, deixando aquela data marcada exclusivamente no campo das ideias. Sua falha como revolução foi raramente tratada em obras cinematográficas, até que o diretor Olivier Assayas nos presenteia com este ensaio sobre a falência política do movimento e seu impacto sobre a geração posterior.
Com tons autobiográficos, "Depois de Maio" acompanha o jovem Gilles (Clément Métayer) na Paris de 1971, um estudante que tem que conciliar suas aspirações artísticas com seu pensamento e comportamento revolucionários. Junto com seus colegas de estudo e revolução, Gilles é a personificação da pequena adesão e persistência que o maio de 68 teve sobre a juventude da época, algo que Assayas desenvolve num complexo ciclo de relacionamentos e evoluções vivenciadas por seus personagens.
Do início combativo, permeado por atitudes extremas como protestos violentos nas ruas, pichações e vandalização da própria escola, Gilles e seus companheiros percebem que o impacto do ideário revolucionário que tanto defendem pouco repercute na sociedade francesa de então, que já “superou” os fatos ocorridos três anos antes. Assayas ilustra essa percepção de forma extremamente sutil - como quando Christine (Lola Créton) fica na porta do cinema para contar o reduzidíssimo número de pessoas que vão assistir ao filme que prega a luta dos trabalhadores - mas sem deixar de mostrar o espírito pulsante que ainda resiste dentro daqueles jovens.
Não demora muito, porém, para o fracasso do movimento se tornar claro como o sol, o que impacta profundamente a maneira de agir de Gilles e seus amigos. Embora o ideário permaneça, logo o protagonista se vê rendido a seguir o caminho da arte, que o proporciona a verdadeira expressão libertária que a política não admite. O mesmo acontece com seus parceiros, num "mix" de desilusão e amoldamento social que é tocante de se ver, especialmente Christine, a mais engajada da turma.
Nessa crise de aspirações, o amor não deixa de ser o refúgio aconchegante de cada um deles. A vida, anteriormente resumida às atividades panfletárias, agora é centrada na relação a dois e no vazio trazido pela quebra do relacionamento e da convivência conjunta, tanto que Gilles relembra dela como se fosse uma visão divina, distante mas oriunda de sua participação de um movimento revolucionário estudantil.
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