Baseado no famoso livro de Boris Vian, "A Espuma dos Dias" acompanha a rotina de Colin (Romain Duris), um pacato milionário que só não tem uma vida tediosa por conta das inúmeras excentricidades tecnológicas que o cercam em sua casa. Até que um dia, inspirado pelas recentes conquistas amorosas de seus dois melhores amigos, seu cozinheiro Nicolas (Omar Sy) e Chick (Gad Elmaleh), Colin também resolve arranjar uma companheira para si e é aí que entra em cena Chloé (Audrey Tatou), a homônima da música de Duke Ellington e a mulher que revolucionará sua vida.
Num filme guiado por essa história de amor, o diretor Michel Gondry realiza uma composição estética que visa enfatizar o espírito surrealista de sua narrativa, constantemente centrando sua câmera nos inúmeros malabarismos tecnológicos presentes na vida de seu protagonista. No entanto, assim que os minutos começam a passar e toda aquela parafernália não para de surgir, uma atrás da outra, na tela, há que se indagar a razão pela qual tamanho foco é dado a tudo aquilo, especialmente quando o filme apresenta uma enorme dificuldade em manter-se interessante. Infelizmente, a constatação que se faz é que tudo não passa de pura enrolação.
Na realidade, a sucessão de situações absurdas ou mesmo a excessiva presença dos “artefatos animados” na vida de Colin não passam de uma muleta para que a narrativa consiga sobreviver ao longo de toda a projeção. Afinal, despindo o filme de todo aquele véu fantasioso, nada mais sobra além de uma história de amor banal e muito mal desenvolvida pelo roteiro assinado pelo diretor em parceria com Luc Bossi. Portanto, ao invés de usar o aparato surrealista para adequá-lo ao propósito narrativo do longa (saudades do Buñuel!), Gondry e sua turma o usam apenas como mero instrumento de sustentação de algo que dificilmente caminharia bem sem todas aquelas frivolidades.
Além disso, o próprio romance do casal principal é praticamente jogado para escanteio nessa necessidade de “inovar” a estética. Como resultado disso, temos um filme que raramente consegue construir um vínculo emocional adequado com seu espectador, pouco aproveitando a boa química construída entre Duris e Tatou. Aliás, se há um momento em que o ambiente fantasioso parece casar bem com a proposta temática, este é a descoberta da doença de Chloé e a consequente tristeza que toma conta da alma de Colin, oportunidade em que o seu apartamento é tomado por uma crescente ruína, bem como a fotografia passa a adotar tons cinzentos e mais sombrios. Mas aí já é tarde demais e o filme sofre ao tentar se mostrar significante nesses últimos momentos.
Por isso, "A Espuma dos Dias" não consegue se salvar do marasmo emocional que havia caído já no seu tortuoso início, o que novamente traz à tona o motivo pelo qual Gondry é ainda considerado um realizador acima da média. Enfim, no meio dos sapatos-cachorro, piano que produz bebidas, comida que se mexe e de uma vida datilografada, pouco de substancial se extrai.
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