Cisne Negro e Suas Nuances Emotivas
O Cisne Negro é sem dúvida um filme diferenciado. Cinema-arte de primeira qualidade. A linguagem poética permeia o filme durante todos os seus 107 minutos. O filme é intenso, encantador, apoteótico, aterrorizante, tenso. Não há como não se entregar a atmosfera criada por Darren Aronofsky. O espectador viaja junto com a personagem na busca por respostas. Natalie Portman está perfeita. Sem dúvida é sua melhor atuação.
O filme já começa com uma cena belíssima. Uma passagem do Lago do Cisne, onde a jovem Nina Sayers (Natalie portman) desliza no ar e temos a nítida sensação de estar vendo uma ave graciosa. Logo percebemos que se trata de um sonho. Aliás, Nina vive com um pé fora da realidade. Fruto de uma relação quase incestuosa e doentia com sua mãe (Barbara Hershey), que a superprotege por que vislumbra para a filha o futuro brilhante que não teve. É como se existisse um universo paralelo entre mãe e filha e tudo o que existe a volta é ruim, obsceno e nocivo. Esquizofrenia pura. Outro efeito da influência doentia da mãe é a busca incessante pela perfeição. A protagonista se entrega por completo a rotina de ensaios. A vida de Nina é literalmente o balé.
A personagem também sente as pressões impostas pelo seu diretor ( Vincent Cassel), por quem sente grande admiração.No filme Nina luta para se tornar a bailarina principal do novo espetáculo de sua companhia, O Lago do Cisne. Ela interpreta com perfeição o cisne branco, mas peca ao executar o cisne negro justamente por ser travada, ingênua, uma morta em vida sem vontade própria. Em minha opinião o ponto alto do filme é justamente o conflito de Nina consigo mesma. Pois ela só conseguirá interpretar os dois cisnes com perfeição se arrancar as amarras psicológicas que lhe impedem de viver como uma mulher normal. Ela precisa ter mais paixão e menos técnica. Daí uma crítica do longa de que a perfeição não é simetria impecável, mas sim um misto de falhas aliado a correção.
Darren Aronofsky foi muito feliz por que estabeleceu uma analogia entre Nina e a princesa que vive aprisionada no corpo do cisne. Ora, enquanto a última vive aprisionada numa ave por causa de um feitiço, a outra vive aprisionada nas psicoses de sua mãe. Tanto Nina como a rainha dos cisnes desejam libertar-se. Para isso, elas precisam romper com tudo que lhes rodeiam.
A rainha necessita do amor para voltar à vida como antes de ser enfeitiçada. Nina precisa sair da blindagem imposta por sua mãe. Na história original do lago do Cisne, o príncipe deveria dar o seu amor a princesa enfeitiçada, para que assim ela voltasse a ser humana. Entretanto, o príncipe entrega-se a outra e ela enxerga a morte como único refúgio de sua atual condição. Nina por sua vez, também se vê ameaçada. Ainda que sejam ameaças existentes apenas em sua cabeça. Vive aterrorizada com a possível perda de sua grande redenção que seria o papel principal no espetáculo. Está aí mais uma analogia criada pelo diretor. Aliás, o filme O Cisne Negro é uma versão contemporânea para O Lago do Cisne. O cisne branco é Nina sob a tutela de sua mãe e com o seu piegas medo da vida. Se no lago do Cisne a rainha dos cisnes só enxerga redenção na morte, no Cisne Negro a morte também é a única saída para Nina.
Aflaudisio Dantas
texto publicado em http://tudosobrepeliculas.blogspot.com/
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