Os Transformers, inicialmente uma linha de brinquedos criada pela Hasbro e Takara Tomy nos anos 80, foram popularizados pelo desenho animado homônimo e, mais recentemente, pelos filmes dirigidos por Michael Bay. "Transformers one" tenta discutir a origem do Optimus, e é produzido pelo Bay.
É um filme com uma pegada quase inocente, no sentido de que apresenta um universo conhecido e narra uma história estilo jornada, sendo os protagonistas parte de um grupo de "mineradores", isto é, estrato mais baixo de classificação dos veículos, cujo trabalho se equipara ao subemprego humano, e a dupla de amigos que irão tentar desvendar o que vem ocorrendo com as fontes de energia e com os transformers mais antigos. Assim, a história nada mais é do que uma metáfora da vida humana, uma vez que esses robôs alienígenas que se transformam em veículos e armas têm uma forte ligação com os valores e símbolos associados ao American Way of Life, especialmente no que diz respeito ao consumismo, à tecnologia e à ideia do self-made man, características centrais da narrativa neoliberal.
No universo dos Transformers, os robôs alienígenas se transformam principalmente em veículos, como carros, aviões e caminhões, que são representações clássicas do poder industrial e do desejo humano por bens materiais. Nos EUA, o carro é mais do que um simples meio de transporte; ele representa liberdade individual, status e o sucesso pessoal. Essa ligação entre carros e identidade é explorada pelos filmes, onde veículos de alta performance, como os muscle cars americanos, se tornam símbolos dos personagens principais. A transformação dos robôs em veículos é uma metáfora do desejo humano de domar e controlar a tecnologia, associada diretamente ao consumismo e à ostentação material.
A luta entre Autobots e Decepticons, as duas facções dos Transformers retratada nos filmes anteriores, gira em torno de fontes de energia. A busca incessante por energia, especialmente a Energia (Energon), reflete a dependência do capitalismo global em recursos naturais, como petróleo e gás, fundamentais para a manutenção do estilo de vida americano. A corrida por energia é central para o crescimento econômico e a manutenção do poderio tecnológico. Nos filmes, essa busca por uma energia ilimitada também simboliza o desejo do capitalismo moderno por crescimento sem limites e pela expansão tecnológica como solução para problemas sociais, mesmo que isso signifique conflitos ou destruição.
A ideia de que o indivíduo é responsável pelo seu próprio destino, capaz de superar quaisquer obstáculos por meio do esforço e da determinação pessoal, é central nos arcos dos personagens. Os dois mineradores que se tornarão arquinimigos representam o cidadão comum que, por meio de sua própria astúcia e perseverança, alcança grandeza ao lado dos Autobots. Isso reflete o mito do self-made man, que, nos Estados Unidos, é a encarnação do ideal neoliberal: qualquer um, com trabalho duro e persistência, pode "fazer-se" e alcançar o sucesso. Assim como na vida real, o herói (e anti-herói no caso) deve correr atrás dos seus sonhos de forma individual, independente das adversidades que a sociedade impõe.
A batalha pelo controle de tecnologia avançada e por armas extremamente poderosas reflete a dependência do complexo militar-industrial dos EUA, uma característica marcante da política econômica e externa do país. As guerras alimentam a indústria e mantêm o ciclo de inovação tecnológica em andamento, o que, por sua vez, gera emprego e crescimento econômico. Assim, o universo dos Transformers pode ser interpretado como um reflexo desse mecanismo: a guerra se torna um motor para o desenvolvimento tecnológico, mas também para o consumismo de massa, na medida em que o conflito gera a necessidade de invenções e avanços.
O universo dos Transformers, sintetizado muito bem nessa animção, em seus filmes e produtos derivados, é uma encarnação dos valores centrais do American Way of Life, refletindo a obsessão por bens materiais, especialmente carros, o uso de tecnologias avançadas para garantir poder e status, e a busca inesgotável por energia. Tudo isso se encaixa na ideologia neoliberal, onde o indivíduo é encorajado a perseguir seus sonhos e alcançar o sucesso de forma independente, muitas vezes em um cenário competitivo e alimentado por consumo e inovação tecnológica. No fim, os Transformers, ao mesmo tempo que são uma fantasia de ação, encapsulam elementos culturais profundos da sociedade americana moderna.
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