A cena inicial da câmera perseguindo o passarinho e penetrando minuciosamente na condução dos retirantes já mostra um salto na técnica, para o bem e para o mal: com mais recursos, o filme até consegue provocar a imersão, mas perde na naturalidade espacial daquele sertão.
Alguns personagens retornam, outros não, alguns novos funcionam muito bem, outros não. E com isso o roteiro navega entre a mais pura homenagem e consciente de que a continuação não irá superar o original, o que já limita de imediato as pretensões da história em alçar voos maiores, tanto que muitas falas se repetem, e para piorar, a cena final mais parece um flashback.
Com isso, temos um filme por demais irregular: artificial em certos momentos, apegado demais ao que funcionou no primeiro com piadas e tiques repetidos, cenas sem criatividade baseadas na pura reprodução do original, arcos narrativos que não se completam.
Havia ali um caminho interessante para se explorar: a política no sertão. Com fome (uma cena chave de João Grilo para o despertar das desigualdades sociais), os protagonistas se deparam com disputas por poder mais viscerais e materiais do que o primeiro, com direito a eleição (muito porcamente desenvolvida), meios de comunicação de massa (rádio), instrumentalização da fé.
Todos os tópicos são deixados de lado e, do meio para o final, o desenvolvimento dos temas cede lugar a uma repetição absurda dos parâmetros do primeiro, meio para cumprir tabela. Uma pena. Se não fosse o talento de Selton e Mateus, seria um fiasco ainda maior.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário