Pierre Nora, um historiador francês, introduziu o conceito de lugares de memória (lieux de mémoire), que são espaços simbólicos onde a memória coletiva é cristalizada, como monumentos, museus, arquivos e até mesmo rituais. Para Nora, a modernidade e o avanço das sociedades capitalistas e globalizadas levaram a uma perda das tradições e de uma memória "vivida", sendo necessário preservar certos locais físicos ou simbólicos para garantir a continuidade de uma memória coletiva.
Assim, Alice Winocour nos entrega um filme cuja cena chave acontece de repente, a partir da qual a protagonista, tempos depois, precisará revisitá-la, não apenas para juntar as peças do seu eu, mas também de forma muito coletiva (e há espaço para tudo aqui, desde relações de trabalho, identidades ou mesmo imigração e xenofobia).
Ainda que o roteiro não saiba exatamente o que quer mostrar, Virginie Efira se mostra segura o suficiente para fazer uma mulher perdida nessa busca por solucionar inquietações que ficam impregnadas.
A sociologia da memória examina como a lembrança é moldada pelas interações sociais e como grupos e instituições constroem narrativas coletivas. Autores como Maurice Halbwachs e Pierre Nora contribuíram para fundamentar a ideia de que a memória não é um fenômeno apenas pessoal, mas também social, enquanto estudiosos como Paul Connerton e Jan Assmann ampliaram esse entendimento ao explorar a dimensão ritualística e cultural da memória.
Portanto, é um filme exemplar para mostrar essa construção, por mais que eu tenha preferido um desfecho mais aberto e menos solucionável, traria um ar de veracidade bem maior, o que me deixou até espantado ver um filme francês tão resolutivo assim.
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