Concordo que há muito absurdo nas situações em que o casal se mete, como o fato de resgatarem o prêmio em dinheiro vivo ou de fazerem pouco caso da morbidez que é querer matar um cônjuge, mas o cerne da questão aqui é se deliciar com uma espécie de paranoia de controle entre casais, um fenômeno que ocorre quando um dos parceiros ou ambos desenvolvem sentimentos intensos de desconfiança e preocupação em relação às atividades e interações do outro, muito em voga em tempos onde as redes sociais nos entregam tudo personificado (cada pessoa tem um feed projetado pelo algoritmo), de modo que esperamos do outro um encaixe também muito controlado.
Esses comportamentos podem surgir devido a uma variedade de fatores, incluindo insegurança pessoal, experiências passadas de traição ou abandono, problemas de autoestima ou até mesmo problemas psicológicos subjacentes, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo (TPOC). No filme, ainda é ratificado pelos amigos de ambos, que os acompanham em viagem, um local lindo sim, mas a cada frame fica mais evidente tratar-se de uma compulsão do instinto de vida e morte, como diria Freud, cuja origem é essa busca de controle.
Assim, o roteiro se desenrola como se fosse várias esquetes permeada por planos mirabolantes, e sempre frustrados, óbvio. A desconfiança é mútua, mas o sentimento também, e essa dualidade é que dá um certo tempero ao filme, com os protagonistas realmente tendo bastante química, o que, para uma comédia romântica, é algo essencial.
É importante reconhecer que a paranoia de controle não é saudável em um relacionamento e pode levar a uma série de consequências negativas, incluindo ressentimento, conflitos constantes, isolamento social e até mesmo o término do relacionamento. É fundamental abordar esses problemas por meio da comunicação aberta, honesta e, em alguns casos, buscar ajuda profissional, como terapia de casal, para lidar com essas questões de maneira construtiva.
O dinheiro, por óbvio, é apenas uma metáfora para problematizar as relações conjugais, um meio lúdico pelo qual a trama se desenrola, já que, por mais que fiquem ricos, a necessidade de controle, de agradar o outro, é meio que ilimitado, e não depende do bem material. Uma comédia romântica que é uma versão polonesa do longa turco de 2019, este sim bem melhor, entretanto, aqui também é um filme acima da média e que garante uma boa diversão.
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