Shady El-hamus desperdiça uma excelente oportunidade de fazer um filme que fosse mais relevante com o passar do tempo, pois tinha tudo em mãos: um antagonista decente e um protagonista com vigor, ambos jovens; a "uberização" das relações trabalhistas no meio da sociedade europeia; o conflito de gerações, marcado também por identidades estrangeiras, migrantes lutando pela sobrevivência; o papel da juventude e influenciadores digitais no mundo contemporâneo; e, claro, a ilusão dos investimentos fáceis numa época em que os smartphones permitiram o capital financeiro, ao mesmo tempo em que pode se democratizar e facilitar sua movimentação, também reproduz a lógica do grande capital e das grandes corporações.
Infelizmente o filme não embarca e não aproveita todo o arsenal construído muito bem. Até mesmo os personagens secundários são bons, mas o que vemos é a trama ser desenvolvida pela forma mais fácil: pelo caráter corrupto do seu vilão, e como usou o moço como laranja.
O esquema Ponzi é apenas citado. A corrupção acaba ganhando o discurso do senso comum, e o que é pior, o filme pode ser perigoso ao demonizar a possibilidade de investimentos em detrimento ao trabalho clássico.
Nesse sentido, é preciso ter senso crítico para saber separar o narrado, que nada mais é do que um recorte da realidade, com as possibilidades de sobrevivência num mundo onde tanto o trabalho clássico quanto o modelo de acumulação do capital precisam ser revistos. Contrariando Fukuyama, estamos longe do fim da história, abertos a possibilidades múltiplas.
Assim, infelizmente o filme joga contra a essa abertura de novas possibilidades caindo no lugar comum e não aprofundando o debate das startups e do mini investidos enquanto potência criativa, entregando-se ao velho modelo de relações de trabalho. Por mais que legítima essa defesa, pode passar a impressão de um fatalismo que, se formos parar para pensar, é conveniente à visão do grande capital.
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