Existe um pensamento baseado no senso comum de que os jogos de videogame desumanizam as pessoas ou prejudicam o desenvolvimento dos jovens. Obviamente em partes esse pensamento tem alguma espécie de embasamento, mas digo que é puro senso comum por desconsiderar a realidade, é mais algo baseado em nossas crenças ideológicas de que temos que ser produtivos e servir nosso tempo a motriz burguesa.
Não que o filme seja contra a ideologia capitalista, está bem longe disso na verdade. Mas ao trazer à tona a história real de um jovem que está muito encrencado por ser uma peça dessa motriz ideológica produtiva, dado sua doença degenerativa que vai se agravando com os anos, vemos que é muito difícil sequer imaginar este ser humano na engrenagem produtiva, até mesmo as famílias não tinham esperança disso, e estavam já praticamente conformados com a situação.
O que não esperavam é que, combinando o uso de IA num ambiente virtual, o jovem se apaixonar, dava conselhos, tinha oportunidade de conhecer outras pessoas, enfim, exercer sua humanidade. Com todas as limitações que sofre impostas pela doença e dificuldade na vida real, uma dificuldade real (claro que amenizada pelos recursos que seus pais mostram ter), o filme vai explorando de forma muito sensível o escape virtual.
Em muitos momentos, impressiona como as cenas foram reconstituídas, com base em frases reais captadas com o que a equipe pode resgatar. E por mais que o roteiro se esforce, claro, para transformar o jovem num mártir, percebemos que sobra também delicadeza na condução da trama.
Repare nos momentos silenciosos, nos detalhes. Um filme que explora a condição dele, mas sem pressa, com muita parcimônia e muita sensibilidade.
Pode preparar os lenços, pode precisar. É um filme também muito interessante para apresentar à juventude, certamente acostumada com a linguagem dos videogames, mas muito carente de relações reais, o que ajuda também a subverter a lógica apresentada no início desse texto: não necessariamente as mídias nos desumanizam, são apenas meios de comunicação.
Mais uma vez a Netflix acerta no documentário, cujo catálogo impressiona pela qualidade muito mais do que seus longas tradicionais. Registro belíssimo de uma juventude que ainda tem muita humanidade para ser descoberta.
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