Talvez seja o filme mais mal atuado que já tenha visto do Shyamalan, e com um certo senso de urgência que está a quilômetros de distância da compenetração e do acuro visto em "O sexto sentido", tornando sua construção quase um filme de ação/comédia.
Ainda assim, diverte e tem um ritmo aprazível.Shyamalan contextualiza seu filme num show pop, e por mais pitoresco que seja (difícil imaginar um show de uma artista popular com os adolescentes sentados em cadeiras marcadas e com muitos espaços vagos), tenta captar o espírito de uma época, o tão falado Zeitgeist. E está em vários detalhes: da vergonha em se ver com o pai, do uso do celular, das dancinhas, da idolatria, do simulacro dos artistas que, no backstage, aparentam ser outra pessoa, ou mesmo na banalização de um serial killer.
A primeira metade, acompanha uma direção inspirada em captar olhares e nos fazer ficar atentos aos detalhes. É uma pena que personagens secundários estejam tão mal em termos de atuação, bem como as facilidades que o protagonista tem de adentrar espaços de segurança. Há todo um esforço em reconhecer aquele cenário como armadilha, mas o roteiro está mais para brincadeira de criança. Visto sob essas perspectivas, o filme parece saber-se limitado, ao menos.
Como as atuações estão aquém, a música de suspense é incessante para darmos ar de urgência, mas a experiência na direção e o ritmo com uma edição interessante dão conta em carregar o filme até o momento em que o duelo se defronta: o sociopata se revela, e aí a brincadeira ganha contornos de cautela à próxima ação, com os personagens sempre muito próximos uns aos outros, e estudando-se.
Uma pena que as reações frias acabem por passar uma sensação de palidez e vazio no terço final. O que poderia ser mais visceral acaba soando burocrático demais, quase robótico, e a tal popstar, em papel central aqui, não consegue transparecer a tensão. A cena com a família, na casa, também é estranha, de tão mal desenvolvida. É como se Shy tivesse perdido parte de sua mão para gerar aquele frio tão característico dos filmes de suspense, e qualquer comparação com Hitchcock parece leviana aqui.
Tratando seus personagens como robôs, a parte final caminha para as já conhecidas explicações, o que eu não me incomodo exceto pela ausência do suspense. É um típico exemplar da filmografia do diretor, com todo aquele potencial interessante, mas pecando pelos velhos excessos (didatismo, exposições, facilidades) e ausência do medo. O final tenta de alguma forma, inserir alguma surpresa, e ao menos é divertido.
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