Não esperava nada deste filme, mal conhecia o diretor Denis Villeneuve. Fui assisti-lo com a desconfiança das duas horas e meias de suspense não poderem se sustentar, pois é preciso muita habilidade para segurar a tensão do início ao fim. E deu certo!
Todo o clima construído sobre a obra me lembrou muito Sobre meninos e lobo (Mystic River, 2003) do genial Clint Eastwood, mas muito superior a este, uma vez que não se sustenta em uma moral deslocada, nem em um pessimismo pungente... Não causa mal-estar, e ainda assim consegue levar às telas as reflexões morais necessárias e provocar aquela agonia típica de filmes deste gênero.
O roteiro gira em torno do sumiço de duas garotinhas no dia de Ação de Graças, filhas dos Dovers e Birchs. Keller Dover (Hugh Jackman) assume o papel do pai desesperado, clamando por justiça, e o faz mesmo quando a polícia, encarnada aqui no papel do detetive Loki (Jake Gyllenhaal) solta o principal suspeito do caso, o estranho Alex Jones (vivido por Paul Dano).
A partir daí, tudo fica mais interessante, uma vez que a busca pela justiça se depara com as questões morais, isto é, se depara com os meios pelos quais se tentam arrancar verdades baseadas em suspeitas que não se confirmam: com a ajuda de Franklin Birch (Terrence Howard), o qual funciona no roteiro de forma a sempre questionar os métodos que serão vistos em tela, Keller aprisiona Alex numa tentativa desesperada de tentar arrancar-lhe as supostas verdades. Então, aqui encerro um questionamento: tanto o título "os suspeitos", quanto o original "prisioneiros", fazem jus à obra. "Os suspeitos" da perspectiva de que não sabemos ao certo o responsável pelo sumiço das garotas, e mesmo os pais, enquanto vítimas, de um ponto de vista legal e moral, também são suspeitos de cometer crimes em completo desagravo aos direitos humanos, assim como prisioneiros de seus dilemas, não somente aprisionados fisicamente, mas sobretudo psicologicamente. E nós, meros telespectadores, prisioneiros daquele drama familiar, e suspeitos por estarmos jogando com a moral de Keller, absolvendo-o algumas vezes, mesmo nas mais cruéis atrocidades, as quais exigem urgência e medidas drásticas.
Métodos de tortura são jogados na nossa cara, e acabamos questionando tudo, sem saber ao certo de que lado estamos. Não espere um filme fácil de vilões e heróis, ainda que Holly Jones (Melissa Leo), a tia de Alex, quase leve tudo a perder no terceiro ato. Outro grande destaque é a personagem de Viola davis, tenho um carinho especial por essa atriz, e sua atuação é fantástica: "Não vamos mais ajudar Keller, mas não vamos impedi-lo", numa atitude que prova que o "em cima do muro", na verdade, nunca é neutro.
Aqui os personagens estão bem construídos, e Hugh dá um show à parte com seu papel de moral ambígua. Destaque também para a trilha marcante e para a fotografia, indicada ao Oscar, que realmente conseguem passar a serenidade necessária. Uma grande pena que o didatismo e a urgência de conclusão em volta de Holly Jones tenha prejudicado o saldo final, mas quando o filme termina, numa solução interessantíssima, vemos que não passou de mero detalhe: há elementos muito mais interessantes na película, que a torna uma experiência incrível.
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