Quando algumas pessoas chegam a uma certa idade na vida, elas imploram para que o mundo as tire da maneira mais rápida e calma possível o seu maior bem ou melhor dizendo... Sua vida. Cansadas de viverem no tédio e no sofrimento sem respostas de um real sentido para tudo isso. Outras tentam buscar através de escritos filosóficos reflexões e estudos, explicações coesas da origem do universo e dos sentimentos que realmente nos movem consideradas, verdadeiras engrenagens do coração e do corpo; de tantos inexplicáveis e imensuráveis prazeres que Deus nos concedeu. Chegamos rapidamente à conclusão, que refletir é uma necessidade impossível de ser deixada, acompanhada de estudos e algumas pesquisas, buscando aos antigos mestres da filosofia que tiveram uma louca inquietude nas suas almas, essa mesma força de vontade em continuar questionando, independentemente do tempo. Essas reflexões nos levam a infinitos horizontes, trazendo paz ao coração e o espírito, mas quando chegamos em um determinado ponto da caminhada, nos perguntamos se realmente valeu a pena todo o esforço feito e o que poderá vir depois de nossa jornada aqui. Estudos científicos tentam explicar pela lógica todos os seres e suas existências, enquanto a religião, nos ensina que tais mistérios não são para o nosso entendimento e que estamos somente de passagem nesse mundo de coisas terrenas e logo em breve; retornaremos ao nosso criador – se assim formos merecedores de sua misericórdia. Mesmo diante de tantos estudos de outros grandes pensadores, tais perguntas ainda permanecem nos assombrando, levando muitas pessoas ao ceticismo, ou terem uma vontade inexplorável de viver apreciando a temida mortalidade e o que ela nos reserva. Nosso protagonista Amadeu De Almeida Prado (uma alma inquieta como uma dessas que cite) nos leva diretamente para essas reflexões, incapazes de serem aprofundadas em um longa e satisfazerem essas poucas almas existentes, que se identificam com esse interessante personagem.
O enredo segue morno e chega bastante desinteressante em alguns instantes. A trilha sonora pesada ao som de um violoncelo nas notas graves, mostram a solidão de um homem inteligente e sério, que se regojiza ao se lembrar de seu passado pouco glorioso. O tímido Professor de línguas clássicas suíço Raimundo Gregórious, interpretado pelo ótimo Jeremy Irons, terá sua vida mudada inesperadamente ao impedir que uma moça, pule de uma ponte. A jovem fica surpreendida com seu ato, pedindo para acompanhá-lo em seguida constrangida pela situação. Chegando para mais um dia de aula, o professor pede para que ela se sente, avisando a turma da ilustre visita despertando curiosos olhares em direção à moça e o que ela poderá ser daquele reservado professor. “Mundos” chamado carinhosamente por seus alunos, começa sua aula entregando as provas passando as orientações referente às notas de cada aluno. A jovem de semblante triste e arrependida, sai da sala calada, fazendo um sinal de silêncio para que não chame sua atenção ou que insista ficar. Observando sua saída de súbito, Raimundo percebe que ela esqueceu seu casaco e dentro deste casaco, há um livro português intitulado: “A Origem das Palavras” de um escritor desconhecido. Ele sai da aula rapidamente e vai atrás procurando-a no mesmo lugar, na ponte onde o suicídio foi evitado não a encontrando. O titulo o intriga bastante. Procurando a origem do livro o bibliotecário lhe avisa que foi comprado por uma mulher, dizendo tê-la deixado muito aflita após a leitura, mas que depois comprou o livro saindo correndo. Olhando dentro do livro outra vez, há uma passagem para Lisboa, faltando exatos 15 minutos para o embarque. Embarcando ao acaso, no trem, começa sua leitura despertando uma grande admiração pelo escritor. Suas palavras o tocam profundamente sobre os relatos de sua vida, dando ênfase aos momentos felizes e tristes. Chegando a Lisboa, Raimundo procura as pessoas que conheceram o escritor de palavras simples e seus questionamentos, que despertou sua admiração (Infelizmente, isso não fica patente no rosto de Jeremy Irons), sua expressão é de uma pessoa que leu só mais um livro comum, encontrando a irmã de Amadeu com um olhar sofrido e muito triste, sem muitas delongas, descobrindo as verdadeiras dores que o afligiam e até mesmo segredos. O escritor é Amadeu de Almeida Prado. Um rapaz inteligente de classe média alta, filho de um rigoroso juiz que não media esforços para educar seus filhos. Sua irmã e o livro servem como ponto de partida para em seguida, o destino levar (sem demora), a encontrar todas as pessoas que o conheciam, trazendo à tona o passado de Almeida Prado, sua história durante a infância, adolescência, na fase adulta e sua participação na resistência (Portugal passava um momento de efervescência muito grande como a ditadura nessa mesma época no Brasil) e toda sua audácia no rigoroso colégio religioso, sob orientação do padre Bartolomeu (Christopher Lee).
O diretor tenta comover, mas as seqüências são falhas e monótonas, cheias de diálogos entediantes. Bille August não se preocupa em dar um ritmo interessante ao filme, deixando uma bela história ir definitivamente para o ralo. A jornada de Raimund tem um desfecho de... Missão comprida, em dar aos conhecidos ainda vivos do autor (que tanto sofreram), um certo alivio depois de tantos anos, desenterrando as lembranças de um homem, que encarou o sistema e a família, abrindo mão do conforto de seu lar para viver intensamente uma paixão e refletir os ensinamentos que lhe foram passados ainda na infância, dando nota de seus pensamentos que futuramente, viria se tornar um livro.
“Trem Noturno Para Lisboa” é um filme mediano, mas vale à pena conferir pela força que Amadeu tem a passar sobre sua inspiradora história, e todas as suas dores sofridas marcando para sempre seus amigos e familiares. Apesar dos argumentos usados pelo diretor não serem convincentes, nos dá ao menos uma leve inspiração em questionar tudo e a todos como assim ele fazia, olhando ao horizonte uma bela paisagem, apaixonado com o desconhecido, ansioso com o próximo dia e as prazerosas sensações que a vida nos dá e tira de forma sorrateira. Percebemos os prazeres e as alegrias não só sentidas por si, mas sentidas por nós também, e é exatamente isso que tira o professor de sua simples vida, admirando-o sua alma inquieta e suas “profundas” palavras, apesar de questionar a Deus todo instante (não acreditando na sua existência).
O livro de Pascal Mercier foi um Fenômeno na Europa e talvez algum dia; eu leia esse romance (Quem Sabe). Talvez este, não seja decepcionante.
Boa Projeção.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário