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Artigos

Festival de Cinema de Brasilia - Curtas #1

Loja de Répteis (Pedro Severien, 2014)

Alta estilização em imagem e som. Terror climático. Expectativa quanto às metáforas que os répteis em cena poderiam suscitar. Intérpretes funcionais e com espasmos de brilhantismo. O que faltou, no entanto, para que “Loja de Répteis” ultrapassasse suas ótimas intenções?

Talvez as lacunas quanto às intenções dos personagens sejam sutis demais para envolver o espectador além do clima noir na tela, fotograficamente irrepreensível.  Talvez uma ode ao imobilismo por meio de Aluísio, dono da tal loja de répteis que reluta em encerrar suas atividades. Talvez mais um filme a se valer do terror enquanto comentário social, ou mesmo sexual, em vez de um fim em si mesmo. Contudo, a grande impressão que resta deste trabalho do diretor Pedro Severien é a de um curta-metragem que poderia ser grande, mas que parece se contentar com os diversos simbolismos, penumbras e jaulas de vidro em série, em vez de desenvolver melhor um material tão precioso, o mesmo aplicando-se ao bom elenco (destaque à icônica Maeve Jinkings e a um Fransérgio Araújo em transe).

Não seria nada estranho se um dia vier à tona um longa a expandir tudo aquilo que “Loja de Répteis” prometeu sem cumprir. A ver.

Nota: 6.0

 

Bashar (Diogo Faggiano, 2014)

Toda tentativa de ceder espaço àqueles cujos pontos de vista não encontram espaço na grande mídia merece algum crédito. Especialmente quando o cenário é um país comandado por um ditador que ataca seu próprio povo e força o surgimento de uma resistência que não encontra espaço para moderação em seu modo de agir.

A começar pelo título, este curta tem endereço certo, cujos remetentes aproveitam o espaço cedido com resultados díspares. O uso das imagens televisivas, especialmente a de uma entrevista com o presidente sírio Bashar al-Assad (sintomaticamente toda em inglês), é criativamente apresentado. As demais sequências oscilam entre o registro jornalístico e algumas tentativas escapistas que, embora dissonantes, condizem com o propósito inicial.

O grande mérito de Bashar, no entanto, reside na sutileza da apresentação dos rebeldes e do que há além da indignação contra o governo da Síria. As referências à jihad e os gritos de “Alá é grande”, mais do que expressões, denotam um comentário político sobre o futuro desse país. Este achado sobressai-se ao conjunto, que ao menos resulta digno e, acima de tudo, necessário.

Nota: 7.5

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