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Artigos

Festival de Cinema de Brasilia - Curtas #4

La Llamada (Gustavo Vinagre, 2014)

La Llamada poderia ser um filme sobre a situação política de Cuba através dum ponto de vista específico. Não é. Poderia ser um registro da História do país por meio dum personagem chave. Não é. E, por fim, tenta ser um filme sobre a relação afetuosa entre o depoente e diretor em questão, o que provoca uma configuração cinematográfica muito particular devido a proximidade do documentado e entrevistador. Bem, também não se trata disso. La Llamada, do diretor Gustavo Vinagre, egresso da EICTV (Cuba), acaba soando, no fim das contas, como um filme de intercâmbio puro e simples.

Diferente dos pernambucanos Txai Ferraz, Vinicius Gouveia e Fabiola Gomes, estudantes de cinema e audiovisual da UFPE, que conseguem, no curta-metragem “Três Voltas”, condensar sua experiência fora do país num drama sensível sobre deslocamentos, Gustavo Vinagre parece apenas ter a necessidade de filmar algo fora de seu país de origem.

Há um esforço honesto para mostrar a vida de alguém que parece deveras importante para o diretor, através da captura de sua comicidade florescida no estranhamento com a instalação dum aparelho telefônico em sua loja ou seu afeto profundo, tanto pelo filho quanto pela revolução socialista. Nada disso se aprofunda, todavia, numa obra incapaz de encontrar um rumo certo.

Nota: 5.5

Estátua! (Gabriela Amaral Almeida, 2014)

É muito do caralho observar o esforço crescente para formar um forte cinema de gênero no Brasil, ou, pelo menos, uma cinematografia que saiba flertar com os gêneros para criar uma linguagem particular. No meio desse caminho existem trabalhos trôpegos ainda, naturalmente, sem um rumo exato ainda, mas empenhados num projeto cinematográfico específico. Estátua! integra justamente esse grupo. Neste caso, a direção de Gabriela Amaral se espelha diretamente nos filmes de terror produzidos em Hollywood, sem saber se apropriar muito bem disso para obter um resultado original, tampouco vale-se bem de convenções do gênero para criar qualquer atmosfera tensa.

Talvez por se levar a sério demais, Estátua! acabe caia na armadilha do humor involuntário, anulando todo o claro projeto de cinema da diretora. O clima de novela surge não somente na direção de arte e fotografia pouco inventivas, mas, sobretudo, nos diálogos expositivos e contrastes simbólicos óbvios (como o momento em que a garota é descrita como um anjo, ao passo que aparece misteriosa no fundo da imagem). A antecipação dos eventos, por não se dar de maneira nem um pouco sutil, acaba servindo, ao invés de prenúncio do horror - criação gradual de tensão -, como um estraga surpresas, sendo que, quanto mais evidencias são reveladas, mais o teor cômico aparece – vide a cena do desenho.

Ingênuo, o curta-metragem aposta menos na sutileza do que no escancarado, esquecendo o que existe fora da imagem. Tudo o que há de significado está ali para ser visto. Por exemplo: a sequência de masturbação no chuveiro, como metáfora do estado emocional da personagem de Maeve Jenkins. Vale, ainda assim, enquanto esforço. O Brasil precisa de mais filmes assim – por mais paradoxal que essa afirmação possa soar.

Nota: 4.5

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