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Festival do Rio - Comentários: Última Parte

Encerrando a cobertura do Festival do Rio, comentários sobre os últimos onze filmes no evento. Para ler a cobertura completa, clique aqui.

 

Garotas (Girlhood, França, 2014) de Céline Sciamma

O clássico conto de aceitação e moral transpassado para França atual. Por mais que Céline Sciamma tente construir um retrato afetivo da juventude através de seu ponto mais fraco - a necessidade de pertencer a um grupo -, o filme rapidamente cai na busca pela definição de um tempo, repleto de referências e poucos nuances dramáticos.

 

Obra (Idem, Brasil, 2014) de Gregorio Graziosi

Obra passa boa parte de sua duração na composição de um quadro feito de dualidades - ambientes fechados e silenciosos que reverberam o caos e sufoco de São Paulo. E na construção de mais um prédio na metrópole um arquiteto sofre as pressões e consequências de uma cidade que castiga, ganhando ares sobrenaturais que se sustentam em metáforas frágeis.

 

Gangues de Tóquio (Tokyo Tribe, Japão, 2014) de Sion Sono

Sion Sono é um diretor que não se espera menos que um tour de force. Gangues de Tóquio é baseado no mangá Tokyo Tribe 2 e se constrói como um musical hip-hop quase ininterrupto e que oferece uma visão atualizada e debochada da Yakuza. Em total frenesi, o épico é mais dedicado ao deslumbre que à ironia - que enfim aparece no último ato e brinda os japoneses em comparação aos americanos, exibindo uma força que poderia ser explorada durante todo filme.

 

Cumes (Cumbres, México, 2014) de Gabriel Nuncio

Uma história de fuga constituído de fios soltos entregue ao tempo e ao silêncio que artificialmente dão o tom de estreitamento na relação entre duas irmãs. O filme de Gabriel Nuncio se limita ao escopo de um período, já explicitando suas barreiras logo na primeira sequência enquanto entrega o tom de suspense sugerido - dele vem a virtude do longa: a subversão de normas cinematográficas.

 

Matar um Homem (Matar a un Hombre, Chile, 2014) de Alejandro Fernández Almendras

Enquanto se vive uma rotina de constantes ameaças, a forma concreta do filme de Almendras se faz na simplicidade. Quando enfim caminha em uma narrativa de vingança, o sentimento abstrato e confuso de um pai sufocado faz de Matar um Homem um filme extremamente potente, que se justifica na passionalidade e nos gestos vitais de um acerto de contas que é cercada pelo mito do herói.

 

God Help the Girl (Idem, Reino Unido, 2014) de Stuart Murdoch

A impressão que fica a cada quadro deste filme é que Stuart Murdoch veio com uma ideia e os produtores o manipularam para ser outra coisa. O filme se apresenta com um conceito definido - muito próximo do que há de pior em Wes Anderson e Noah Baumbach - e se esforça para ser o mais utópico possível dentro de uma experiência comum - no caso, formar uma banda e mantê-la com tantos problemas pessoais - entre um número musical e outro.

 

The Goob (Idem, Reino  Unido, 2014) de Guy Myhill

O filme abre com a destituição social de um jovem - o fim das aulas, o encontro com a mãe  - e se dilui da típica autodestruição white trash para o resgate da ordem na relação com o padrasto, provavelmente uma das melhores composições de vilão vistas neste Festival. Entre estes dois polos, Guy Myhill exibe a rotina de opressão em tom crescente até o seu acerto de contas.

 

Aleluia (Alleluia, Bélgica/França, 2014) de Fabrice Du Welz

Este seria um exemplar de slasher em sua forma mais simples e direta caso Fabrice Du Welz não mantivesse os meandros originais de Honeymoon Killers. O filme se resume em justificar dramaticamente qualquer ação do "casal" que mata para conseguir dinheiro e vantagens.

 

O País de Charlie (Charlie's Country, Australia, 2013) de Rolf de Heer

Como uma aguda crítica sobreposta pelo humor do aborígene Charlie em relação ao convívio com a nefasta invasão governamental em sua comunidade, o filme funciona muito bem. Mas a crise que Charlie enfrenta, por maior que seja sua resistência - e sua consequente mensagem - leva à quebra na ótica e ritmo do filme, levando ao retrato particular de um homem e seus conflitos em relação à contemporaneidade. Rolf de Heer sugere o reflexo ao que está ao redor de maneira contraída, porém não retorna à força inicial.

 

Campo de Jogo (Idem, Brasil, 2014) de Eryk Rocha

A maior virtude de Campo de Jogo é como Eryk Rocha enquanto faz a metáfora do sonho de ser jogador de futebol - provavelmente o primeiro desejo profissional de oito a cada dez brasileiros -, transforma o testemunho da final de um campeonato entre comunidades em um instigante filme de suspense.

 

Carvão Negro (Bai Ri Yan Huo, China, 2014) de Diao Yi'Nan

O diálogo agudo com o cinema noir americano e o híbrido entre um thriller moderno com um drama não muito convincente exige que Carvão Negro seja um filme apoteótico. E o que Diao Yi'Nan se recusa é fazer um filme deste porte, muito mais contraído e com o olhar apontado para o desejo de mediar suas ideias através de simples metáforas. Este ensejo, dentro de tantos fios de gêneros, cria certo distanciamento pois o que move o filme a partir de então é este embate deixando a narrativa em segundo plano.

Comentários (3)

Alexandre Koball | sábado, 18 de Outubro de 2014 - 23:02

Bela cobertura, uma das mais completas do país. Muitos filmes demorarão anos para chegar aos cinemas ou mesmo nem chegarão, uma pena.

Diogo Serafim | domingo, 19 de Outubro de 2014 - 10:45

excelente cobertura mesmo.

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