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7+ | As melhores sequências do horror

Tão certo quanto o dia é longo é que, no cinema de horror, se uma produção faz muito sucesso, pode esperar uma sequência. Muitas vezes elas sacrificam o espírito do original. Em outras oportunidades, viram motivo de riso, acabando por gerar paródias infinitas. Mas também há aquelas que dialogam, dignificam e ampliam o material original. Aproveitando a estreia próxima de Doutor Sono, o Cineplayers listou sete sequências de horror que fazem jus ao original. Confira e deixe sua opinião! 


A Noiva de Frankenstein (1935), James Whale

A sequência dirigida por James Whale não apenas repete como eleva os temas vistos quatro anos antes. O inglês Whale fez uma espécie de ponte entre o expressionismo alemão e o noir americano, partindo de uma ínfima subtrama do livro de Mary Shelley (quando a Criatura ordena que Dr. Frankenstein construa uma esposa para o mesmo) para explorar ainda mais a humanidade de criaturas monstruosas e a monstruosidade de homens que acreditam ser deuses. Sentimos genuína pena de todas as perseguições sofridas pelo Monstro tanto quanto sentimos repulsa por Doutor Pretorius, que corrompe o culpado Dr. Henry Frankenstein, semeando a arrogância de criar vida. Elsa Lanchester interpreta tanto a criadora Mary Shelley quanto a impressionante Noiva em um toque moderno de Whale - semelhante ao que Vincente Minnelli faria anos depois ao colocar James Mason como Gustave Flaubert em A Sedutora Madame Bovary (1949). Tudo é elaborado, com mais sombras tétricas infectando o coração dos homens e parindo criaturas que mal conseguem compreender. Um horror de primeira ordem. 



Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), José Mojica Marins

Se alguém achava que Mojica já havia ultrapassado todos os limites do mau gosto em À Meia Noite Levarei Sua Alma, “proto-torture porn” sobre um homem obcecado em rir das instituições e em gerar o filho perfeito, três anos depois o cineasta estava de volta não apenas para maiores provocações culturais (agora já em pleno regime militar brasileiro), mas também para expandir seus horizontes enquanto artista: se já havia se mostrado imensamente inventivo em seu cinema de guerrilha ao criar almas penadas cujas auras eram película riscada, o diretor aposta forte no onirismo psicodélico do Technicolor com o qual italianos como Federico Fellini e Mario Bava se banharam e cria como única sequência colorida do seu filme um inferno congelado, tingindo das maiores variadas cores um lugar de tormento eterno, onde o Zé do Caixão vaga atormentado a contemplar visões dantescas. Se seu primeiro filme era um artista transgredindo os limites, sua sequência representa um artista sem limites.



Despertar dos Mortos (1978), George A. Romero

Com A Noite dos Mortos-Vivos, em 1968, George A. Romero inovou ao colocar zumbis como canibais que querem invadir a casa americana, bastião fundamental do que a sociedade americana entende por “propriedade privada”. Se a propriedade privada pode ser devassada por um caos social endêmico, dez anos depois, em Despertar dos Mortos, a sociedade está profundamente doente e incapaz de respeitar qualquer fundamento moral; os mortos voltam para caminhar nos lugares onde conheceram, no caso, os shoppings centers, tornando-se consumidores insaciáveis e uma alusão ao capitalismo descerebrado; policiais xenófobos invadem com sangue nos olhos prédios de imigrantes e atiram para matar e aplacar; motoqueiros invadem o complexo de lojas para depredar o símbolo maior do consumo e reivindicar seu direito à propriedade através da violência; rednecks riem, tomam cerveja e atiram em zumbis por esporte; e, assustados, seus protagonistas sobrevivem como podem em um mundo que parece ter perdido a cabeça e continuado a andar.



Halloween 3 - A Noite das Bruxas (1982), Tommy Lee Wallace

Vamos dar a César o que é de César: você pode odiar o fato que Halloween III carregue no seu nome “Halloween” sem reuniur o Dr. Sam Loomis, a sobrevivente Laurie Strode ou o serial killer Michael Myers como protagonistas, mas isso jamais deveria ser um impedimento para a apreciação de Halloween 3 - A Noite das Bruxas, que Carpenter produziu para se tornar uma espécie de “antologia”, mas acabou naufragando em um único filme sobre os esforços desesperados de um médico em impedir que uma empresa que serve de fachada para feiticeiros acabe conseguindo fazer um sacrifício em massa. O filme acaba servindo como uma espécie de Vampiros de Almas moderno, onde o inimigo não é externo, mas interno, na figura de grandes industriais maquiando para nos dominar. Os jovens e questionadores são perseguidos pelos pecados da rigidez social, e com seu senso de urgência paranóica e final pessimista, o filme no final das contas é “Halloween na veia”, conseguindo extrair momentos de gelar espinha nascidos até dos elementos mais familiares.



Aliens - O Resgate (1986), James Cameron

Onde Ridley Scott fez suspense, James Cameron injetou ação; onde um era medo, outro é tensão. O cineasta fez uma das continuações mais diferentes e que mais honram o espírito original, uma tarefa e tanto, administrando exemplarmente a questão de saltar de um xenomorfo que mata toda a tripulação da Nostromo para um exército deles. Cameron esgota e tira o fôlego do espectador em um filme que ao mesmo tempo também consegue evocar o tema da maternidade ao colocar Ripley “adotando” a pequena sobrevivente Newt e protegendo-a contra a Rainha-Mãe da raça dos predadores, que dá à luz apenas para dominar. A “vida forçada” através de Kane no primeiro filme representa aqui também uma negação e impossibilidade de humanidade quando o espaço vira um terreno de batalha.



O Exorcista III (1990), William Peter Blatty

Poucas franquias são tão caóticas em matéria de resultado final dos filmes quanto O Exorcista. Mas, felizmente, o terceiro filme dessa franquia se beneficia das ambições estéticas do escritor do romance, William Peter Blatty, que resolveu ser tão tétrico quanto William Friedkin. Como um todo, pode não estar à altura, mas o fato é que o romancista arrancou algumas das maiores atuações da carreira de George C. Scott como um tenente cético porém atormentado e, principalmente, de Brad Dourif, em uma peformance tão “possuída” (com o perdão da cretinice) que é muito difícil não ficar boquiaberto enquanto seu “Assassino de Gêmeos” oscila entre momentos de alienação trascendental e rompantes demoníacos de fúria. Blatty é todo pela atmosfera, esticando planos até o limite da tensão (uma das cenas, solta da narrativa, é um primor de condução cênica por conta disso) e, exagerado em tudo, fez de Exorcista III um filme diferenciado.



O Novo Pesadelo - O Retorno de Freddy Krueger (1994), Wes Craven

Dois anos antes de Pânico, Craven voltou ao posto de onde nunca deveria ter saído e fez A Hora do Pesadelo 7, que antecipa sua saga de maneira extremamente autêntica: Heather Langenkamp, Robert Englund e o próprio Craven interpretam a si mesmos atormentados pelo “fantasma” de Kruger, o assassino dos sonhos que não saía do pé de seus personagens e nem de seus intérpretes e autores. A partir daqui, os melhores momentos de Craven no cinema seria se metendo a falar sobre o fazer cinematográfico em si, com seu monstro virando lenda inconsciente, surgindo em chromas, rasgando objetos de cena, pendurados por fios, autêntica fonte infinita para o cineasta criar tormentos psicológicos que deságuam em mortes violentas. Divertídissmo comentário sobre cultura pop e resposta à questão "por que vemos filmes de horror?". Se Welles definiu cinema como “o melhor ferrorama que um menino já teve” com certeza filmar para Craven era o seu “trem-fantasma” particular. 

Comentários (9)

●•● Yves Lacoste ●•● | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 09:27

Brinquedo Assassino 2 e Premonição 2. Agora Exorcista 3, tenha dó né?!

Bernardo D.I. Brum | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 11:10

Exorcista 3 é espetacular, a condução da cena do corredor e o monólogo do Brad Douriff são dois dos negócios mais macabros já filmados

Luiz F. Vila Nova | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 15:12

Exorcista III cresceu muito numa revisão e é, de fato, uma sequência (quase) tão boa quanto o original.

Bernardo D.I. Brum | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 22:46

& a fotografia expressionista evocativa.
& a atuação do Brad Dourif (uma das melhores atuações do horror)
& pela maneira calculada que a narrativa foi escrita para servir de chão para diálogos macabros sobre fé.
& pela atuação atormentada do George C. Scott
& pela plasticidade perturbadora dos momentos oníricos (como quando o chão se ilumina e ascende um Padre Karras crucificado.
Enfim, certezíssima que se o filme fosse chamado apenas "Legião" ao invés de Exorcista III tinha gente respeitando como respeita, sei lá, Coração Satânico, para ficar na mesma seara de "detetive sobrenatural".

João Pedro Duarte | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 17:44

A Hora do Pesadelo 3 poderia estar na lista no lugar do 7° da franquia né?! heheheheh, acho ele tão bom quanto o original.

Bernardo D.I. Brum | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 22:48

Pra mim, Hora do Pesadelo bom mesmo só o primeiro e o sétimo. O dois tem um ótimo subtexto, mas em matéria de execução é apenas um repeteco. Já Os Guerreiros dos Sonhos acho só maluquice mesmo de tentar fazer franquia de terror embarcar na seara da fantasia teen.

João Pedro Duarte | sexta-feira, 08 de Novembro de 2019 - 18:17

Ainda assim prefiro o 3°. Gosto muito do primeiro, desse sétimo e também do quarto filme. Já os demais...

Ted Rafael Araujo Nogueira | quinta-feira, 07 de Novembro de 2019 - 21:28

Galera está debatendo muito sobre o Exorcista 3.

Dei minha contribuição nesta crítica. Achei massa o filme. Pra quem quiser dar uma olhada.

https://cineplayers.com/criticas/exorcista-iii-o

Araquem da Rocha | sexta-feira, 08 de Novembro de 2019 - 01:54

Ninguém lembrou de Pânico 2 (mesmo o primeiro sendo melhor) e Blade 2.

●•● Yves Lacoste ●•● | sexta-feira, 08 de Novembro de 2019 - 18:27

Blade 2 é melhor que o 1º msm. Aquela mutação dos vampiros resultado do vírus Reaper foi bem foda!

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