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Cineplayers Entrevista - Paraíso Perdido (Pt. 2)


Malu Galli

Uma das melhores e menos reconhecidas como tal atrizes do país, Malu Galli já foi premiada no teatro e teve criação lá, onde atua desde os anos 90. Feliz ou infelizmente, a TV caiu de amores por Malu e ela vem sendo escalada para diversas novelas e personagens excelentes, como as inesquecíveis Ligia de Cheias de Charme e Irene de Sete Vidas. Sim, Malu estava afastada dos cinemas e esse ano ela resolveu quebrar esse jejum de forma dupla.

Abaixo, Malu fala sobre como essas duas personagens recentes a trouxeram de volta ao cinema, e sobre como a Nádia de Paraíso Perdido foi um desafio novo em sua carreira.

CP: Como é voltar ao cinema em dose dupla com esses dois grandes filmes, 'Aos Teus Olhos' e 'Paraíso Perdido', depois de tanta TV? 

MG: Pois é, eu tinha dado um tempo de cinema porque tava fazendo muita TV, e TV toma muito nosso tempo, inclusive tive que recusar alguns convites pra cinema e fiquei muito triste de ter perdido essas oportunidades. E de repente aparecem esses dois filmes com diferenças de poucos meses entre um e outro, com duas diretoras que eu já conhecia e curtia, Carol (Carolina Jabor, diretora de Aos Teus Olhos) eu já tinha trabalhado, Monique ainda não mas já conhecia, e eu fiquei muito feliz. Duas personagens muito diferentes em dois filmes muito diferentes, com poéticas completamente diferentes, e dirigidos por mulheres, em momento de muita luta para nós, bom estar nesse lugar. E eu amei o roteiro de Paraíso, audacioso, autoral, não tem nada parecido com isso e é muito da Monique, do universo dela e das referências que ela tem de mundo, é o primeiro roteiro dela sem ser baseado em nada, então eu fiquei muito feliz de participar desse lugar tão autêntico da Monique.

CP: Me conta como foi sua preparação específica com a linguagem de sinais, as libras, acredito que você e Lee Taylor tenham tido uma período extra para aprender... (a personagem de Malu no filme ficou surda após adulta)

MG: Sim, nós tivemos aula com uma professora de libras, eu não sabia nada, era completamente leiga no assunto, foi uma surpresa pra mim que existem tantos brasileiros que falam outra língua, que é universal e não é linguagem de sinais, não é português traduzido, é outra língua, outra gramática, outra construção frasal, e os surdos são bilíngues, eles se comunicam com pessoas do mundo todo, nós só falamos português e não sabemos nos comunicar com eles, além de ser toda uma cultura que vem a reboque, foi incrível aprender mas muito difícil. Atuar em outra língua, sem usar a voz, onde os sinais precisam ser muito precisos porque se não forem, é outra palavra. Então no início me assustei, será que eu ia conseguir, porque são cenas cheias de emoção, muito intensas e eu não sabia se ia dar conta, mas nos dedicamos muito e a professora Lilian estava lá durante as filmagens, e eu espero que tenha saído tudo bem, que os surdos não reclamem dos resultados. (risos) Além de tudo, eles são muito expressivos, fazem tudo muito vigor, com muita expressão, eles tem apenas o rosto pra passar tudo. Vou adorar que depois que eles assistirem e vierem dizer o que acharam, eu vou adorar conversar com eles. 

CP: O filme presta um serviço muito bacana para esse grupo de pessoas, e acho a cena onde ela "fala" ao telefone especialmente boa.

MG: Ah, essa cena foi muito difícil de fazer, porque eu sabia de uma preocupação com a voz que eu faria ali, que não poderia ser a minha voz comum. Mas acho que o resultado foi bom, fui elogiada pela professora.

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Humberto Carrão

Falar de Humberto Carrão é falar da novíssima geração do cinema brasileiro, em muitas frentes. Carrão nasceu na TV mas fica claro que escolheu o cinema para morar, tanto é que já tão jovem e a transição para o outro lado das câmeras já foi feito, mesmo com a carreira ainda fresca como ator.

Impressionou contracenando de igual para igual com Sônia Braga em Aquarius, está agora nesse papel cheio de nuances em Paraíso Perdido, e já em julho pinta em Animal Cordial de Gabriela Amaral. Na expectativa pelo já filmado Aurora de Jose Eduardo Belmonte ao lado de Marjorie Estiano, e da estreia de Wagner Moura na direção, Carrão fala sobre a estreia dessa semana, e de sua estreia na direção de longas que vem em breve, dando continuidade à carreira iniciada nos curtas À Festa. À Guerra. e Regeneração

CP: Como tá a correria com todos esses projetos engatilhados?

HC: Então, acabei o Marighella (estreia de Moura na direção) em fevereiro, emendei no Sob Pressão (premiada série da Rede Globo) com o Julinho (Andrade) e a Marjorie, passamos o dia inteiro gravando e corremos pra cá, ansiosos com o filme. Esse em particular tem um ano, filmamos em março do ano passado. Monique é uma guerreira, sei que ela já começou o Ó Paí, Ó e logo depois já vem outro...

CP: Conta pra gente os próximos projetos, sei que tem mais curta vindo né...

HC: Eu tô na mesma correria de sempre de quando nos encontramos a última vez. Tô com dois curtas pra rodar, mas um deles depende do fim da reforma do museu do Gustavo Capanema, o outro depende de uns amigos estarem livres, mas minha maior dedicação hoje é o roteiro do longa que eu tô terminando de escrever, completamente dedicado. Tem também o argumento que escrevi com o Douglas (Soares, diretor de Xale), que tá com a Glaz (produtora), e em algum momento a gente vai filmar, Douglas dirigir e eu atuar. Mas esse é meu mesmo, primeiro longa que escrevo e vou rodar, tá incrível escrever mas é uma batalha.

CP: E como foi que você e a Monique se esbarraram?

HC: Eu já tinha conversado com ela antes, eu adoro as peças dela, e eu sou amigo do Luiz Henrique Nogueira, que ajudou a pesquisar o elenco junto com ela. Ele tinha comentado comigo sobre o filme, e aí ela me ligou, ela me mandou o roteiro e eu li. E foi... imaginei que seria divertidissimo e foi. Já pensou, fiz um filme com Erasmo Carlos... isso é incrível. E isso não é pouca coisa.

CP: Agora uma pergunta óbvia, como foi sua interação com Jaloo? Como foi criar essa relação? 

HC: Jaloo eu conhecia pouco e quando eu soube que ia fazer com a personagem, eu corri atrás de tudo dele. Vi shows disponíveis on line, as entrevistas dele e fui descobrindo. E foi o máximo, a interação foi muito fácil, era um bando de malucos juntos cantando música no camarim, então foi muito rápido. E ele tem uma luz própria, foi fundamental pro filme que fosse a primeira vez dele atuando, e é uma figura desconhecida do grande público, que na primeira música de um show você para tudo e diz "o que é isso que tá acontecendo?", é uma figura forte, como ele é poderoso no filme...

CP: Tem uma cena de vocês no filme que ele chega pra te encontrar e diz "consegui essa coisa do meio aqui pra você" (entre o masculino e o feminino), e isso diz muito sobre vocês no filme...

HC: Ele é muito tranquilo, e às vezes parecia que ele tava brincando. Ele chegava e dizia "nossa, eu tô muito nervoso", e eu respondia "cadê que tô te vendo nervoso?", era muito calmo... e é isso, é isso que a gente faz da vida.

CP: E o que você faz mais ainda esse ano?

HC: Bom, a gente termina Sob Pressão mês que vem, tem outra série aí vindo que ainda não posso falar porque pode ser que caia, mas se não cair vai me tomar o segundo semestre inteiro, e o meu roteiro né, tô muito dedicado a ele. 

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Jaloo

Quem é Jaloo? Paraense nascido há 30 anos, Jaime Melo Jr. começou a aparecer em 2010, com covers de hits nacionais e internacionais. Logo, se transformou em fenômeno no YouTube e foi se tornando mais conhecido até lançar seu primeiro álbum em 2015, '#1'. Misturando pop, eletrônica, brega e influências que estão moldando artistas como Johnny Hooker e Gaby Amarantos, Jaloo tem uma presença única e chama atenção nos seus vídeo-performances.

Prestes a lançar um novo trabalho e recém lançado uma canção cujo clipe foi rodado na Índia, Jaloo mergulha num universo que pode catapultar não apenas sua carreira como também modificar seu alcance e seus sonhos. Com um personagem eletrizante e hipnótico em Paraíso Perdido, Jaloo está pronto para o voo.

CP: Como foi esse convite de Monique e como você recebeu essa proposta?

J: Eu sou um artista independente né? Nem tenho lá muita projeção, mas ela viu meus clipes no YouTube, alguém mostrou a ela, ela tinha criado esse personagem, a Ímã, e pensou "acho que vou falar com esse menino...", aí ela falou comigo. Eu fiquei assustado e bem descrente, e ela pediu que eu lesse o roteiro e fizesse o teste. Eu li, fiz, e quando terminou ela já tinha acreditado, falou que era eu mesmo, me pediu pra encarar e abraçar, e eu ainda estava com um pé atrás. Mas já tava acreditando... aí eu fui assistir o filme há algum tempo atrás, e eu fui percebendo que aquele ali era eu na história, foi nessa hora que eu me desliguei que pensei: "cara, deu certo...", eu realmente consegui embarcar nessa jornada louca.

CP: Como é se ver no centro do filme, no centro do cartaz, na tela grande, saindo desse universo ainda sem a projeção devida, como você mesmo apontou e pronto para sair desse lugar independente?

J: Eu acho que não viu... os tempos estão muito loucos, a TV não tem mais a força que tinha, a Internet tá dominando, MC Loma é uma das artistas centrais do país hoje e ela não tem qualquer ligação com gravadora ou conseguiu projeção na televisão, e eu já tenho essa noção. Eu acho que o destaque tem a ver com a estética da personagem, e assistindo o filme eu vejo que Lee Taylor é o protagonista, a história é sobre ele.

CP: Como foi receber a notícia de que havia um interesse em você para essa personagem específica, que tem um magnetismo e também tem cenas fortes, tem uma pegada mais ousada logo no primeiro trabalho?

J: Sabe quando você pensa 'aceitou, agora faz'? Quando eu li o roteiro eu já sabia das cenas ousadas, eu estava naquele bonde e resolvi não olhar pra trás, 'no regrets', sem arrependimento.

CP: E você gostou do que viu, do resultado?

J: Sim sim, gostei. A cena ousada, por exemplo. Desde os 10 anos de idade que eu não tiro a roupa nem na frente da minha mãe, o nu é uma relação de intimidade que eu estabeleço com alguém em quem confio. E aí quando eu vi tava no set sem roupa na frente de 20 pessoas e mais umas 20 no monitor, então ao mesmo tempo que foi uma coisa muito nova, também foi muito bom ter passado por isso pra me livrar de algo que eu ainda não tinha experimentado.


CP: E como foi sua relação com o Humberto? Eu sei que ele tem mais experiência que você, mas também ele é novo nessa experiência de intimidade.

J: Nós dois estávamos juntos nesse bonde de fazer essa coisa nova pela primeira vez e abraçamos a causa na maneira de fazer tudo da melhor forma possível e foi legal porque não tinha uma hierarquia, estávamos os dois tentando fazer juntos. Depois que tudo aconteceu, a cena foi gravada e a gente seguiu no filme, foi muito louco porque a gente acabou desenvolvendo uma espécie de irmandade familiar, parece que o toque e a proximidade trouxe isso. Eu acabei adquirindo isso pela Julia (Konrad) também, pela Hermila (Guedes)... essa proximidade familiar que o filme trouxe. 

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