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Artigos

20 anos de Cineplayers

De um segundo para outro, o click do relógio foi diferente. Pode parecer um momento como outro qualquer, mas há 20 anos atrás o Cineplayers começava a respirar e isso mexe comigo. Pra cacete.

Olho para trás e lembro do dia 10 de janeiro de 2003. O Cineplayers era um conceito que tomava a vida nas mãos de 4 jovens: Ary Monteiro, Tony Pugliese, Alexandre Koball e Rodrigo Cunha. Nossa vontade era apenas compilar em um lugar os textos que vínhamos escrevendo sobre cinema no fórum da Players - que até hoje existe!

Era também o começo da internet, muito diferente do que vemos hoje. O site era feito em Front End, atualizado manualmente até ganhar sua primeira versão programável, feita pelo Koball. Muita coisa… Quanto tempo, quantas memórias. A gente se falava por ICQ. Hoje é Zap. Telegram, às vezes. Tem Twitter, Instagram. Naquela época tinha MSN, Fotolog. As pessoas entravam nos sites para ler, não apenas por cliques em manchetes de redes sociais. Quase ninguém visita mais sites hoje em dia - eu incluso.

Cineplayers em sua versão beta, que ficou no ar de janeiro de 2003 a 26 de fevereiro de 2005.


A internet mudou completamente de lá para cá. As pessoas perderam o interesse em textos. Hoje está tudo mais descartável, pois o consumo é imediato e esquecido ainda mais rápido do que isso. O vídeo tomou conta, quase ninguém quer ler mais. Quem sou eu para julgar, não quero falar que isso ou aquilo é melhor, estou apenas constatando o efeito que a evolução tecnológica teve no site.

Tentamos nos adaptar ao tempo, mas vimos que simplesmente não era o que gostávamos de fazer. Temos o podcast, mas falta tempo, sempre ele, e recurso para produzirmos mais como um dia foi. Os vídeos ficaram pelo caminho. A gente gosta mesmo é de escrever sobre filmes e é isso.

Corta 20 anos para o futuro e aqui estamos, novamente em uma noite digitando caracteres para representar um marco. Não, o Cineplayers não está no seu fim. Ele ainda tem um custo para ser mantido, mas é algo que conseguimos por um tempo, vai. O que mudou fomos nós.

Vou me tirar mesmo como exemplo.

Há 20 anos, quando o site foi feito, eu não fazia nada além de estudar. Quando começou o trabalho, eu ainda tinha tempo para o site. Passaram-se anos, eu comecei a ter mais tempo para site do que para ver filmes em si, mas ainda mantinha minha frequência com o CP. Vieram o casamento, o filho… Hoje, praticamente não tenho mais tempo para o site. E muitas vezes nem para filmes. O que não quer dizer que eu não o ame ou que eu não queira, de alguma forma, mantê-lo.

Foto do PC onde foi feito o site, tirada em 2004.


Acabei de ver Top Gun Maverick e isso de certa forma casa poeticamente com a temática desse texto. É o velho lutando para não ser engolido pelo novo, ao mesmo tempo que temos oportunidade de continuar existindo. Acabei animando de escrever algumas coisas para cá, por que não?

A questão é que o Cineplayers nunca mais vai ser como antes. Por pura falta de tempo. Até os leitores já não são mais os mesmos, pois muitos têm vidas completamente diferentes hoje do que tinham 20 anos atrás. Isso é normal.

Mas queria aproveitar a oportunidade para agradecer, do fundo do meu coração, a cada um que um dia compartilhou parte do seu tempo conosco. Foi uma forma de nos conectarmos, saca? E isso é bonito demais. Se não fosse nossa ação de criar o site lá atrás e a de vocês de tomarem a iniciativa de participar, nossas vidas nunca teriam se cruzado.

As ondas de uma maré digital já existiam antes do CP nascer e elas vão continuar existindo quando um dia a gente se for. Mas, por 20 anos, a gente compartilhou essas ondas para surfar juntos - na internet e no desejo de representar esse amor pelo cinema.

Podemos não ser mais como 20 anos atrás, mas ainda estamos aqui com vocês. Afinal, quem ainda é como antes?

Obrigado por toda a companhia ao longo dos anos. De verdade. Que venham muitos outros!


Para ter outras informações sobre a história do site, acesse a seção Nossa História.

Comentários (26)

Rafael Alves | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 17:27

Além disso, Kadu também é conhecido por sua generosidade e simpatia. Ele sempre foi um membro ativo da comunidade, disposto a ajudar e orientar outros usuários e a compartilhar suas opiniões de forma construtiva e respeitosa. Sua postura colaborativa e cordial ajudou a criar uma atmosfera acolhedora e inclusiva no site.

Em resumo, Kadu é uma figura fundamental para o sucesso e a longevidade do Cineplayers. Sua paixão pelo cinema, sua vasta cultura e seu espírito colaborativo são um exemplo para todos nós. Parabéns, Kadu, por esses 20 anos de contribuição valiosa para a comunidade cinefila.

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 17:53

Eu conheço o humor cearense. Conheço o humor que fazem com os mineiros. Mas não conhecia a sutileza e elegância do humor mineiro por excelência, eu até ia esperar antes de comentar para ver se alguém cairia nisso, seria divertido mas está tudo deserto.

Além do que eu preciso avisar: Cultura com C maiúsculo. Cultura-pop. Cultura do mainstream Hollywoodiano neoliberal pós-Reagan ainda em máxima atividade com a OTAN como a heroína. Cultura-pop. Cultura Marvel. Cultura de filme pré-montado de acordo com o que se espera, ou seja A24/Blumhouse.
Tudo cultura.
Ou seja, o contra-cultural foi jogado no lixo, agoras todos sentam no colo da Cultura e suas faces.
"Ah Kadu, mas não foi sempre assim que você pensou!"
Azar, o cinema projeta as sombras na caverna, quem não tem convicção aos 30 não vai ter mais.Eu prefiro evoluir do que ser metamorfose. Porque a maioria da crítica abaixa a cabeça para o chicote escravista da burguesia: a cultua-pop? O Oscar?

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 18:04

...busquem o homem, a natureza do homem. Estudem teoria. Não façam resenhas, pensem o cinema, não apenas "vejam o filme", pensem o filme. Busquem por honestidade ao menos. Busquem por filmes que te desafiem, e não aqueles que te tratam como ratos de Pavlov.
Abaixo a cultura do autorismo-vulgar e da necessidade de falar o que se fala no Facebook, em um filme. Vira pregação e não muda nada.
Abaixo a cultura!
Viva a contra-cultura!
Infelizmente este é um grito, ao meu ver, praticamente impossível de ser entoado neste mar de cultura-pop.

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 20:59

Eu queria aproveitar e mostrar um texto que eu escrevi sobre "The Birth of a Nation" hoje, e que demonstra a minha visão materialista do cinema e porque hoje os amantes da cultura-pop são os "happy slaves".
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"Vou tentar fazer um exercício para explicar como um crente na dialética-materialista como eu enxergaria este filme se eu pudesse passear no tempo.
Primeiro que em 1915 houve um contexto em que Griffith indubitavelmente era revolucionário, não só em seus curtas na Biograph, mas no anseio de melhorar tudo o que os europeus faziam, principalmente os franceses nos curtas e na montagem(que ele aperfeiçoou), e os italianos na misé-èn-scéne épica dos feature-lengths, que ele também aperfeiçoou ao criar um caleidoscópio visual e aumentar a capacidade narrativa-literária de um filme(...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:00

Neste contexto, eu repudiaria a visão rasteira sobre raça e política, mas não seria hipócrita ao ponto de não perceber a revolução artística( o aperfeiçoamento do cinema de Pastrone e do próprio Griffith). Com o filme sendo racista ao ponto de ter a KKK como a heroína do clímax(clímax no cross-cutting também aperfeiçoado por Griffith), sendo aclamado pelo Presidente Wilson e aceito pelo público como um blockbuster, óbvio que eu perceberia que a Cultura que prevalecia era a branca, a racista e a revisionista(quando não, terrívelmente romântica e reacionária), até porque os protestos contra o filme não resultaram em nada. Neste momento eu já perceberia o quanto o filme seria importante para um materialista como eu. Além da importância para sua arte, o filme acaba refletindo a Cultura prevalente e criando conflitos, gerando um ponto para o futuro, um ponto final que ainda não se sabe quando dará.(...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:01

Depois em 1939 eu assistiria "Gone With the Wind..." e veria não a ocorrência do mesmo absurdo da ode à KKK no enredo, mas ainda o racismo do "happy slave" e da visão errônea da reconstrução pós- guerra-civil. Na minha opinião este filme não revolucionou em nada. Mas eu percebo que a Cultura continua branca e racista, porque houve protestos e o filme, apesar de não revolucionar a linguagem, entrou para o panteão como um artefato popular. Foi aceito até pela Academia, entrou em diversas listas por décadas, mas gerou um conflito social vencido mais uma vez.Uns 15 ou 20 anos depois eu assistiria um filme com o Sidney Poitier,e perceberia o movimento em relação aos Direitos Civis e como isso estava refletindo justamente naquela cultura Branca de 1915 e 1939, a modificando aos poucos. Eu poderia me deparar com "Shadows" do Cassavetes em 1959, com o cinema oriental, com o documentário etnográfico, ou até mesmo com alguns filmes africanos em alguns festivais. (...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:01

Nos anos 70 eu assistiria um blackexploitation, e a partir de então a Cultura iria fazer de tudo para reverter o apartheid americano que durou até os anos 70 e que tem frutos no racismo até hoje; o neoliberalismo até hoje tenta se curar do racismo, e hoje esta é a regra, totalmente ao contrário de 1915 e 1939: ir contra o racismo, infelizmente usando de muita hipocrisia e pouca dialética na arte, sem saber como fazer. Percebendo esta "evolução/movimentação do pensamento" em meio século, eu acabo, no fim das contas, por reafirmar a importância de Griffith não só por representar como arte aquilo que nós não desejamos ver como revolução técnica-narrativa, mas justamente por representar esta revolução artística em um momento em que a Cultura era conivente com ele e percebê-lo hoje como parte da evolução materialista da sociedade.(...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:02

Afinal é muito fácil julgar um tipo de racismo e se divertir com outros. Índios, asiáticos,etc...Tudo a dialética fez questão de ajustar no cinema. Índios não são mais parte de um maniqueísmo, ou interpretados por brancos, graças aos grandes westerns tanto de Ford e Walsh como de Aldrich ou Fuller. Yellowface também não( e você conhece ao menos um cinéfilo hipócrita que fala mal de "The Birth of a Nation" mas fala bem de "Broken Blossoms"). Ou então alguém que foge de uma discussão sobre este filme e diz preferir "Intolerance" por não ser racista, o que prova um ponto, não importa o autor mas a obra de arte para a maioria das pessoas.(...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:03

Muitos usam a frase de Eisenstein de que o filme é um "monumento racista", pois ficam felizes ao saber que o soviético não é racista, e esquecem da etimologia da palavra monumento. E se Eisenstein não se impressionou com a montagem de Griffith quando viu "The Birth of a Nation", então eu não sei mais quem é Eisenstein.
Mas o que me irrita são os hipócritas que acham que este filme serve só para a reunião da KKK e soltam frases que os livram de qualquer culpa como: "Existem filmes tão revolucionários quanto!", "Cabíria é tão revolucionário quanto!", "Eu não preciso chamar um filme racista de revolucionário porque a minha ética não se casa com este tipo de estética!"(que ética? a de 1915? você étão velho assim?).Todas estas frases são mentirosas ou leigas. (...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:03

Depois estes hipócritas do Twitterverse vão assistir "Black Panther" que é uma blackface para um conglomerado branco em cima de um universo de Stan Lee, e que por não possuir autores negros, sequer pode ser chamado de afrofuturismo, é só o que sobrou da antiga blackface para manter a indústria esquentando, ao memo tempo que promove o liberalismo-social anti-dialético/anti-resultado.

Eu prefiro entender o contexto, a História, a dialética, a evolução. Não apagar o passado, não negar a importância de uma obra pela moral ou pela ética justamente quando a Cultura era à favor dela(e contrários e protestos sempre existirão). Eu sou homem o suficiente para não ficar fazendo disclaimer de que não sou racista. Afinal, se o filme é reacionário, reacionário também é aquele que nega o passado e seus conflitos e problemáticas. (...)

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:04

É como queimar as partituras dos compositores austríacos e alemães(europeus brancos no geral pertencentes à Cultura colonial) do século XVII e XVIII. Esse povo que derruba estátua, muda nome de colégio, põe fogo em livros e nega a importância de Griffith joga a armadilha do neoliberalismo e permite a obstrução da manifestação do pensamento dialético, cometendo uma atitude a-histórica, anti-dialética e nada marxista. Nem esquerda e nem direita, apesar de dar razão para a última reagir de forma tão raivosa quanto, pertencente apenas à ideologia do "os filmes da Marvel são exemplos de representatividade", ou seja, dos escravos da atual Cultura, os escravos felizes("happy slaves") da atual cultura-pop, ou seja, dos alienados, que na Grécia tinham como adjetivo o termo idiothé."
FIM

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:04

https://letterboxd.com/carlos_eduardo_/film/the-birth-of-a-nation/

carlos eduardo mendes | segunda-feira, 27 de Março de 2023 - 21:09

Agora, com o futuro entre a extrema-direita e o liberalismo social ao estilo Tabata Amaral/Simone Tebet( e até mesmo do PT) e um filme como Top Gun hoje ainda sendo aceito pela Cultura e por gente que se diz de esquerda, quem você acha que vai ganhar as eleições sendo que o filme do Cruise foi considerado como a salvação do cinema(o que não é de jeito nenhum)? Quem tem esse filme no topo da lista do Streaming? Ben Shapiro, Trump, Bolsonaro,etc...

carlos eduardo mendes | terça-feira, 28 de Março de 2023 - 09:32

Dois conselhos para o Cineplayers:
organizar melhor os espaços de discussão(a gente se perde nas threads) e colocar um edit para que o user possa editar. A gente escreve com pressa e depois come letras e palavras e nem tem como editar.

carlos eduardo mendes | terça-feira, 28 de Março de 2023 - 15:19

Sabe Ted, acabei de ler a tua crítica para o "Green Inferno" e ali é um vespeiro que na verdade poderia ter sido levantado naquele nosso debate. Um filme que eu ainda não vi. Mas tendo em vista que Ford foi revisto e interpretado e amado por cineastas e críticos marxistas, o uso dos indígenas nos cannibal film é tão polêmico quanto um remake de "Tarzan". E eu não sou politicamente correto. Eu falei sobre Ford justamente porque depois da tragédia dos ianomâmis estes westerns foram atacados por uma fala da Carmen Lúcia do STF: "Eu torcia para os índios nos westerns". Ao mesmo tempo aparece um discurso genocida do Bolsonaro exaltando a Cavalaria Americana. E por causa disso as pessoas acham que arte possui dívida histórica( e isso eu só vejo no cinema). Eles vão para casa ler o UOL e acham que o cinema, inclusive o do passado deve responder pelos descalabros da política na manchete. E a semelhança com Carmen Lúcia e Bolsonaro é que ambos não entendem porra nenhuma de criticismo ou cinema.

carlos eduardo mendes | terça-feira, 28 de Março de 2023 - 15:22

Por isso que eu trouxe também textos sobre Ford no Letterboxd por marxistas, dei toda aquela explicação(fundamentada), e instigo as pessoas a reverem não só a trilogia da cavalaria de Ford mas também os filmes de Walsh e Allan Dwan com esta temática. Mas com uma visão crítica ao invés de moralista.
Cobrar a arte do passado por uma dívida social com o presente vai acabar com a arte.

Ted Rafael Araujo Nogueira | terça-feira, 28 de Março de 2023 - 20:32

O trato dos indígenas no filme Canibais é ao mesmo tempo escroto e sarcástico com e para eles. Assume o caráter de bagaço no nascedouro. Mesmo que isto sirva de simulacro de isenção para se compor qualquer narrativa. É a esperteza em se assumir ruim, cria uma casca de trash pra que o tema seja tratado no sambarilove.

Ted Rafael Araujo Nogueira | terça-feira, 28 de Março de 2023 - 20:35

Quando eu falo do cinema do Ford, mesmo com as contradições embutidas, o faço mediante um caráter não anacrônico, obviamente. E mesmo o material que eu ache mais problemático do ponto de vista histórico, o faço com tranquilidade. Como cria do seu tempo. Claro quer existem limites para a digressão. Senão vamos achar sensato e tranquilo o que o Griffith fez em o nascimento de uma nação.

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