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Um Filme Por Dia: Junho de 2017

Série nova no Cineplayers: em junho de 2017, a cada dia falarei sobre um filme que verei durante o mês inteiro. Com isso, teremos trinta filmes comentados por aqui quando julho florescer no calendário.

Ao mesmo tempo em que usarei na cara dura esse especial para ver mais filmes nesse mês, espero que esta lista sirva também para indicar filmes raros, cobrir lacunas vergonhosas na minha filmografia e gerar discussões bacanas entre os usuários.

As regras básicas: cada filme terá um comentário de 10 a 15 linhas feitos por mim, será adicionado no máximo ao dia seguinte da visualização do filme (verei filmes a noite, né...) e a escolha é totalmente aleatória, entre lançamentos, clássicos, alternativos e revisões. Tentarei balancear essas escolhas.

Vamos começar a brincadeira? :)


***


Quinta-Feira, dia 1.
Cauby - Começaria Tudo Outra Vez
Dir: Nelson Hoineff
2012

Em certo momento do filme, o biógrafo oficial de Cauby comenta que ele é o artista dos extremos; a mais pura verdade. E é curioso como a afirmação reflete também no que é o longa baseado em sua vida, cheio de contrastes na sua concepção, execução e resultado final. Às vezes, foca no que é realmente importante, em outras tem desequilíbrio na mixagem de som... Como artista, ele é um retrato de uma época da arte brasileira que ficou perdida no tempo, não se renovou: inúmeros cantores geniais, que por vez tiveram legiões de fãs, hoje ficam reclusos a pequenos shows. Cauby é o melhor de todos eles e o filme é bem sucedido mais uma vez em retratar esse contraste. Se antes arrastava menininhas com uma voz poderosa e cheio de romantismo, hoje esse mesmo romantismo só é curtido por senhoras e senhores e o dinheiro e as condições que vive não refletem sua grandeza. Um único jovem, fã incondicional do cantor, funciona também nesse sentido: ao mesmo tempo que é lindo ver seu amor por ele, é triste pensar que ele é quase que exceção em uma geração que precisava conhecer o passado artístico do Brasil. É o peso das decisões que tomamos na vida.



Sexta-feira, dia 2.
Vida de Inseto
Dir: John Lasseter
1998

As lembranças sobre Vida de Inseto não eram das melhores, mas decidi revisitá-lo numa sexta-feira a noite tranquila, e é impressionante notar o poder do tempo tanto na tecnologia quanto na nossa percepção pessoal do mundo ao redor. Vida de Inseto não virou uma obra-prima do dia para a noite, mas certamente cresceu muito no conceito por me fazer captar ideias que, com 20 anos, passaram despercebidas. Primeiro, a parte técnica. Ainda que ache o filme muito azul, o detalhamento técnico da Pixar com cada tipo de inseto, suas perdulariedades, o solo, as folhas, a quantidade de formigas... Isso é sensacional. E, claro, a parte metafórica / filosófica. O excluído que lidera seus semelhantes à liberdade, os fracassados que, fora de seu lugar comum, crescem e conhecem o reconhecimento... É uma boa dose de assunto para pais e filhos debaterem. E em último lugar, mas não menos importante, o humor. A cena em que o Joaninha se revolta por ser chamado de 'A' e não 'O' é apenas uma das inúmeras hilárias passagens bem utilizadas criativamente dentro da temática escolhe - um padrão da Pixar. Com Vida de Inseto me animei a rever filmes que antes não tinha gostado tanto, pois ele é exatamente o mesmo de anos atrás; eu é que não sou mais o mesmo.



Sábado, dia 3.
Toni Erdmann
Dir: Maren Ade
2016

Como pais e filhos, pessoas intimamente tão próximas, conseguem ficar tão distantes uma da outra? Ou indo um pouquinho mais fundo, o que faz a vida valer a pena? São questões complexas demais para se responder em quinze linhas, mas em pouco mais de duas horas e quarenta de Toni Erdmann a gente consegue, se não encontrar respostas, buscar algumas reflexões. No enorme abismo que há entre as vidas de Winfried, o pai, e de Ines, a filha, eles encontram espaço para um preencher a solidão do outro com situações tão constrangedoras que nos fazem questionar a casualidade do 'normal', do nosso dia a dia. Justamente desse choque que nasce o riso, o inesperado. Não é a toa que Toni, o alter-ego do pai, usa uma dentadura horrorosa. Muita gente vai se afastar por causa da narrativa não presa a uma linha propriamente dita, mas é um filme muito engraçado e relevante, principalmente pela vida profissional louca que vivemos nos dias de hoje. Somos felizes? O tempo acaba sendo um dos principais temas do longa, porque ele passa, mas as memórias ficam.



Domingo, dia 4.
A Tartaruga Vermelha
Dir: Michael Dudok de Wit
2016

Impressiona a capacidade de um filme com tão pouco conseguir falar tanto. Durante toda a duração de A Tartaruga Vermelha, apenas alguns ruídos serão originados de um homem que, após um naufrágio, fica preso em uma ilha acompanhado apenas de alguns animais. Esses ruídos significarão, por cerca de pouco mais de uma hora, uma série de sentimentos: raiva, frustração, empolgação, amor e dor, sempre de maneira muito sutil e precisa. Em cada plano, uma obra-prima visual; co-produção dos Studio Ghibli, que além de dar vida à ilha de forma verossímil e detalhada, continua envolvida na temática engajada de causas verdes. E entre uma bela paisagem e outra, reflexões sobre a vida, sobre a natureza e o mundo ao nosso redor. Toda vez que esse homem tentava fugir, era impedido por uma tartaruga vermelha gigante. E se tivesse ido, não teria encontrado o seu grande amor. Para o que ele queria tanto voltar nunca saberemos, mas por esses caminhos traçados o filme, de maneira brilhante, apresenta e argumenta uma série de questões sobre o ciclo da vida. Em forma de fábula, é verdade, mas o que seria dela também sem a poesia?



Segunda, dia 5.
Cinquenta Tons Mais Escuros
Dir: James Foley
2017

Mesmo com todos os problemas, defendi o primeiro 50 Tons apenas por ser um filme diferente das inúmeras comédias e dramalhões românticos de adolescentes que têm infestado os cinemas nos últimos anos. Era algo mais ousado focado no grande público, que mexia com sado e relacionamentos abusivos, mesmo que longe do teor artístico que os thrillers eróticos dos anos 80/90 tiveram. Não merecia o sucesso que teve, mas também não era a porcaria que muitos urravam. Eis que a sequência chegou e tudo mudou. Dava para saber que alguma coisa estava errada principalmente quando a diretora Sam Taylor-Johnson abandonou o barco e o inconstante e cafona James Foley o assumiu (ok, Caminhos Violentos é bem bom). Se antes o lado psicológico dos personagens mostrava que havia algo a ser desenvolvido, aqui é tudo desperdiçado em diálogos rasos, situações bem infantis, revelações constrangedoras e a tentativa de comprimir tudo do livro em pouco tempo de filme, atrapalhando todo o desenvolvimento das tramas que levam a história a frente - inclua aí a problemática ex, o editor assediador e a senhora dominatrix. Enfim, uma bagunça completa que se desenvolve como uma novela em tela grande. Se ainda há algo de bom, é a bonita trilha, a fotografia elegante e os pequenos detalhes de produção, como uma gaveta no quarto vermelha arranhada em um mundo impecavelmente bem acabado e a escolha de um tom azulado quando Anastacia está triste em determinado momento.



Terça, dia 6.
O Estranho Sem Nome
Dir: Clint Eastwood
1973

O sol atarantava o horizonte quando um homem surge como um fantasma na cidade de Lago. A princípio, queria apenas tomar algo no bar quando três homens resolvem implicar com ele e acabam mortos. Eles eram a proteção da passiva cidade contra outros homens que iriam sair da cadeia em breve buscando vingança pelo tempo de reclusão, o que faz com que a população desesperadamente eleve o status do forasteiro vulgar, estuprador e impiedoso a salvador. Clint, em sua estreia na direção de um faroeste, um gênero tão íntimo, rompe com conceitos básicos e entrega um filme pessimista, rancoroso, vingativo. O medo move as ações; primeiro, dos capangas, depois, da desesperança do homem ir embora e deixar a cidade desprotegida, e logo mais das consequências. Mas aquela cidade é pecaminosa e aos poucos percebemos que ela merece sofrer, onde ninguém presta, revelando apenas o suficiente para que preenchamos as entrelinhas com nossa percepção. Em um raro momento de compaixão, o homem presenteia uma família indígena; eles não são dali. A certa altura, em sua estratégia de 'defesa', a cidade é toda pintada de vermelho, para intimidar os criminosos, mas na verdade percebemos que é muito mais do que isso: vermelho é a cor do pecado, do ardor. Um monte de abusos e absurdos são cometidos e ninguém nunca tomar uma atitude; a cidade inteira está pagando uma conta perigosa com o passado. Um dos maiores filmes de vingança já feitos.



Quarta, dia 7.
Tóquio Violenta
Dir: Seijun Suzuki
1966

Já estava na hora de escrever algo sobre Seijun Suzuki, diretor muito inovador dentro da fábrica de filmes que o Japão vivia nos anos 60. Se nos Estados Unidos houve o faroeste, no Japão do mesmo período havia os filmes de máfia Yakuza, de baixo orçamento e produção industrial. Suzuki, então contratado, conseguiu imprimir o seu próprio estilo em tela e quebrou paradigmas narrativos e visuais para contar as mesmas histórias simples de maneiras diferentes, em iniciativa muito parecida com o que era visto na França com a Nouvelle Vague, mas de forma marginal, não organizada. Aqui é sobre um homem e seu chefe que decidem abandonar a máfia, mas gangues rivais incidem para não deixar que isso aconteça. Ele tem um amor e inimigos que cruzarão seu caminho em quase um road movie fugitivo do passado, que insiste em procurá-lo através de cenários urbanos, neve e cenografias que quebram toda a imersão em cores e invocam um semi-surrealismo. Ao final, o preto-e-branco há muito deu lugar a cores em uma evolução clara do cinema tradicional, caro e sanguinário. Inspiração óbvia para cineastas atuais, talvez o maior deles Tarantino, cujo estilo é simplesmente impossível de não identificar.



Quinta, dia 8.
A Múmia
Dir: Alex Kurtzman
2017

A ideia era simples: aproveitar o projeto que Marvel, DC e outras empresas vêm fazendo com suas franquias e criar um universo expandido único, mas esta nova versão de A Múmia escorrega em tudo aquilo que ela tenta. Sai de cena o horror, o clima e o desenvolvimento de personagens e entram explosões, muita ação e falta de profundidade. A ideia de ter uma Múmia propriamente dita como mulher é excelente, mas o roteiro nunca aprofunda as possibilidades que a escolha proporciona e ainda faz pior, coloca-a em segundo plano para que Tom Cruise, inexplicavelmente um foco platônico do monstro, e Russell Crowe, com uma desnecessária cena de luta que revela demais do seu personagem antes da hora, ofusquem a estrela principal do longa. Esse empoderamento fica ainda pior quando a mocinha, que em um primeiro momento diz em alto e bom tom que não tem problema nenhum de falar que dormiu com o mocinho, vira mera ferramenta para que Cruise brilhe ainda mais - pelo menos ele continua com o carisma de sempre. Ao invés da Universal fazer os filmes aos poucos e deixar que o público faça a conexão entre eles de maneira natural, ela força demais e acaba entregando um filme xoxo, que nunca empolga e que falha até no mais básico de um blockbuster de ação: divertir. Se ao menos isso o filme fizesse direito daria para relevar os problemas em prol de uma boa sessão de cinema descompromissada.



Sexta, dia 9
Era Uma Vez em Tóquio
Dir: Yasujiro Ozu
1953

Não existe nada pior no ato de envelhecer do que notar os sonhos que não foram realizados. E já diz o velho ditado popular de que não há nada melhor do que a família. Ambos são temas que Ozu sabe manejar como ninguém ao filmar o cotidiano e, através dele, lidar com complexos sentimentos como realização, solidão, saudade, egoísmo e, porque não, vida e morte. Dois idosos resolvem visitar os filhos em Tóquio e acabam encontrando pessoas atarefadas, com sucesso profissional desproporcional à expectativa dos pais e que os vêm como fardo, em uma clara mensagem contra à ocidentalização que o país sofreu após a recente Guerra. Dialoga sobre o que é família ao colocar a nora viúva como a mais próxima ao casal, fazendo-nos refletir sobre o que fazemos com os nossos próximos antes que seja tarde demais e sobre o ato de se fazer o bem. É um filme que mesmo após 60 anos do lançamento permanece atual e relevante, e olha que nem estávamos na época de entretenimentos tecnológicos como celulares, videogames, TVs e internet, pois esse discurso poderia ser considerado falso e 'papo de gente velha' por muitos. Tocante e profundo, sem nunca precisar de planos elaborados ou diálogos mais pretensiosos. É o simples moldando o todo.



Sábado, dia 10
Amy
Dir: Asif Kapadia
2015

Todo documentário que aborde uma tragédia como a de Amy acaba ganhando força exponencial em qualquer coisa que seja dita pela protagonista, afinal, sonhos, visões, sucesso e demais temas conflitam diretamente com um fim já previamente conhecido pelo espectador, mas não por quem está sendo dito. Exibindo o micro, mas nos fazendo pensar no macro, mostra como a indústria musical é canibalizadora de vidas, como rotinas são aniquiladas pelo sucesso, como famílias e más influências podem simplesmente destruir uma pessoa simplesmente mostrando a escalada e a queda de Amy, a jovem com perfil artístico clássico, de voz forte e personalidade destrutiva. Tudo, literalmente tudo, ajuda ou atrapalha psicologicamente uma pessoa que fica exposta 24 horas e o diretor Asif Kapadia não hesita em tomar lados na história, assim como na maioria de seus filmes. O ritmo é firme e pra cima e a montagem acerta em cheio na escolha das imagens que conflitam com o que está sendo dito, criando ironias e fortalecendo discursos. Sabemos o final, mas não deixa de ser um choque conhecer o caminho até lá.



Domingo, dia 11
Sete Homens e um Destino
Dir: Antoine Fuqua
2016

Fuqua volta a trabalhar com Denzel Washington e Ethan Hawke depois de Dia de Treinamento para dar um viés mais social à refilmagem de Sete Homens e um Destino, de 1960, que por sinal já era uma refilmagem de Os Sete Samurais (1954). O mote da história segue o mesmo, com pistoleiros contratados defendendo uma cidade extorquida por um minerador ganancioso, porém agora contamos com uma diversidade étnica para dar rosto aos defensores: um negro, um branco, um asiático, um indígena e por aí vai. Funciona como mera estética, pois não há função dentro do longa tal escolha e o filme segue com o mesmo problema do original de 1960, que é pouco tempo para nos aproximarmos de tantos protagonistas. Ainda assim, é divertido e os personagens carismáticos, e se não temos um Steve McQueen, Charles Bronson ou Robert Vaughn para segurar o tranco, pelo menos Denzel, Ethan e Pratt dão um ar mais moderno na abordagem desse western bem filmado e de fotografia fantástica. É sempre bom poder apresentar faroestes a novas gerações que, se não fossem filmes recentes, jamais veriam esses clássicos, ainda mais quando é um divertido para caramba como esse.



Segunda, dia 12
Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo
Dir: Mike Newell
2010

É tudo verdade o que dizem sobre ele: o ritmo é inconstante, a primeira parte é quase intragável, os efeitos especiais ficam devendo - e muito - para uma produção desse tamanho, falta uma aproximação maior com o jogo e o fato de assistirmos, e não jogarmos, tira metade da graça da experiência. Ainda assim, estaria sendo irresponsável com vocês se não assumisse que acabei me divertindo e me empolgando, principalmente pelo carisma dos atores envolvidos na produção. E é engraçado ver como uma franquia acaba engolindo a outra, pois o que vemos aqui é Dastan pulando de um canto para o outro fazendo parkour, claramente inspirado na franquia recém criada na época Assassin's Creed, que por sua vez era também claramente inspirada em Prince of Persia. Uma mão lava a outra. Não é a tragédia que todos tentam emplacar, mas está muito longe de ser um filme baseado em games merecedor de nota, mas para aquela matinê de filmes inocentes cheios de ação até que dá para o gasto.



Terça, Dia 13
O Estranho Mundo de Jack
Dir: Henry Selick
1993

Vinte e quatro anos depois, o visual segue arrojado e deslumbrante, utilizando o tema do Halloween e de seus personagens fantásticos para contar uma pequena história de infelicidade de Jack, O Rei das Abóboras, que passa por uma crise existencial e, mesmo sendo o mais respeitado dos monstros, sente que falta algo em sua vida. É quando se deslumbra com a felicidade do Natal, que ao contrário do mundo cinza em que vive, traz luz e felicidade para a vida das pessoas. Ao tentar assumi-lo, o filme dialoga com temas como problemas com rotina, a depressão do particular bem-sucedido aos olhos dos outros e até mesmo suicídio, quando Sally pula de sua prisão e ali, com a morte, renasce. São temas pesados e diálogos adultos em um filme sobre o Natal diferente, com a marca Tim Burton, que utiliza-os para criar um mundo diverso e detalhadamente rico, e de Henry Salick, especialista em stop motion, que aproveita dessa imaginação toda para dar vida a um filme que até hoje impressiona e é divertido de se ver.



Quarta, dia 14
A Bela e a Fera
Dir: Bill Condon
2017

Essa nova fase da Disney de reembalar seus clássicos com atores de carne e osso vai longe. Depois de Mogli, é a vez de A Bela e a Fera deixar de lado a animação para exponenciar as possibilidades dramáticas ao lado de efeitos especiais de última geração, possibilitando o que antes só era viável para talentosos desenhistas. Não que A Bela e a Fera seja um primor, o que é decepcionante: por exemplo, quando Bela está em um campo e aquela cena deveria trazer liberdade, uma sensação gostosa, o Sol excessivamente artificial com um fundo falso trazem justamente o efeito contrário do que Julie Andrews conseguiu em 1965 com A Noviça Rebelde; e isso se repete em diversos pontos. Porém, a aproximação entre os dois personagens títulos tirou proveito dos quarenta minutos a mais de filme para deixar essa abordagem muito mais convincente, dentro da fantasia de Emma Watson aprender a amar um monstro, claro. A cena do baile é o ponto alto novamente, com um final que acaba corrido para fechar um filme que, até então, com pontuais ressalvas, havia sido muito bem reembalado.



Quinta, dia 15
Tô Ryca
Dir: Pedro Antonio
2016

Uma espécie de colegiado de amigos do Multishow, este Tô Ryca surpreende não por fazer apenas a comédia tradicional escandalosa que o gênero nacional está habituado, mas sim por tocar em temas um pouco mais relevantes do que este tipo de filme propõe. Estamos falando de problemas reais do povo brasileiro: hospitais lotados, o estado crítico da política nacional, o cotidiano de pessoas humildes e o melhor do filme, a sátira ao estilo de vida vazio que os ricaços levam; como em certo momento Selminha diz, "estão sem nada para fazer e fazem coisas de entretenimento para parecer que estão fazendo alguma coisa". Tem alguns problemas técnicos sérios como cenários mal feitos e certos cortes estranhos - em determinado momento, a música sobe e há um corte seco para outra cena, transição indelicada e que nos tira do filme -, mas os atores são carismáticos e seguram a barra nesse filme que propõe um monte de coisa, mas não desenvolve nada. É engraçado e no tom correto por causa do exagero para conflitar com a realidade, mas parece ter tido dificuldades com um orçamento limitado, o que é irônico perante o tema, mas que prova que dá para levar bem a vida com menos.



Sexta, dia 16
A Dama de Shanghai
Dir: Orson Welles
1947

Com sua classe de sempre, Welles faz um noir dos mais clássicos: homem não tão heroico que entra meio que sem querer na situação, uma femme fatale que fará com que ele faça, conscientemente, besteiras para ficar próximo a ela, narração em off para compartilhar pensamentos com o público, um climão inigualável do gênero com imagens fantásticas de cidades escurecidas e reviravoltas para dar e vender. A trama não é tão previsível quanto parece e passa muito tempo construindo os seus personagens no primeiro ato, para no segundo acontecer a ação e no terceiro a conclusão da história. Pode parecer caricato, certinho demais, mas estamos falando de Welles e do seu modo de construir cinema. Rita Hayworth corta o cabelo e o pinta para deixar de ser aquela poderosíssima que todos haviam acabado de ver em Gilda, e o próprio Welles dá a Michael O'Hara um ar sóbrio, mas ao mesmo tempo perdido naquela aventura previamente condenada desde a narração inicial. É um filmaço que se dá o direito de se reinventar umas duas ou três vezes dentro da mesma narrativa sem perder a pose. São poucos que conseguem isso.



Sábado, dia 17
Pets - A Vida Secreta dos Bichos
Dir: Yarrow Cheney, Chris Renaud
2016

Você já viu esse filme pelo menos umas duas ou três vezes. É uma colcha de retalhos de outras animações, a começar pela sinopse chupinhada de Toy Story, mas com caninos: Max é o queridinho da sua dona, mas com a chegada de Duke, recém adotado e fazendo um claro papel de irmão mais novo, vê sua soberania com Katie ser ameaçada. O conflito entre eles faz com que ambos acabem se perdendo e uma aventura comece, com os amigos tentando encontrá-los e os dois voltando para casa. É um filme muito bonito, principalmente na parte técnica esplendorosa e no modo simpático como cada animal foi detalhado nos seus pequenos modos de ser, o que causa uma simpatia enorme por cada um deles instantaneamente, mas no geral é um filme bem morno e que quase nunca empolga, com uma New York que poderia ser muito mais explorada como personagem e vilões que nunca convencem. Apesar disso, essa enorme simpatia faz com que eu sinta vontade de revisitar essa Nova York com um submundo animal para ser explorado de forma decente em possíveis continuações.



Domingo, dia 18
Código Para o Inferno
Dir: Harold Becker
1998

O princípio é absurdo: membros da divisão de Segurança Nacional dos EUA decidem colocar em uma revista de quebra-cabeças um código bilionário desenvolvido para proteger agentes infiltrados e um garoto de apenas 9 anos consegue quebrá-lo, o que deveria ser impossível. A solução dos gênios? Matar a todos para que o investimento não seja desperdiçado antes que se torne um caso público. É um típico filme filho dos anos 90: para tornar a ação atual, mais atrativa, enche-se de tecnologia hoje datada, de quando a informática ainda caminhava no popular com computadores gigantes e telefones de bolso. Ações improváveis tornam-se soluções engenhosas de roteiros exibicionistas, o que dá um certo charme a um filme que antes era ruim, mas que hoje soa simpático pela inocência de sua visão. Ver Bruce Willis matar sem piedade e escapar de situações impossíveis sempre é divertido, mesmo em condições tão adversas e com um 'vilão' tão incompetente perseguindo-o.



Segunda, dia 19
Jules e Jim - Uma Mulher para Dois
Dir: François Truffaut
1962

Sem dúvida é um filme importante não só por representar de vez a liberdade - de escolha, de ações, de vontade própria, amorosa - da mulher, mas também por refletir a vida com suas indecisões, ações e reações, e, mais profundo ainda, sobre o que é a felicidade. Catherine é uma mulher poderosa, que ao mesmo tempo pode tudo e não tem nada; e isso é triste pra caralho. Some isso a um Truffaut inspiradíssimo para criar belíssimos planos que dialogam também com os sentimentos dos personagens, ajudando o público a compreender mais com menos palavras e uma fotografia espetacular, e temos um dos filmes mais icônicos dos anos 60, ainda que se afaste bastante das convencionalidades da Nouvelle Vague que tanto marcou o cinema francês daquele período. A cena onde os três apostam corrida é apenas um dos grandes momentos em que Jules e Jim compartilharam a mesma mulher que tanto amaram.

Terça, dia 20
Missão Madrinha de Casamento
Dir: Paul Feig
2011

Quarta, dia 21
O Bom Gigante Amigo
Dir: Steven Spielberg
2016

Comentários (20)

Wellington R. Cassarotti | segunda-feira, 12 de Junho de 2017 - 19:33

Excelente ideia. E, uma coincidência com datas. Terça, dia 6 foi assistido um filme de 1973. Eu nasci em 06/06/1973! O que isso significa? NADA! Somente que O Estranho Sem Nome é um filmaço! Abraços!

Paulo Faria Esteves | terça-feira, 13 de Junho de 2017 - 21:49

Gostei muito da ideia, nem acredito que nem vi a brincadeira até agora.😋 Vou estar de olho...😉

Phellipe Araujo | sábado, 24 de Junho de 2017 - 00:31

acho que o post deveria permanecer em evidencia na pagina inicial do site.

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